Caso André Caramante – Ditadura e a falta de liberdade de imprensa
outubro 13, 2012
Se revermos os livros de História,
é possível perceber que a Ditadura no
Brasil acabou, definitivamente, na década de 1980. No entanto, não é o que
parece. Em pleno século XXI e mais de duas décadas de Democracia, o País ainda vive casos onde o poder suprime, reprime e
ameaça a liberdade de imprensa. Esta semana, a jornalista Eliane Brum,
colunista da revista Época publicou uma notícia que nos faz repensar como está
a situação do jornalismo brasileiro: ainda
estamos vivendo sob censura.
Trata-se do Caso
André Caramante, jornalista que trabalha cobrindo a
área policial e de segurança pública pelo jornal Folha de S. Paulo e que teve que sair do Brasil com a sua família,
após uma série de ameaças à segurança e a vida dele. Tudo começou quando ele
publicou uma matéria sobre um o policial reformado e ex-chefe da Rota da
Polícia de São Paulo – mais conhecido como Coronel
Telhada, que pregava a violência e o extermínio de bandidos na internet. O
detalhe é que esse policial se candidatou a vereador e ganhou o pleito,
recentemente.
Popular pelo seu radicalismo no enfrentamento à violência, o
militar convocou os seus seguidores para enviar mensagens ao jornal e à Caramante,
com o intuito de agredi-lo – uma vez que o jornalista apontou na reportagem a
peculiaridade de um policial reformado ser um defensor da violência extrema
como método de inibir o aumento da criminalidade. O policial chegou a chamar
André de “defensor dos bandidos”. Lembrando que Caramante só apresentou os
fatos como repórter e a interpretação fica por parte dos leitores.
Premiado e um bom profissional reconhecido pelos seus pares,
Caramante tem os seus 13 anos de trabalho como jornalista profissional marcado
pela apuração precisa e detalhada, da qual faz sempre com muito zelo e
dedicação. Mudar com a família para outro país foi um pedido do próprio jornal
pela segurança dele e da família, uma vez que ele começou a sofrer ameaças que
extrapolaram o bullying virtual das redes sociais.
"A decisão de estar fisicamente
ausente da redação não foi nada fácil. Particularmente, via este passo como um
sinal de recuo, um erro do ponto de vista do meu ideal e mesmo de estratégia em
relação a quem tenta enfraquecer o trabalho da imprensa. O que fizemos, então,
foi arquitetar uma ausência que fosse apenas física, com uma operação que
permitisse que seguíssemos em frente. Existem inúmeras maneiras de fazer
reportagem", explicou Caramante
em entrevista à Eliane Brum na revista
Época.
Em nota, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) lamentou
o ocorrido e reforçou o fato de que mesmo vivendo numa democracia, a liberdade
de imprensa e o respeito à integridade intelectual e física do jornalista está
ameaçada. "Já se vão vinte anos
desde que o jornalista Caco Barcellos teve de se afastar de suas atividades,
por tratar do mesmo tema que Caramante no livro Rota 66. À época, mesmo se tratando de uma situação excepcional, a
proximidade temporal com a ditadura militar poderia servir de escusa para o
recuo. Mas atualmente, quando o Brasil se diz uma democracia consolidada - a
ponto de eleger o próprio Coronel Telhada -, não há justificativa para esse
tipo de ação", diz o comunicado.
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Jornalista
9 comentários
Que absurdo isso! Em pleno século XXI um jornalista ter que sair do Brasil porque está sendo ameaçado de morte por um policial reformado e vereador. Nossa, isso precisa ser mais divulgado. A censura já acabou gente! Boca no trombone!!!
ResponderExcluirÉ revoltante ver que um jornalista conceituado e com anos de carreira como o André tenha que passar por isso. Cadê os direitos humanos quando a gente precisa? Vamos divulgar mais essa notícia. Vou espalhar na minha rede.
ResponderExcluirQuando a gente pensa que o mundo dá uma melhorada aparecer uma notícia como essa que é, no mínimo, preocupante e absurda. Tolerar esse tipo de censura e violência é tão criminoso quanto apoiar essa tal coronel que virou vereador.
ResponderExcluirO mínimo que a Abraji e os demais órgão de apoio a imprensa é prestar essa nota pública de solidariedade com o intuito de mobilizar mesmo a sociedade. Ameaça de morte é crime também. E esse vereador deveria responder a um processo, antes que aconteça algo mais grave.
ResponderExcluirParabéns pelo texto e por tornar ainda mais público o Caso do André Caramante. Quanto mais pessoas saberem, melhor. Chega de impunidade!
ResponderExcluirDuvido que o Coronel iria lhe fazer algum mal, mas com certeza criminosos do pcc e outros iram lhe fazer muito mal, lhe roubando, assaltando, estuprando e ate matando..entao...se voce apresentou os fatos querendo dizer que em uma guerra nos, cidadaos honestos, temos que ir com flores nas maos enquanto os marginais estao de fuzis...ai nao eh questao de interpretacao e sim de bom senso...nos anos 80 policiais andavam fardados na rua, nos onibus indo e voltando do trabalho..hoje eh sentenca de morte fazer isto..e voces me dizem o que?!....para o policial nao agir com rigor contra vagabundos?!...faca me o favor..to achando que este jornalista queria um alibi para morar fora do Brasil..acho que conseguiu.
ResponderExcluirEm plena democracia é um absurdo um militar incitar a violência contra um jornalista que está apenas fazendo o seu trabalho. Mais absurdo ainda são as pessoas que distorcem uma ameaça real e uma manifestação da Abraji para dizer que o Caramante queria um álibi para sair do Brasil. Poupe-me! Não se trata de defender bandidos, nem de falar das más condições da polícia. O debate aqui é outra e muito mais sério. Se trata de liberdade de expressão. Até pq violência não se acaba com mais violência.
ResponderExcluirO caso do André Caramante expõe a fragilidade com que muitos jornalistas trabalham diariamente, principalmente os que cobrem violência urbana e criminalidade. Espero sinceramente que esse Coronel seja punido por ameaçar a vida de uma pessoa que expôs algo real por conta do seu ofício.
ResponderExcluirÉ lamentável que um repórter tenha que sair do Brasil após sofrer ameaças de morte. E o pior é que o Coronel Telhada foi eleito vereador com mais de 89 mil votos. É São Paulo caminhando para trás. Triste.
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