Por que querem calar Rachel Sheherazade?

abril 17, 2014

Foto: SBT / Reprodução.


“Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei até o ultimo instante seu direito de dizê-la". A frase é do filósofo iluminista francês Voltaire e cabe perfeitamente nos últimos fatos envolvendo a jornalista Rachel Sheherazade: ela foi proibida de fazer editoriais no SBT Brasil.

Afastada por alguns dias de férias da bancada do noticiário por conta dos seus polêmicos editoriais, a direção de jornalismo da emissora de Silvio Santos se viu pressionada pela verba publicitária do Governo Federal e de alguns grupos políticos/sociais que queriam que Raquel parasse de falar o que pensa. Conseguiram calar a fera. E isso é uma pena.

Uma pena – não por concordar integralmente com o que Raquel pense, mas porque infelizmente estamos sendo coniventes com a censura. Quando um jornalista, um comunicador ou qualquer outro formador de opinião festeja uma situação desta, está sendo conivente com a falta de liberdade de expressão. E, mais uma vez, abrindo um precedente perigoso em nome do politicamente correto.

Vamos ser práticos: o que é ter uma opinião? É cada um manifestar aquilo que pensa. E, dentro do jornalismo, cabe sim o jornalismo opinativo. Ainda mais no telejornalismo que está cada vez mais pasteurizado e chapa branca. É interessante existir o outro lado. Faz bem para o debate existir opiniões diferentes e que nos incite a pensar, a ir contra ou a favor.

Retomando a frase célebre de Voltaire, não concordo com muitas das opiniões emitidas por Rachel Sheherazade, mas defendo o direito dela de se expressar. Afinal, vivemos numa democracia. Como grande parte dos brasileiros, achei pesado o que ela falou sobre “amarrar alguém em um poste como justiceiros”. Mas, nem por isso, posso exigir que ela se cale.

O que posso – como telespectador e colega de profissão, é participar deste debate e ser um ponto divergente. Afinal, no debate, uma opinião que você tem no início, pode mudar depois que você se depara com outros argumentos. Sejamos sinceros: o que a Raquel fala em seus editoriais não é muito diferente do senso comum e do juízo de valor de muitos âncoras de telejornais popularescos/policiais que vimos em outras emissoras da TV aberta.

Além disso, Raquel representa uma parte da população. E isso pode ser percebido pelo sucesso que os vídeos de editoriais dela fazem no YouTube com legendas em vários idiomas, inclusive. Raquel não é a única que pensa assim. Mas, infelizmente, se tornou a “geni” do telejornalismo.

Por que querem calar Rachel Sheherazade? Por que ela é mulher, nordestina, tem uma opinião política completamente contra o governo atual e é uma jornalista do SBT? Sério, gostaria de entender isso. A Ditadura Militar acabou, mas parece que alguns setores ainda sentem um prazer quase sexual de censurar gente que pensa diferente.

Como jornalista, estou cansado de ver notícias de colegas perdendo emprego ou serem subjugados por outros colegas só porque pensa diferente. Gente, ninguém pensa igual ao outro. Tudo bem ser diferente. Sem contar que todos nós temos o direito de errar. De voltar atrás, se desculpar e seguir adiante. O buraco é muito mais embaixo do que “adotar um bandido ou uma jornalista”. Chega de censura velada!





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Jornalista

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5 comentários

  1. Nossa Wander, adorei o seu texto, embora me preocupe muito com o que se diz em torno da liberdade de expressão. Também não concordo com o cala boca, mas sou menos a favor ainda do falar por falar, só porque o povo quer ouvir. Esse debate precisa urgentemente ser aquecido.
    Os limites entre a liberdade de expressão e emitir opinião são muito tênues. E essa censura põe, definitivamente em xeque a postura "ética" dos veículos de comunicação.

    Grande abraço,

    Zilda Assis
    www.porquegenteeassim.blogspot.com.br

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    1. Oi Zilda! Obrigado pelo seu comentário. E espero que mais jornalistas, blogueiros e formadores de opinião toquem nesse assunto. A liberdade de expressão também cabe o ponto divergente, o erro e o acerto. É um preço a se pagar para que o debate seja plural e inclusivo. É bem melhor debater do que ser "calado" por pressões externas. Um forte abraço.

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  2. Há muito tempo escrevia em meu blog sobre o fenômeno "Sheherazade", sobre a ideia de opinião dentro do jornalismo de massa. Acreditava que seria uma esperança em frente ao panorama da comunicação, mas depois acabei perdendo a esperança por questões de postura. O meu problema com a Sheherazade - além dos 99% do que ela fala com o qual eu não concordo mesmo e que não importa por ser simplesmente divergência de opinião - é o que o SBT faz. Sim, é jornalismo opinativo, mas é o fato de a emissora simplesmente usar a disposição dela de dar a cara a tapa para simplesmente dar o palco mas sem o amparo daquilo ser uma opinião da emissora, mas sim dela. A TV não é como um jornal onde você faz uma coluna e há um aviso sobre o fato de a opinião do colunista não representar o veículo.

    Acho a jornalista preconceituosa e tremendamente imatura. Acho válido que ela seja investigada no que toca a incentivo a violência, se houve ou não. Não acho injusto que os investidores pensem mil vezes antes de colocar dinheiro em uma empresa cuja vitrine jornalistica faça algo que possa ser considerado apologia. Porém é censura o que estão fazendo agora ao restringir. Afinal uma coisa é censura (o que está acontecendo agora com restrição do espaço) com isenção de consequência (o que muita gente confunde.). Ela mesma não está preparada para refletir e arcar com o que ela diz (ainda acho absurdo alguém cursar humanas e sair da faculdade com esse tipo de mentalidade, de qualquer modo), bem como o SBT não tem a mínima noção de como encarar o jornalismo sério sem vê-lo como uma forma de audiência e entretenimento. É um tal de erro que se torna bem dificil ver onde começar a analisar e resolver. Será que um dia esse panorama de comunicação pode mudar e sair dese balaio de gato?

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    1. Oi Manu! Obrigado pelo seu comentário. Também não concordo com muitas das opiniões da Raquel Sheherazade. Mas, pelo perfil que o SBT adotou tendo ela como âncora no principal noticiário da casa, é permitido que ela se expresse diante das notícias. Se é com imaturidade, preconceito, juízo de valor e muito senso comum, o espaço democrático nos permite que haja debate e que ela possa voltar atrás ou não na sua conduta.

      Me preocupa muita essa postura de querer calar por "pressões externas". E isso não é só com a Raquel: é no jornalismo esportivo, no jornalismo político, no jornalismo policial, no jornalismo de entretenimento, enfim, chegou num nível absurdamente censor e algoz. E isso é muito perigoso para a imprensa e, principalmente, para a sociedade.

      Espero que esse panorama mude. Mas isso vai demorar. Para conseguirmos exercer de fato a democracia e a liberdade de expressão, nós como povo e parte da sociedade, precisaremos investir em arcabouço intelectual e no respeito, coisa que está intimamente ligada a educação. E enquanto a sociedade não tomar para si o direito de ter uma educação de qualidade, vamos viver nesses joguetes. Um forte abraço.

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