Debates acalorados e a falta de interpretação nas redes sociais podem ser perigosos

fevereiro 15, 2012



O mais bacana das redes sociais é que todos nós temos o direito de falar. Falamos sobre tudo. Um assunto, quando muito comentado, vira hit e, consequentemente, pauta para a grande mídia. As redes sociais potencializaram a liberdade de expressão e, com isso, cada vez mais nos deparamos com posts acalorados sobre os mais diversos assuntos. 

Todo mundo virou especialista em algo. Alguns, com a sabedoria de querer propor a troca de informação, o debate e compartilhar experiências. Outros, mesmo sem entender de um assunto, vão na onda do pitaco e da generalização. E os riscos são muitos.

O calor de alguns debates cega. O fogo das palavras ofensivas vira um cabresto. São poucas as pessoas que querem realmente ouvir o outro lado e debater de forma civilizada. Pouquíssimas, para falar a verdade. Muitas vezes, a turma da pipoca é mais forte. Repetem uma informação tantas vezes que acabamos entrando em transe, numa espécie de delírio coletivo. 

Para sair disso é muito difícil, até porque nem todo mundo quer sair. Aceitar uma interpretação do outro é mais cômoda do que ter uma. Tem um ditado que fala que uma mentira dita muitas vezes se torna verdade. E, na prática, mais do que se tornar verdade, as pessoas se fecham para o debate. E é aí que mora a intolerância, o desrespeito e a falta de interpretação.

Interpretar. Palavra da nossa Língua Portuguesa que está entrando em desuso. São poucas as pessoas que querem interpretar, ir além. Os acalorados que lerão este texto logo vão pensar: mas como cobrar interpretação de um país com uma educação de baixa qualidade? Me desculpem turma, mas isso não é desculpa. Como assim? A educação é algo muito mais amplo do que somente ir à escola. A educação está na vida familiar, nos hábitos sociais, no ambiente de trabalho e na curiosidade de cada um de não ficar acomodado.

Como explicar crianças que vivem numa situação miserável e que vão à escola não só para tirar boas notas, mas para poder brincar, comer, ter acesso à cultura, livros, as jornais, revistas, internet? Porque a educação tem que ser apenas aquela que vem do banco de uma sala de aula? A informação é liberdade. Quando a pessoa interpreta por si só, ela está livre para seguir o seu próprio caminho e refletir sobre aquilo que está acontecendo. A pessoa que interpreta para, pensa, pesquisa e age.

A título de comparação, é como que se a pessoa que interpreta recebesse um feixe de luz sob a cabeça. Literalmente, ela tem as idéias clareadas. A luz do conhecimento tocou o coração dela e abriu caminhos para novas possibilidades. Ela não segue uma onda, só porque todos estão falando deste assunto de forma repetitiva. 

Quem interpreta pesquisa antes de falar e sabe que um fato pode ter dois ou mais lados. Quem interpreta, consegue ver a situação como um todo, e não de um único lado. Quem interpreta se posiciona de forma ética e está aberto para o debate civilizado. Finalmente, quem interpreta fala, mas também ouve. E para mim, o que falta hoje nas redes sociais é ouvir. Todo mundo já aprendeu a postar, a compartilhar a opiniões. Agora chegou a hora de exercitar o ouvido.



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4 comentários

  1. Francisco Bertoletta15 de fev. de 2012, 11:36:00

    Muito bom o seu artigo, Wander. Pelo menos me fez pensar sobre a minha atitude nas redes sociais e nos comentários dos blogs. Já participei de muito debate de forma acalorada e no fnal das contas vi que segurar um ponto de vista equivocado não nos leva a lugar nenhum.

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  2. Maria das Graças Antunes Lima15 de fev. de 2012, 11:39:00

    Como educadora, adorei o seu texto. Tento ao máximo mostrar para os meus alunos que a educação não está só na sala de aula, está no nosso dia. O que vejo é que falta leitura, interpretação e dissernimento para entender que o mundo é diverso. Infelizmente, algumas religiões formam pessoas sexistas e preconceituosas, ao invés de promover o amor ao próximo e o respeito.

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  3. Boa, Wander. Um texto que provoca! Infelizmente, uma parte das pessoas não querem nem ler, o que dirá interpretá. Um exemplo disso é o Big Brother. A pessoa acha o programa ruim e todo dia tem um post no Twitter ou no Facebook descendo a lenha no programa. Não gosta, ignora. Simples assim.

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  4. Parabéns pelo post, Wander. Você falou uma verdade. Boa parte das pessoas vão no embalo, parecem metralhadoras apontadas, prontas para elegerem um alvo sem ver muito, e disparar sem dó nem piedade. Me revolta muito isso. Vejo muita gente imbecil que se acha consciente só pelo fato de criticar a tudo e nao procurar os dois lados ou ao menos ter a decência e a humildade de se colocar no lugar dos outros. COmo já disse em outros locais, criticar tudo de ouvidos e olhos fechados também é uma forma de alienação. Parabéns pelo tapa na cara que muita gente merece levar, principalmente nas redes sociais.

    Abçs!

    Danilo Moreira
    http://blogpontotres.blogspot.com/
    Ponto Três: 3 anos!

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