Professor usa música de Valesca Popozuda para provocar debate filosófico na imprensa
abril 13, 2014Foto: Divulgação. |
A funkeira Valesca Popozuda ganhou na
última semana o título de “grande pensadora contemporânea” numa questão de uma
prova de filosofia do ensino médio, de uma escola pública em Brasília-DF. O
autor do enunciado é o professor de filosofia Antônio Kubitschek. A questão da
prova dele virou meme nas redes sociais e, consequentemente, chamou a
atenção da imprensa.
O fato é que a filosofia nasceu com o
objetivo de provocar. Instigar as pessoas a discutirem e a pensarem algo sobre
um determinado tema ou assunto. Neste ponto, o professor Antônio foi
provocador: colocou um debate filosófico nos noticiários e ainda por cima
criticou a imprensa que só se preocupa com a tragédia, a denúncia e o
espetáculo.
Em entrevista a Rádio
Band News FM, o professor argumentou com o jornalista Ricardo Boechat que
Valesca Popozuda poderia ser sim uma pensadora contemporânea, uma vez
que ela desenvolveu um conceito baseado numa observação social e o repassou por
meio da música. Do outro lado, a funkeira agradeceu o título dado pelo
professor, mas
disse que não está preparada para isso. Foi elegante e acolhedora na
resposta.
Mas, nem tudo são flores. Como bem
lembrou a jornalista
Rosana Hermann, Valesca só poderia ser uma “pensadora contemporânea” se ela
fosse a autora da canção “Beijinho no Ombro”. A música possui três
autores, mas o público vê em Valesca a porta-voz desse conceito. Aliás, o hit reúne
várias expressões já utilizadas no meio LGBT e das comunidades carentes no
Brasil.
“Beijinho no Ombro” é do Brasil, como
lembrou um internauta à Rosana. Todo mundo já usava a expressão. Nesse sentido
pode até ser mesmo. Independente disso, a música traz sim um conceito, assim
como as letras de funk, rap e hip-hop que narram o dia-dia da favela, da
criminalidade, da sexualidade e, mais recentemente, da autoestima dos moradores
dessas comunidades com o funk ostentação.
Foto: Reprodução. |
Na questão, o professor de filosofia Antônio
Kubitschek escreveu Valesca com W. Não sei se foi de propósito ou se ele
realmente não sabia que o nome da cantora é com V mesmo, bem “brasileiro”. O
que importa é que sim, o professor Antônio cumpriu o seu papel de educador ao
mostrar para os seus alunos que o debate filosófico pode estar também nos
livros, na sala de aula, no funk, nas músicas, nas quebradas, nas conversas, na
mídia, ou seja, em qualquer lugar.
Educar é mais do que ensinar o que
pensa (e escreveu) determinados autores e pensadores. É mostrar para os alunos
que os conceitos que já foram discutidos de forma universal e os conceitos
contemporâneos da sociedade podem sim dialogar de forma convergente ou
divergente.
Se a filosofia é a ciência que nos incita
ao debate, aos questionamentos e as provocações, o professor Antônio cumpriu o
seu papel. Foi além dos livros e das paredes da sala de aula. Trouxe a
filosofia para os noticiários e ainda cutucou a mídia. Quem dera que os outros
professores também fossem ousados assim.
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Jornalista
2 comentários
Realmente, para cada fato podem existir vários pontos de vista. Mas será que o professor realmente conseguiu alcançar o objetivo com seus alunos? As pessoas costumam analisar a maioria das coisas que acontecem de forma muito simplista, por isso nem sempre o que se coloca tem garantia de uma boa interpretação. Quanto à estratégia utilizada pelo professor, particularmente achei muito bacana: ele ousou e provocou uma reflexão. Valeu, Wander...
ResponderExcluirOi, Vivi! Obrigado pelo comentário. O que acredito desta história toda é que os alunos nunca mais vão ver a filosofia do mesmo jeito. E esse é um dos muitos papeis que um professor assume: de instigar e provocar reflexão. Beijos
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