Por que Belo Horizonte não pensa em mobilidade urbana?

maio 16, 2012



Quanto tempo você gasta para ir e voltar do trabalho? Nesta terça-feira (15/05), eu gastei quatro horas de ônibus, apenas para retornar à minha casa. Isso mesmo: quatro horas, saindo de um engarrafamento e entrando em outro. Haja paciência! Para piorar a situação, a BHTrans mudou os pontos de ônibus da avenida Santos Dummont e os jogou na rua dos Caetés e rua Guaicurus – por conta das obras do BRT

Esta ação deixou o trânsito completamente congestionado naquelas imediações, bem no centro de Belo Horizonte. Para coroar com chave de ouro, o metrô está de greve desde segunda-feira (14/05) e esta funcionando em horário parcial, fazendo com que muitos usuários prefiram utilizar os ônibus como meio de transporte. Resultado: se os ônibus já são lotados em horário de pico, agora está mais do que o dobro. Com os ônibus lotados e metrô de greve parcial, mais carros foram para as ruas. 

Carro é sinal de conforto, de comodidade. Quem sai de carro se sente mais livre de explorar rotas ou ter independência suficiente de não ter que aguentar horas e horas de engarrafamento exprimido em um transporte coletivo com pessoas falando alto e escutando música sem fone de ouvido. Com isso, o número de carros em Belo Horizonte aumenta de forma exponencial todos os dias. Não há santo que dê conta!

Aliás, boa parte do deslocamento entre os bairros de Belo Horizonte é baseado no sistema rodoviário. O metrô nunca foi o grande protagonista da história e, pelo visto, jamais será. Prova disso é a construção do BRT, ônibus mais rápidos nos principais corredores da cidade que, ao invés de aliviar a frota de veículos, tende a aumentar porque vai colocar um novo sistema nas ruas. E isso não é uma crítica da onda do “falar do mal” ou “falar bem”. É a realidade. Porque Belo Horizonte não pensa em mobilidade urbana?

Com a valorização dos carros, motos e ônibus, o pedestre vai perdendo cada vez mais espaço na cidade. É alargamento de avenidas, construção de túneis e viadutos. O planejamento viário de Belo Horizonte favorece os carros. E são eles os principais responsáveis pelo engarrafamento nas ruas. O trânsito, simplesmente, não flui nos momentos de pico. Fica tudo parado na Avenida Afonso Pena, Avenida Nossa Senhora do Carmo, Avenida Raja Gabaglia, Avenida Amazonas, Via Expressa, Avenida Cristiano Machado, Avenida Antônio Carlos, Avenida Pedro II e Avenida Portugal. 

Este é o mapa do gargalo da cidade. Não tem como fugir. Não adianta alargar as avenidas ou, ainda pior, alargar pela terceira vez como está sendo feito na Avenida Antônio Carlos, por exemplo. Como leigo, também tenho as minhas dúvidas quanto ao rodízio. Já vi relatos de famílias em São Paulo com dois, três veículos para driblar o rodízio. O negócio é investir no transporte público de qualidade e barato. Incentivar o uso de bicicletas e da carona para quem tem carro. Investir em um metrô que atende mais a Grande BH, indo do Aeroporto de Confins a Betim, da Pampulha à Savassi. Isso sim seria um avanço em termos de mobilidade para BH.

Só teremos menos carros nas ruas quando o transporte coletivo oferecer conforto, qualidade e um preço acessível à realidade do trabalhador assalariado. É chique andar de metrô em Nova York e desconfortável em Belo Horizonte. Por que? Porque ele simplesmente está mega defasado. O metro de BH aproveitou a malha ferroviária que já estava instalada. Além disso, as estações foram mal planejadas, pois é preciso deslocar quase 10 minutos de caminhada em passarelas até chegar na catraca em muitas das estações de BH. Andar de metrô não é nada cômodo!

Ainda, para piorar a situação, o preço do transporte coletivo é salgado para o trabalhador comum que vive de um salário mínimo. Para se ter uma ideia, a passagem custa hoje R$ 2,65. Um trabalhador que usa uma passagem para ir ao centro e voltar gasta um total R$ 5,30. O mesmo valor que ele usaria para abastecer o carro ou a moto, dependendo do trajeto que ele faça ao dia. E é nessa conta que ele vê que é mais vantajoso – do ponto de vista da mobilidade e liberdade, comprar um carro ou uma moto.

Por isso é tão difícil pensar em mobilidade: existe uma indústria por trás incentivando de forma subliminar a compra de veículos, o que acaba por ser um estímulo ainda maior para o aumento constante do número de carros nas ruas. Daí ontem, sentado na porta do ônibus, durante as minhas quatro horas de viajem para chegar em casa, pensei na frase que ouvi no TEDxBH, no final de semana: a cidade que temos é o reflexo dos políticos que elegemos. Se queremos uma cidade melhor, é hora de avaliar quais os candidatos defendem essa bandeira para início de conversa. Quando é que as nossas autoridades vão começar a colocar em prática ações voltadas para a mobilidade urbana de forma efetiva? É hora de exercer a sua cidadania por meio do voto. Parado, eu não fico.  É hora de mudar! Chega de engarrafamento!



Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, circule o blog no Google Plusassine a newsletter e participe da comunidade no Orkut.




Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

3 comentários

  1. O grande problema do transporte público no Brasil começou no dia em que resolveram incentivar demais o transporte rodoviário ao inves do ferroviário e o metroviário. O preço é esse: nem de carro mais você consegue se deslocar com tranquilidade. Espero que BH não chegue ao estado que está SP, que mesmo só agora (e acredito que por causa da Copa) resolveu acelerar a construção e inauguração de estações de metrô, e mesmo assim ainda não conseguiu dar conta do tamanho da demanda. O resultado é o que vemos quase toda semana nos trens por exemplo: sobrecarga, problemas de manutenção e caos nos horários de pico.

    A Revista Carta Capital publicou uma matéria sobre o estrago que esses problemas geram na saúde das pessoas. Pra vc ter uma ideia Vander, uma pessoa que se desloca 2h ida e volta, se for pegar 365 dias de um ano, 48 deles são passados dentro de transporte público/transito. Isso por semana dá cerca de 24 horas.

    O resultado é um estudo que fizeram, que apontam que 20% dos paulistanos tem algum tipo de transtorno mental, como ansiedade e stress, e tudo isso vai desencadeando outros problemas como violência, agressividade, perda da qualidade de vida, problemas cardíacos, etc...

    Parbéns pela matéria Wander!

    Abçs!
    Danilo

    ResponderExcluir
  2. Meu caro, compartilho do mesmo desabafo. Ontem peguei um engarrafamento quilométrico na Nossa Senhora do Carmo e depois na Afonso Pena. E olha que estava de carro. Quem anda de ônibus sofre com esse descaso. Parabéns pelo artigo.

    ResponderExcluir
  3. Estou na lista dos que estão sofrendo diariamente no metrô de greve parcial. Foi uma loucura para pegar ônibus ali na rua Caetes perto da São Paulo. As filas dobravam o quarteirão. Chega de descaso com a população! O poste não tem meu voto.

    ResponderExcluir