Dercy de Verdade poderia ser melhor se fosse de verdade mesmo

janeiro 11, 2012



Não sei se estou azedo pela péssima estreia do #BBB12 na noite desta terça-feira (10), mas não gostei do primeiro capítulo de Dercy de Verdade. No entanto, o fato de não gostar não significa que a série seja ruim. Isso é uma opinião pessoal minha. E cada um está livre para ter a sua. Mas vou explicar neste post o porquê de não gostar. Não gostei porque esperava outro tipo de leitura da microsserie, principalmente pelo fato de Maria Adelaide Amaral ter sido biógrafa de Dercy Gonçalves. Para assistir o primeiro capítulo, clique aqui.

Esperava algo na linha, no mínimo, de Dalva e Heriberto, que conseguiu transitar de forma tão poética entre o drama, a boemia e humor. Dercy de Verdade foi apresentado ao telespectador por outro caminho, dando um tom de espetáculo, ao invés de aproveitar a fundo a intensidade da personagem em questão.

Dercy Gonçalves foi uma personalidade polêmica e tem uma biografia mega interessante, diga-se de passagem. Mas, no meio de tantos causos e lendas, senti que tanto Maria Adelaide Amaral, quanto Jorge Fernando, optaram pelo escracho, pelo humor pastelão com elementos de drama tão usados nas novelas de Walcyr Carrasco que eu, sinceramente, não tenho paciência. Talvez pelo pouco tempo da série foi o recurso utilizado para condensar em poucos capítulos mais de 100 anos de vida da atriz e comediante.
Fafy Siqueira e Heloísa Perissé interpretam Dercy Gonçalves em diferente fases
da vida da atriz e humorista na microsserie. Foto: TV Globo / Divulgação.

Tudo foi tão rápido e frugal que, o telespectador leigo, que não sabe nada da vida da atriz, se sentiu atropelado com o excesso de informação e acontecimentos misturados em boas sequencias de cenas, mas sem o aprofundamento dramático (e psicológico) que a personagem Dercy Gonçalves poderia dar ao seu público. Um exemplo disso é o palavrão de Dercy que não era usado como uma ofensa gratuita, mas como um instrumento de protesto dela contra uma sociedade moralista que cobrava uma postura que não condizia com o que ela queria para si.

Não gostei da linguagem utilizada da série. Faltou sensibilidade e tempo para poder ir além. No entanto, admirei a ousadia de começar a microssérie pelos bastidores, com a leitura dos textos e como a personagem, em duas fases da vida, se complementam para a construção da história que será contada ao público. É de se estranhar que Dercy polêmica do jeito que era não ter questionado a sexualidade do marido que viveu com ela como irmão durante muitos anos. Foi uma das muitas coisas que pensei ao analisar esse primeiro capítulo.

Mas, ao falarmos de interpretação, não temos o que reclamar. Fafy Siqueira sempre nos surpreende positivamente como atriz e comediante. O que é ela imitando o Golias? Alguém já viu? Parece que ela incorpora....é uma coisa fora de série. Já Heloísa Perissé é outro achado. Transita pela comédia e pelo drama com uma facilidade admirável.
Da esquerda para a direita: Maria Adelaide Amaral, Jorge Fernando,
Heloísa Perissé e Fafy Siqueira. Foto: TV Globo / Divulgação.

Sério, sou fã do texto de Maria Adelaide Amaral há muitos anos. É uma das minhas roteiristas preferidas na Globo. Tem no currículo um monte de sucessos em minisséries e, mais recentemente, com o remake da novela TiTiTi. Acho ela uma ótima roteirista, por sinal. Jorge Fernando, diretor da microsserie Dercy de Verdade, também dispensa elogios pelo seu trabalho ao longo desses anos, principalmente pela liberdade criativa que ele sempre se permite realizar. E por conhecer tão bem o trabalho dos dois me sinto tão a vontade de criticar e por o dedo na ferida.

Posso até estar sendo duro, mas esperava algo mais documental e dramático em Dercy de Verdade, principalmente por causa desse título. O Brasil inteiro conhece a Dercy do humor. Talvez se optassem por mostrar o lado psicológico da mulher, da mãe e da artista que lutou contra o mundo em nome da sua arte e daquilo que ela acreditava fazer de melhor, seria uma opção mais condizente com o nome da microsserie. Por ora, vi apenas uma encenação de homenagem. Faltou verdade. E bota verdade nisso.



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8 comentários

  1. Francisco Bertoletta11 de jan. de 2012, 19:16:00

    Excelente análise meu caro, Wander. Sou um pouco mais velho, de outra época, por assim dizer, e a Dercy Gonçalves sempre nos passou uma imagem polêmica e de quebrar tabus. Faltou mostrar o que existia por trás da mulher e não só focar na trajetória de sucesso da artista.

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  2. Meu Deeeeus!! Wander juro que não tinha lido vc falando sobre Dalva e Walcyr antes de gravar o podcast, foi extrema coincidencia a gente ter dado os mesmos exemplos. Eu vi outra pessoa falando do estilo Walcyr ontem, alias, outras. Quem te lê e me ouve parece que tipo um tá dando resposta pro outro, loucura loucura hahahaha

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  3. Wander, uma boa noite!

    Não assisti, mas se assistisse, esperaria o mesmo que você.
    Queria ver a Dercy de verdade, aquela que, antes de ser uma artista, era um ser humano.
    Há quem diga que a comediante não xingava um só palavrão em casa e nem admitia que alguém o fizesse. Será que a microssérie mostrará isso?
    Como homenagem , como bem falou você, a obra televisiva pode ter seu valor, mas não no sentido de "mergulho psicológico" da mulher Dercy, que quase nenhum de nós viu ou soube...
    Para dizer a verdade, não gostava muito do trabalho dela; achava-a exagerada demais. Porém, se eu conhecesse melhor a pessoa por trás das câmeras, quem sabe eu não passaria a apreciá-la?
    Das minisséries biográficas, a que gostei de verdade e não perdia um só capítulo foi sobre a Maysa Matarazzo!
    Um deslumbre de interpretação dos atores, verdade nas atitudes dos personagens, fotografia ímpar e acordo perfeito da época com o texto colocado. Foi inesquecível!!!!

    Um abraço e obrigada pelo artigo tão bem escrito!

    Mary:)

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  4. Oi, amore!
    Na verdade tô passando mais pra te dar um beijo do que pra comentar o post por que eu não assisti a estréia, mas acho que você não deve se preocupar em estar sendo duro, essa é sua opinião você esperava outra coisa e a Maria Adelaide tomou outro caminho. Paciência! Opiniões diversas ajudam a construir. Passei pelo Cena e vi que o Endrigo pensa diferente e como foi bom pra mim ouvir os dois sobretudo por que eu não vi a estréia e acho que não vou ver a série.
    Valeu pela opinião.
    Beijos.

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  5. Olá Wander!
    Concordo plenamente com sua opinião sobre o minissérie. Não houve a tal "verdade" do título. Tudo foi cômico e superficial.
    Fico feliz de ter encontrado seu post. Estava buscando no Google alguma opinião que fosse semelhante a minha.
    Acho que a própria Dercy, se viva, não concordaria com a linha tomada pela produção da minissérie.
    Um grande abraço.

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  6. acho que vc.acordou azedo mesmo! volte pra cama,Ninguem vive intensamente com tamanho vigor! força e mil obstáculos!, se não fosse uma pessoa tão especial!!!!como a nossa querida e inagualável DERCY G. Quantos desistiram? ou morreram da turma de sua época?! sem lutar, correr , enfrentar a metade do que ela enfrentou!? o machismo , a falta de apoio, de dinheiro, ... e por ai vai... A mini série esta diminuta , por tantos anos de vida e trabalho, sim , mas vale a pena ver, estou adorando. DERCY diria isto a vcs. quem não gosta come bosta ..kkkk . b. noite .

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  7. Sem muitos comentários... com tantos temas, inigualavelmente, muito mais culturais para serem exibidos, umas porcaria de um seriado, que é tão bom que em quatro capítulos relata a vida de uma pessoa, que no caso todo dia devia comer merd... por que só sabe falar isso, e os e os fãs ainda a acham uma estrela... por favor, leiam algum livro qualquer, que é melhor do que qualquer coisa que passe na globo!!!

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  8. Exatamente isso que eu achei. Entretanto, não gostei de Fafy Siqueira como Dercy. Heloisa Perissé (excelente no papel) estava indo em um rítimo que foi totalmente mudado de um dia pro outro, mostrando-nos uma Dercy mais simpática e deslocada com Fafy. Como tenho apenas 18 anos, não vivi a "época de ouro" da comediante, então teve muitos momentos que eu me perdi na série. Um deles é a transição da Exelcior para a Globo. O primeiro episódio, por exemplo, teve muita história, e pareceu que foi tudo muito fácil na vida de Dercy. Suas mudanças de cidade eram constantes e rápidas. Mas a minisérie foi muito bem feita. Acho que vale a pena assistir.

    Parabéns pelo post.

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