Ponto de Vista – Deputado Jair Bolsonaro, Preta Gil e o preconceito

abril 02, 2011




Muita gente ainda confunde opinião com incitação ao preconceito. Prova disso foram as manifestações em torno das declarações do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) para o CQC – programa humorístico e jornalístico, exibido nas noites de segunda-feira, na TV Band. Bolsonaro participou do quadro “O Povo quer Saber”, uma espécie de povo-fala, onde pessoas nas ruas fazem uma pergunta previamente gravada ao entrevistado. Não assisti o CQC no dia. Vi o vídeo depois. Faz tempo que perdi o interesse pelo programa por acreditar que eles perderam o tom em muitos quadros.

Mas, essa semana o programa voltou às rodas de conversa e pautou toda a mídia brasileira. Ponto para a produção do programa que não está deixando a peteca cair. Chamado pelo apresentador Marcelo Tas de o “deputado mais polêmico do Brasil”, Bolsonaro apresentou opiniões bastante controversas ao se mostrar a favor da ditadura militar, pois para ele naquela época não havia corrupção e uma valorização aos “bons costumes”.

Não satisfeito, Bolsonaro atacou a presidenta Dilma, se mostrou ignorante e preconceituoso em relação aos homossexuais e aos negros, além de atacar a cantora Preta Gil, ao invés de responder a pergunta que a artista teria feito sobre a possibilidade de um de seus filhos se apaixonar por uma negra. “Não vou discutir promiscuidade com quem quer que seja. Não corro esse risco porque os meus filhos foram muito bem educados e não viveram em ambientes como lamentavelmente é o teu.” Assista abaixo as declarações do deputado Jair Bolsonaro para o CQC:




“Prefiro acreditar que o Bolsonaro não entendeu a pergunta da nossa querida Preta Gil”, disse Tas após o encerramento do quadro. Eu já penso ao contrário: ele não só entendeu, como quis julgar a artista de forma pré-conceituosa. Bolsonaro foi algoz do próprio preconceito e ignorância. Mexeu em um vespeiro ao promover o preconceito em sua fala.

Não obstante, a repercussão após o programa foi gigantesca. No Twitter, a hashtag #forabolsonaro ficou nos primeiros lugares dos assuntos mais discutidos no país. Ainda no microblog, a cantora Preta Gil afirmou que irá processar o deputado por crime racial, homofobia, além de pedir reparação por danos morais. Já Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ) entrou com uma representação na Câmara dos deputados para abertura de processo contra Bolsonaro por quebra de decoro parlamentar.



No dia seguinte, vários leitores do Café com Notícias e amigos me escreveram pedindo que o blog abordasse esse assunto. Aos amigos da coluna Ponto de Vista sugeri a pauta e eles aprovaram. Considerei que opiniões diferentes sobre o caso seria o mais adequado para mostrar o quanto o tema é delicado, mas muito útil em ser levantado. 


Pela internet, vi algumas manifestações bastante contraditórias. Formadores de opinião a favor de Bolsonaro falando que ele foi mal interpretado. Será? Na outra ponta, pessoas mais lúcidas e outros formadores de opinião condenando o deputado por incitar o ódio – pelo fato dele ser um legislador e homem público, ao invés de promover a igualdade.

Como cidadão, me espanta ver que o povo carioca o eleja para a sua quinta legislatura consecutiva. Os votos à Bolsonaro e as pessoas que o apóiam mostram que o preconceito (velado ou não) ainda persiste na nossa sociedade. Será um retrocesso ou um reflexo social? 


Acredito que apenas quando as pessoas aprenderam a respeitar o próximo e as diferenças é que seremos capazes de distinguir com credibilidade o que é opinião com incitação ao ódio. Mas o primeiro passo já estamos dando para que isso aconteça: debatendo e colocando às cartas na mesa. Como diria a Regina Casé: Xô, preconceito!






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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.








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Wander Veroni
Jornalista

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5 comentários

  1. Tenho nojo de pessoas que assim como o Bolsonaro usam a desculpa de democracia, de liberdade de expressão, para promover o ódio e o preconceito. Parabéns a você a aos outros blogueiros que estão postando conscientemente para que consigamos diminuir o preconceito que ainda existe na nossa sociedade.

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  2. O que pensar de um pais de maioria afro que é o Brasil, onde só tem apresentadoras loiras na tv? O Brasil é racista! Pegam Gisele Bundchen, loira é colocam como o perfil da mulher brasileira. Ela não representa a mulher brasleira.

    Contraste entre EUA e Brasil é gritante... Nos Eua onde os negros são minoria, eles tem a Diva da Tv americana, a apresentadora Oprah Winfrey, que é uma das mulheres mais ricas do mundo. E no Brasil, que demorou séculos para uma negra ser protagonista de novela das oito?


    Em novelas, filmes, comerciais, sempre colocam uma pessoa negra pra preencher as cotas, uma no meio de 10 brancas. Cadê a igualdade? Deveria ser metade de cada cor e não desse jeito. E olhe que o Brasil é de maioria negra. Está tudo invertido. Tem que se criar leis de inclusão, se for esperar a boa vontade deles, nunca a igualdade vai acontecer!!! Algo está errado neste pais!!!!

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  3. Sinceramente? Acho que houve exagero e vontade de aparecer por parte de ambos os lados. Bolsonaro emitiu sua opinião pessoal. Isso nada tem a ver com homofobia ou racismo (no âmbito legal). Pois, o que gera a punição não é a simples menção a uma opinião pessoal; é a incitação ou a prática da violência (física ou psicológica) motivada pelo ódio racial ou homofóbico.

    O problema é a praga do politicamente correto e a falta de representatividade dessas "lideranças" negras e hossexuais que querem apenas se promover.

    Bolsonaro é o que é: um escrôto; mas, mesmo o ser mais escrôto do planeta tem direito a ter opinião.

    Qualquer um pode se declarar racista e propagar que odeia homossexuais. O que ele não pode fazer é justificar ações prejudiciais a outrem.

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  4. Olá! Parabéns pelo Blog. Acho, porém, que a opinião do autor do post segue a mesma linha que a maior parte da imprensa está assuminto, ou seja, um discurso que beira à defesa apaixonada pelas causas gays. Notem que a acusação de recismo está em segundo plano. Ora, racismo é crime inafiançável, pq então o deputado ainda não foi preso? Por um motivo bem simples: a acusação de racismo é improcedente. Quem viu a matéria do CQC e prestou atenção vai perceber que existe vasta prova CONTRA a acusação de racismo. O que realmente está em questão aqui é que o movimento gay e seus simpatizantes está querendo tirar o deputado de circulação para facilitar sua vida.

    Gostaria de convidá-lo e a todos os seus leitores para observarem nossa postagem que explica detalhadamente essa questão. Não conheço o deputado, não sou seu eleitor e até o considero um retrógrado por gostar da ditadura, porém, não posso ficar calado diante dessa escandalosa manipulação de informações. Veja em:

    http://www.filosofiacalvinista.blogspot.com/

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  5. Oi Filósofo Calvinista! Obrigado pelo comentário. Mas tenho que discordar de você na questão de manipulação das informações do post. O que falei sobre preconceito e a incitação acalourada que esse deputado fez ao proliferar tal visão. Independente se for racismo ou homofobia, temos que ser a favor do respeito à diversidade. Abraço

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