Livro propõe debate sobre as manifestações de Junho de 2013

junho 03, 2014



Em junho de 2013, milhares de pessoas foram as ruas protestar por um país melhor. Isso ocorreu durante os jogos da Copa das Confederações, evento esportivo que antecede a Copa do Mundo de 2014. O que começou como uma revolta contra o aumento das passagens de ônibus se transformou num grito por mais transparência e justiça na coisa pública, passando pela educação, pela saúde, pela Reforma Política e, sobretudo, questionando a viabilidade do evento esportivo.

Para ampliar o debate em torno deste momento da nossa história recente, a Editora Liga acaba de lançar o livro “Não é por centavos. Um retrato das manifestações no Brasil”. A obra reúne artigos escritos por especialistas de variados meios, com diferentes visões sobre as manifestações que, no ano passado, surpreenderam o país. Para falar mais sobre o livro, o Café com Notícias conversou com a jornalista e editora Amanda Alves, 31 anos, organizadora da publicação. Acompanhe:

1) Primeiramente, como surgiu a ideia do livro "Não é por centavos. Um retrato das manifestações no Brasil" e como foi processo de criação?

A ideia deste livro surgiu da vontade da Editora Liga de realizar uma obra colaborativa onde diferentes pessoas poderiam escrever a respeito de temas atuais da nossa sociedade. Como o tema era muito pertinente logo se formulou algo mais concreto onde convidamos algumas pessoas ligadas a esse assunto, para que pudessem falar sobre o mesmo.

O resultado foi muito positivo, onde conseguimos unir, em uma mesma obra, diferentes pontos de vista sobre um tema tão polêmico, de forma harmoniosa, dinâmica e muito produtiva no seu resultado final, onde o objetivo não eram conclusões mas exposições e discussões sobre as manifestações no nosso país.

2) Na sua avaliação, o que se deve a comoção e participação popular das manifestações de Junho? Será que a violência foi uma forma para tirar a legitimidade das manifestações?

Acredito muito na união e no poder da população quando se une por um ideal maior ao individualismo, julgo que o começo das manifestações foi muito positivo mas que, com o evoluir da situação, o foco foi se perdendo.

Passou a ser uma união de diversas reclamações sem um foco e uma união comum de todos. As cenas de vandalismo que se seguiram às manifestações também ajudaram a afastar pessoas que realmente tinham o interesse de manifestar suas opiniões enquanto cidadãos insatisfeitos com a corrupção e os problemas do país.

Mas a questão das manifestações é muito polêmica e gera uma diversidade enorme de opiniões e pontos de vista, com a grande influência da mídia e de grupos que geram opinião. Muito teria a ser falado sobre esta questão.

3) Estamos próximos a completar um ano das manifestações históricas de junho de 2013. O que mudou de lá para cá?

Penso que mudou o perfil das manifestações e também a sua dimensão. As manifestações de junho foram fortes, com um cariz positivo e vontade de mudança sem deixar de amar o país, mas pedindo um governo melhor e uma sociedade mais igualitária e justa. 

As pessoas se uniram por si mesmas, cada qual com seu ideal, sem restrições. De lá para cá vemos uma infinidade de manifestações menores, com uma diversidade enorme de reclamações, greves e insatisfações. Isso à mistura com vandalismo, problemas com a validade dessas manifestações e que perderam, a meu ver, a grandiosidade e validade em relação ao que ocorreu em junho de 2013.

4) Falta pouco para o inicio da Copa do Mundo no Brasil. Será que teremos grandes manifestações como aconteceu em junho de 2013?

Julgo que existirão manifestações pontuais, mas não de grande porte como ocorreu em junho de 2013, já que o Brasil é um povo ainda muito patriota, amante do futebol. Contudo, penso que irão surgir diversas manifestações em menor número em frente dos estádios ou na passagem da seleção.

5) As manifestações de junho de 2013 tinham vários gritos, de mobilidade urbana, educação, saúde e até mesmo a tão sonhada Reforma Política. Na sua opinião, qual foi o impacto que isso causou na vida pública e, principalmente, nos políticos?

Infelizmente, apesar de acreditar na essência da política, enquanto ciência humana, não acredito na política do Brasil, em função do sistema deformado a que o Brasil se entregou. Existe um grande sistema de corrupção com uma teia muito complexa e de difícil desmembramento. 

Mesmo que existam alguns políticos que busquem a política com valores éticos e humanos, se esbarram nesse sistema intrincado e profundo de corrupção que impede o desenvolvimento do nosso país. Existem muitos interesses envolvidos onde muitos ganham e poucos se preocupam com aqueles que perdem.

Acho que é necessário, acima de tudo, uma grande mudança de mentalidades, uma reformulação social de valores éticos, morais e sociais para que o Brasil forme brasileiros, que serão futuros políticos, mais conscientes e com uma moral mais forte e fundamentada.

6) Para finalizar, você acredita que as manifestações de Junho do ano passado são um passo importante para a consolidação da democracia no Brasil? A revolução já começou ou ainda temos muito o que caminhar?

Penso que todos os passos são fundamentais para a democracia embora acredite que ainda estamos muito longe de uma verdadeira revolução. A população ainda precisa acreditar mais nos seus valores e nos seus interesses para o país. 

Para que haja uma verdadeira revolução é necessário que exista, antes de mais, uma revolução de mentalidades por parte de todos os brasileiros, que se crie uma maior conscientização do que realmente é importante para o nosso país e que, através de nossas atitudes diárias, possamos mudar as nossas realidades para, assim, podermos mudar nosso governo.

Existe uma frase clichê que diz que cada sociedade tem o governo que merece. O que acredito é que nós permitimos, durante muito tempo a corrupção, a falta de ética e de valores morais de nossos governantes. Muitas vezes criticamos governadores e, em ano de eleições, eles voltaram a ser eleitos. Muitos ainda não se conscientizaram do poder do voto, tão suado para ser conquistado por nossos antepassados.

Temos que criar uma revolução mental primeiramente para, só depois, conseguirmos nos unir verdadeiramente por um país mais justo. Temos tudo em nossas mãos, mas ainda temos muito a caminhar, aliás, a resgatar...





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Jornalista

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