#Carnaval: PMMG tenta proibir manifestações políticas em Belo Horizonte e o tiro saiu pela culatra

março 04, 2019

Desfile do bloco "Baiana Ozadas", em BH. Foto: Élcio Paraíso / Reprodução. 

Será que corremos o risco de voltar a ter uma Ditadura? É que na noite da última sexta-feira (01/03), o bloco Tchanzinho Zona Norte, em Belo Horizonte (MG) foi proibido pela Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) de fazer qualquer tipo manifestação política, sob a justificativa de que poderia "levar a um problema sério no controle de massas". A tentativa de censura se deu porque alguns policiais ficaram incomodados com as manifestações pró-Lula e as contra o presidente Jair Bolsonaro (PSL), considerando-as “chula e violentas”.

A ideia inicial da PMMG era proibir qualquer manifestação política nos bloquinhos de carnaval sob a prerrogativa de desacato à autoridade e, assim, levar preso os envolvidos por incitar os foliões, caso não obedecessem a norma. A arbitrariedade gerou inúmeros protestos não só em BH, mas em todo Brasil. Isso só mostra que, mais uma vez, há uma tentativa de impor pelo Poder uma única visão política, mesmo que o argumento inicial seja de “não incitar um levante popular”. Não colou. O tiro saiu pela culatra. 

No dia seguinte, o Ministério Público Federal e o Estadual, ao lado das defensorias públicas da União e de Minas Gerais, recomendaram à Polícia Militar mineira que não proíbam manifestações políticas no carnaval em Belo Horizonte, uma vez que tal atitude viola Convenção Americana de Direitos Humanos, a Declaração Universal dos Direitos Humanos e a Constituição do Brasil, que afirmam o seguinte: "toda pessoa tem direito a liberdade de pensamento e de expressão e de receber e difundir informações e ideias de toda natureza". Abaixo, assista aos vídeos da manifestação nos blocos de BH:
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O episódio serviu para nos alertar do quanto a nossa democracia está vivendo um período frágil, sobretudo quando a PMMG (e algumas autoridades do Poder Público) entendem que a censura é a forma mais adequada de controle (e doutrinação). 

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Não demorou muito para que o episódio ganhasse as redes sociais e viralizasse. Vários outros blocos de BH não só passaram a entonar o grito de “Ei, Bolsonaro vai tomar no C*”, como a frase ficou entre os assuntos mais comentados na web. Pelo Brasil, milhares de paródias de marchinhas de carnaval contra Bolsonaro foram entonadas e ganharam às ruas.


Como o colunista Tony Goes, da Folha de S. Paulo, bem lembrou, não é a primeira vez que um presidente ouviu do público um “tomar naquele lugar”. Dilma já havia passado por essa experiência na Copa das Confederações, em 2013, e o episódio desencadeou uma série de manifestações e reviravoltas políticas que culminaram no golpe travestido de impeachment. Diante disso, é bom Bolsonaro ficar ligado porque ele não tem esse índice tão alto de aceitação popular quanto parece (ou acredita).
Foliões fantasiados de "laranja" no bloco "Unidos da Estrela da Morte", em BH. Foto: Julia Lanari / Reprodução. 

Todas essas manifestações contra o seu início de gestão são uma prova de que há muitas pessoas descontentes com o rumo do governo. Se na campanha eleitoral o grito era para acabar com a corrupção e os privilégios da “velha política”, Bolsonaro não cumpriu nada disso e acabou por seguir a mesma cartilha (tradicional e liberal) e com um adendo: tem feito o Brasil passar vergonha internacional, seja pelos escândalos políticos, seja por apoiar Donald Trump na tentativa de tumultuar a vida política da Venezuela, um dos maiores fabricantes de petróleo na América Latina.

Sem contar que Bolsonaro tem se desgastado politicamente ao propor uma agenda política de perda de direitos sociais adquiridos, como a carteira de trabalho e a aposentadoria que podem afetar seriamente a população brasileira nas próximas décadas, como aconteceu no Chile nas décadas passadas. O grito de carnaval contra o presidente é um escape emocional popular importante que já sinaliza que a lua de mel entre o eleitorado e o mito pode estar acabando. 

Se nas eleições, a polarização política já tomou conta das rodas de conversa, imagina agora no Carnaval onde os dois primeiros meses da gestão Bolsonaro já se mostrou cheia de escândalos de corrupção envolvendo “laranjas”, indícios de envolvimento com a milícia carioca e a nomeação de pessoas despreparadas para Ministérios e cargos do 1º escalão, sem critérios técnicos e, em alguns casos, sem diploma.
Foliã do bloco "Sagrada Profana", em BH. Foto: Julia Lanari / Reprodução. 

Historicamente,  o carnaval de Belo Horizonte sempre teve um lado político bastante acentuado. Quem não se lembra da marchinha do pó Royal – em alusão ao ex-governador mineiro Aécio Neves? Não adianta querer proibir: aos poucos, boa parte das pessoas que votaram no capitão da reserva já estão começando a ver que ele foi um desses erros que a gente comete em nome da decepção com rumos políticos do Brasil, achando que comprou uma novidade, quando na verdade levou "seis por meia dúzia". Não dá mais para deixarmos a democracia em risco. Nossas vidas estão em jogo! Ainda bem que o carnaval, mesmo em tom de brincadeira, consegue provocar esse tipo de reflexão.

Em tempo

Se até uma década atrás a capital mineira ficava inteiramente deserta nesta época do ano, agora a situação é completamente: mais de 5 milhões de pessoas estão marcando presença nas ruas da cidade, participando de diversos bloquinhos. Um crescimento significativo na economia local que aqueceu não só o comércio, mas sobretudo a rede hoteleira. 

Com isso, Belo Horizonte têm ganhado destaque nacional por conta do crescimento do seu carnaval que se tornou um dos principais destinos nacionais de quem curte o bom e velho “carnaval de rua”.







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