Boicote à novela "Babilônia" mostra intolerância de parte do público
março 21, 2015
Em meio à ressaca pelo final de Império, da Rede Globo, chamou a
atenção, nesta semana, o boicote
promovido por grupos conservadores e religiosos à estreia de Babilônia. Tudo se deve ao beijo gay
protagonizado pelas atrizes veteranas Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg,
que formam um casal homossexual com um núcleo familiar sólido e respeitado.
Além disso, boa parte do público não
conseguiu entender o título do folhetim escrito por Gilberto Braga, Ricardo
Linhares e João Ximenes Braga. Babilônia
é a capital da Suméria, na antiga Mesopotâmia, que atualmente é o Iraque. O
termo significa "grande confusão", símbolo de perversão e abominação –
o que, inclusive,
aparece na Bíblia cristã desta maneira.
Por mostrar personagens que entram em
conflito por disputa de ego, poder e ganância, sem o menor pingo de ética, os
autores optaram pela escolha desse nome bíblico para a novela. Há quem diga
também que a Babilônia é uma
homenagem dos autores ao Morro da Babilônia,
no Rio de Janeiro, cenário da trama global.
Dinâmica e mostrando logo de cara o embate
de duas vilãs que prometem movimentar todo o folhetim, Babilônia viu a sua audiência despencar
no decorrer da semana. Se na estreia marcou 33 pontos de audiência, no decorrer
da semana chegou
a marcar 20 pontos em alguns momentos. Mesmo índice de uma novela na
faixa das 18h. Com isso, o sinal amarelo tocou na direção da Rede Globo.
Principal concorrente de Babilônia no horário das 21h, a reprise
da novela Carrossel – que por sinal
estreou no mesmo dia de Babilônia, obteve
uma ótima audiência para o SBT entre 13 e 15 pontos de audiência. Estrategicamente,
foi avaliado que houve fuga de telespectadores da Vênus Platinada. Muitos
deles, frustrados com o final de Império
e com excesso de violência do folhetim global.
Atento, o SBT começou a fazer uma
campanha nos intervalos comerciais dizendo que a dobradinha de novelas infantis
– Chiquititas e Carrossel, são
“uma novela para a família”, muito na onda do conservadorismo da
campanha de boicote que está rolando nas redes sociais em relação à Babilônia, inclusive estimulada
por deputados famosos por sua intolerância.
Fotos: TV Globo / Reprodução. |
Em entrevista
ao jornalista Daniel Castro, do site Notícias da TV, o autor Ricardo
Linhares disse que a novela reflete o cotidiano do outro lado da telinha. "Determinados grupos religiosos querem
reduzir o conceito de família, na contramão da pluralidade contemporânea. O
Brasil é um país laico. E os fundamentalistas religiosos não podem impingir
suas idiossincrasias aos outros. Basta olhar ao redor para ver que inciativas
reacionárias, como o Estatuto da Família, não correspondem à realidade. O mundo
mudou", esclarece.
Se o boicote está ou não funcionando,
a Rede Globo ficou preocupada com a mobilização gerada refletir diretamente na
audiência da primeira semana da sua principal faixa de novelas. Babilônia não é uma novela ruim, mas
ainda não criou identificação no público e ratifica que o horário das 21h está
em queda de audiência.
Mesmo carismática, Império só conseguiu marcar 44 pontos
no último capítulo e teve uma média de 31 pontos. Historicamente, as novelas
desta faixa sempre permaneceram com facilidade na casa dos 40 pontos, chegando
a marcar mais de 50 na reta final. A fuga de telespectadores também é explicada
por outro motivo: hoje em dia, as pessoas têm mais opções de entretenimento,
não só na TV Paga, como também na internet.
Para colocar ainda mais lenha na
fogueira na discussão religiosa, a Rede Record estreia na próxima segunda-feira
(23/03), às 20h30, a novela Os Dez
Mandamentos, considerada
a “primeira novela bíblica da TV brasileira”. A empreitada que tem a
missão de recuperar a audiência das novelas da emissora de Edir Macedo será
decisiva para ver como o publico está se comportando diante desta questão.
O duro é constatar que, se por um
lado avançamos tanto na questão do debate em relação à homofobia, a misoginia,
ao racismo, ao preconceito e a violência de modo geral, do outro vemos grupos
religiosos e conservadores tentando impor um comportamento pejorativamente
considerado “errado” de forma agressiva e intolerante.
No fritar dos ovos, será muito triste
perceber que uma novela poderá (ou não) ser modificada por conta da
intolerância às personagens homossexuais. Se for assim, precisaremos rever os
nossos conceitos com menos hipocrisia. O mundo é diverso...e é preciso
respeitar quem não pensa e age da mesma maneira que você.
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