Nicole Bahls, Gerald Thomas e misoginia: ainda há algo a ser dito!

abril 13, 2013

        Foto: Site RD1 / Reprodução.


Visivelmente sem graça e rindo de nervosismo, a jornalista e modelo Nicole Bahls se viu numa situação constrangedora esta semana, logo após retornar à trupe de humoristas do Pânico na Band. Durante o lançamento do livro Arranhando a Superfície, do diretor teatral e cineasta Gerald Thomas, no Rio de Janeiro, o escritor enfiou a mão dentro do vestido dela, logo após o início da entrevista. Mesmo constrangida, Nicole se segurou em frente às câmeras e entrou na “brincadeira” de Gerald que, inclusive, falou grosserias à atriz Paula Burlamarqui, tascando um beijo na boca dela.

Muita gente viu e ficou horrorizado. Para Gerald, tudo é uma grande brincadeira. Logo que a notícia se espalhou nas redes sociais foi aquele alvoroço. Todo mundo ficou chocado com a grosseria do diretor que não tinha nada de engraçado. Assédio sexual e moral é crime. Mas, para ele, a culpa disso acontecer é da mulher, e não do agressor. E, ainda por cima, o que ele fez não é errado. Faz parte do jogo cênico de intimidação e humor proposto pela Turma do Pânico. Pão e circo na tenda eletrônica.

"Meti a mão na menina. E tudo termina nos panos quentes, CPI que acaba em pizza, como todas as coisas no Brasil, esse paisinho de quarto mundo, Corsa que quer ser Mercedes. (...) faço a olho nu, na frente dos fotógrafos, das câmeras, das luzes, o que esse bando de carecas e pseudomoralistas gostaria de estar fazendo atrás de portas fechadas, com as luzes apagadas!", disse Gerald em reportagem publicada no jornal O Globo.

Mesmo sendo uma pessoa estudada e com ampla bagagem cultural, o que Gerald Thomas esquece é que a Misoginia ainda é um dos traços mais marcantes da nossa sociedade latina. Anota aí essa palavra Mi-so-gi-nia. Não é machismo. É outra coisa. Trata-se do ódio que muitos homens sentem em relação ao sexo feminino ou a tudo que está ligado a ele. O exemplo mais comum é o violentador afirmar que cometeu assédio (moral ou sexual) à uma mulher porque ela anda com um vestido curto ou muito sensual. A palavra vem de miso (ódio) e (gene) mulher.

Em um artigo publicado no UOL, a psicanalista Tatiana Ades, fala mais sobre o comportamento misógino. “Em consultório constato que essas afirmações e esse ódio provêm de frustrações amorosas. São homens incapazes de lidar com relacionamentos e, por esse motivo, colocam a culpa de seu mal-estar na mulher e essa se transforma num ser monstruoso que merece ser exterminado. Sim, não é exagero, eles chegam a citar a mulher como responsável pelo estupro e agressões físicas que recebem, afirmam que elas estão simplesmente recebendo o que merecem”, explica.

O que aconteceu com Nicole Bahls é muito mais sério do que a gente pensa. E acredito que a ficha dela sobre este episódio ainda não caiu totalmente. Gerald Thomas foi desrespeitoso com a modelo – famosa por suas belas curvas, pelos diversos ensaios sensuais que fez e pela recente participação no reality show #AFazenda, da Rede Record. No domingo passado (07/04), ao retornar ao grupo do Pânico – agora como participante e não mais como Panicat, Nicole disse ao apresentador Emílio Surita que estava disposta a fazer TUDO no humorístico.
         Foto: Movimento Marcha das Vadias / Reprodução.

Mas esse TUDO tem um preço. Será que vale a pena pagá-lo? Debaixo da maquiagem, do vestido justo e do salto agulha existe uma mulher que quer ser respeitada e amada. Em sua participação no reality da Record, Nicole se mostrou uma pessoa doce, porém agressiva quando era tratada apenas como um “corpo”, como objeto sexual. Para os fãs que a acompanham – e até mesmo pelas declarações polêmicas que a modelo sempre deu à imprensa, é de se estranhar o fato de Nicole não ter “dado na cara” do diretor. Brincadeira tem limite. O limite do respeito com o outro. Tão grosseiro quanto “bulinar” Nicole na frente dos fotógrafos, foi o diretor se referir à Paula Burlamarqui. "Essa foi a única que não comi. Por que ela não quis!", disse Gerald. Em seguida, o diretor beijou a atriz, que também ficou visualmente sem graça. Homem abjeto.

Não houve desculpas e, provavelmente, não ocorrerá. Esta é a triste realidade de um país que gosta de ver a mulher na “velocidade 5” e na “boquinha da garrafa”, mas o “cinto só aperta” quando a agressão é com a sua mãe, irmã, esposa ou filha. Isso para mim que é hipocrisia. Falso moralismo. Ninguém é objeto: debaixo da casca há um coração e uma explosão de sentimentos. O desejo é algo íntimo e consentido. Homem de verdade que gosta de mulher, sabe o valor do respeito.




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Jornalista

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6 comentários

  1. Nossa, já tive oportunidade de ver algumas peças de teatro dirigidas pelo Gerald Thomas e estou horrorizada com o que ele fez com essa moça. Não a conheço. E nem se ela fosse uma garota de programa merecia esse tratamento. Que nojento....cadê a lei numa hora dessas?

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  2. Não sabia o que era misoginia. Primeira vez que vejo essa palavra. Preciso rever meus conceitos...rs. Duvido se isso tivesse acontecido com a filha desse diretor ele ia achar que tudo foi uma brincadeira.

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  3. Francisco Bertoletta14 de abr. de 2013, 05:36:00

    Ótimo artigo, Wander. A mulher merece ser respeitada. Não só a mulher, mas qualquer pessoa. Esse Gerald Thomas se deve achar acima do bem e do mal para fazer uma coisa dessa e achar que não vai ser punido. Uma grosseria atrás da outra. Lamentável!

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  4. Concordo com você meu amigo. Entretanto, acredito que faltou a Nicole um posicionamento firme diante de uma situação tão vil e baixa. Mulher nenhuma que se respeite aceita ser bulinada publicamente daquela forma sem reagir de maneira enérgica, isto é, com um bom e sonoro tapa na cara de um homem que se quer intelectual de primeiro mundo, mas age como um neanderthal. Com mil perdões ao neanderthal. A reação precisava ser naquele momento.
    Fiquei muito chocada com as fotos que vi nos sites de notícia, discuti com meus amigos a respeito e francamente não se pode deixar passar incólume uma situação dessas.
    Acredito como você que talvez tenha faltado a Nicole avaliar melhor o “Estou disposta a tudo” isso não vale a pena. Antes de se dispor a tudo se faz necessário, respeito próprio.

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  5. No país da baixaria era só que estava faltando em nome do IBOPE. Esse programa inútil, inconsequente, baixo, deseducado e mais uma série de outros sub-predicados que se queira dar ele, é sucesso, inexplicavelmente, ou só sucesso porque tudo se explica pela mediocridade do que é detectado pelo IBOPE.

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  6. Esse cara é um retardado mental, vi a entrevista dele no JÔ esses dias e achei ele um cara super ridículo e depois desse acontecimento com a Nicole Bahls morro de nojo dele. Mas pode ter sido só uma jogada de marketing do programa né? Afinal o que o Pânico não faz pra aparecer mais?! Beijos

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