#NãoVaiTerGolpe: Tensões políticas sob o olhar da análise do discurso

março 19, 2016

Foto: Oswaldo Corneti/ Fotos Públicas. 

Muita calma nesta hora! Nem tudo é o que parece. A frase até pode ser muito batida, mas é a melhor pedida neste momento de exaltação política que o Brasil vive atualmente. Claro que é legítimo as pessoas irem às ruas protestar contra a corrupção, contra a tentativa de golpe político-midiático e, principalmente, por um país melhor.

Mas o problema está quando este protesto omite intenções claras de deturpar o real motivo da corrupção no país, de querer colocar a culpa de tudo em um único partido, de assumir um discurso de ódio, numa tentativa de assassinato de caráter e de ideologia para uma luta a qualquer custo pelo poder.

Sei o quanto é complexo falar em análise do discurso em momento como esse. Existem pessoas que estudam anos esta vertente, e mesmo assim estão construindo argumentos para entender e compreender o quão significativo é empregar um discurso na mídia e reforça-lo diariamente. Mas, de modo simplista, queria fazer um convite para que todos – tanto direita, quanto esquerda, oposição ou situação, pensassem sobre o discurso que carregamos e levamos para as nossas redes sociais, para as conversas com familiares e amigos. Vale a pena levar tanto ódio adiante?

Não quero convencer ninguém mudar de posição política. Mas quero que reflitam sobre o projeto político que a extrema direita está querendo dissuadir e, principalmente, persuadir. O mundo mudou, mas parece que ainda tem gente presa há dois mil anos atrás. Me preocupa ver algumas pessoas se utilizando de modo oportunista e cruel, símbolos e xingamentos gratuitos, como se ninguém pudesse pensar diferente.

Gente que acha um absurdo a consolidação de políticas sociais que promovam a inclusão de pessoas no mundo acadêmico e no mercado de trabalho. Gente que quer marginalizar o crescimento social, o trabalho do direitos humanos e promover a segregação por meio de um discurso preconceituoso ancorado, muitas vezes, na religião, no racismo e na indiferença.

Protestar contra a corrupção, sempre. Apoiar a direita no discurso de ódio que divide o Brasil de forma polarizada e agressiva, jamais! Não creio que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff vai acabar com a corrupção no Brasil. Pelo contrário, se acontecer, vai reforçar o golpe político-midiático de querer passar a ideia de que só o PT está envolvido com corrupção.
Foto: Paulo Pinto / Agencia PT. 

E todo mundo sabe que não é bem assim: Aécio Neves foi citado cinco vezes na Lava-Jato, deixou um caos nas contas públicas do Governo de Minas Gerais e a imprensa não dá a mesma dimensão ao caso, como deu no depoimento coercitivo de Lula à Polícia Federal, ou quando o Judiciário impediu que ele se tornasse ministro da Casa Civil – numa jogada política arriscada, mas que sinaliza uma tentativa de caminho em meio ao caos dos três poderes brasileiros. É assustador! Será que o Brasil sobrevive a outro golpe político?

Independente disso, já passou da hora do país colocar em pauta novamente a discussão sobre a democratização da mídia e da criação de um órgão que regulasse, fiscalizasse, capacitasse e/ou punisse os veículos de comunicação (e os profissionais de comunicação) que não tivessem responsabilidade e compromisso social. Do jeito que está não dá mais. O que o Jornal Nacional fez, recentemente, deveria render, no mínimo, um processo de perda de concessão de TV à Rede Globo.

  • "Quando uma gravação de escuta telefônica de uma conversa entre Dilma e Lula vazou essa semana, o programa jornalístico mais influente da Globo, o Jornal Nacional, fez seus âncoras relerem teatralmente o diálogo, de forma tão melodramática e em tom de fofoca, que se parecia literalmente com uma novela, muito distante de um jornal, e foram ridicularizados nas redes por isso". (Trecho do artigo escrito por Glenn Greenwald, jornalista britânico e correspondente no Brasil pelo The Intercept).

O Brasil não tem uma imprensa nacional de porte. É sempre o discurso do eixo Rio-São Paulo para os outros estados. O Brasil não tem um jornalismo nacional isento [na mídia tradicional] e que defende os interesses da população. A imprensa se transformou em munição para uma vertente ideológica neoliberal se impor como agenda social. Triste isso. E, diante de tanta irresponsabilidade, a imprensa está sendo usada para fins econômicos e políticos. Quando será que os jornalistas serão protagonistas da sua própria profissão?

Será que teremos que passar por mais uma tentativa de golpe para entender isso? O Brasil tem uma democracia estabilizada tão recente – são um pouco mais de 30 anos, que ainda precisa amadurecer muito para entender qual é o papel do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Nem tudo é culpa da Dilma ou do Lula. É culpa minha. É culpa sua. Em algum momento da nossa história recente, acomodamos. O Gigante precisa acordar. Somos Todos Brasileiros.





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Jornalista

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