Café Convidado - Reportagem especial mostra os bastidores do Globocop

março 31, 2011




Na seção Café Convidado de hoje, o estudante de jornalismo Lucas Conrado Silva nos traz uma reportagem sobre os bastidores do Globocop, mais precisamente de como é feita a reportagem aérea que faz parte dos noticiários televisivos. Acompanhe, abaixo, a reportagem na íntegra:


A reportagem aérea por trás das câmeras e dos rotores


Por Lucas Conrado Silva*


Diariamente, vemos diversas reportagens feitas a partir de helicópteros nos principais jornais do país. Mas como é a preparação? Conheça de perto os bastidores do Globocop, a aeronave mais conhecida do Jornalismo Brasileiro






Quarta-feira, 25 de novembro de 2010. Uma coalizão das Polícias Civil, Militar e Federal com a Marinha do Brasil, invadiram a Vila Cruzeiro, na Zona norte do Rio de Janeiro. A ação era uma resposta ao ataque de criminosos na capital e Baixada Fluminense. Havia mais de uma semana que bandidos praticavam arrastões, queimando carros e ônibus em diversos pontos da cidade, forçando o Governo a tomar uma atitude drástica. No meio da tarde, a imagem de centenas de criminosos correndo pelo meio da mata chamou atenção de todo Brasil, levando o país para a frente da TV.

Quem explica melhor como foi aquele momento é Francisco de Assis, operador de câmera que estava a bordo do helicóptero de reportagem da Rede Globo, o Globocop: “Nós estávamos voando quando recebemos a informação de que havia uma troca de tiros entre traficantes e a Polícia Militar. Começamos a procurar com a câmera e verifiquei que havia traficantes atirando para baixo. Era uns 15 ou 20. O pessoal da televisão viu e ali que começou tudo. Quando fizemos a outra imagem, dos bandidos fugindo pela mata, carro e moto pegando traficante, eu falei ‘caramba, não existe isso!’ Eram muito mais de 100 traficantes. Em comparação com essas imagens, aquela outra que fiz dos 15, ou 20 não era nada”.

Não apenas em acontecimentos como a invasão da Vila Cruzeiro, mas também para noticiar o trânsito, acidentes e incidentes, partidas de futebol e até corridas de Formula 1, os helicópteros são uma importante ferramenta para as emissoras de televisão e rádio informarem o público de forma instantânea e mostrar um ângulo diferente tais fatos. Quando assiste ao noticiário, o público vê apenas o produto final, as matérias finalizadas. Mas o que acontece por trás das câmeras? Como é a preparação do helicóptero, tripulação e repórteres? Como é feita a reportagem aérea? Fomos à Central Globo de Jornalismo e ao hangar do Globocop, o helicóptero mais conhecido do televisão brasileira para desvendar essas e outras questões.

Globocops

Atualmente, existem três helicópteros equipados para reportagem à disposição da Rede Globo. Dois dele são o modelo mais conhecido do Globocop, o Eurocopter AS350-B2 Esquilo, ficando um em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Além destes, existe ainda o Robinson R44, menor e utilizado quando o Esquilo está fora de operação. Ele também é usado em coberturas especiais, como as invasões ao Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro em novembro e as enchentes de abril no Rio de Janeiro. Apesar de estar a serviço da Rede Globo, os helicópteros são operados por uma empresa terceirizada, a Helisul.


A função principal do Globocop é atuar na faixa Radar RJ, que, diariamente, mostra o trânsito na manhã do Rio de Janeiro. A faixa, que era independente, acabou anexada ao Bom Dia Rio, na reforma por qual o jornal passou recentemente. Além do Bom dia Rio, o helicóptero pode ser utilizado em outros programas, como os noticiários da Globo News, programas esportivos e até mesmo o Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga. Juarez Passos, chefe de Reportagem da Editoria Rio da TV Globo, explica: “Fora do factual, há todo um planejamento de matéria onde os produtores já solicitam com antecedência o helicóptero. Essa solicitação vem com um roteiro descrevendo as imagens que precisam e na hora da gravação, um produtor vai junto”.

Um dia comum no Globocop

Às 5h da manhã, faltando mais de duas horas para o começo Bom Dia Rio, a equipe de mecânicos do Aeroporto de Jacarepaguá trabalha no Globocop. O helicóptero passa por uma série de revisões para que, às 5h45 esteja na pista para decolar. O mecânico Sandro Henrique explica que a inspeção começa com a coleta de uma pequena amostra de combustível, para verificar se está livre de água e impurezas. Depois o motor é aberto e os mecânicos avaliam se não ocorre nenhum vazamento de óleo ou combustível e se todas as peças estão bem apertadas. Para facilitar a manutenção, o motor é dividido em diversos módulos, partes removíveis e substituíveis. “Se um desses módulos der problema, você o retira e envia para a fábrica, que empresta outro, para que o helicóptero não fique inutilizável”, explica Sandro. Após verificar os motores, os mecânicos verificam as hélices, procurando por deformações ou trincas que podem derrubar o aparelho. Essa operação leva entre 45 minutos e uma hora.

Enquanto o helicóptero é levado do hangar para o pátio do aeroporto, o repórter chega e sobe para uma pequena sala, onde se maquia e revisa no computador a pauta do dia. “O repórter que sobe no Globocop passa por um treinamento”, explica Juarez. “Ele sai uma semana no helicóptero treinando as funções que desempenhará no ar e se acostumando com a máquina. Muitos acabam não se acostumando, passam mal, têm medo. O treinamento do repórter é mais simples, o operador de câmera que treina mais”.

Isso porque cabe a ele operar as duas câmeras externas do helicóptero, a mais poderosa localizada no bico da aeronave e outra menor, perto do rotor de cauda. Apesar de o Esquilo ter capacidade para carregar até seis pessoas, o Globocop leva entre três e quatro. A tripulação normal é composta pelo piloto, operador de câmera e o repórter. Em ocasiões especiais, um entrevistado é convidado a voar com a equipe. Atualmente, existem diversos repórteres que se alternam na cobertura aérea da TV Globo, no Rio. No dia em que a matéria foi feita, Fernanda Grael estava escalada para o voo.

Fernanda Grael é repórter desde 2004. Após atuar como estagiária, foi efetivada como repórter pela Globo News. Ela ficou no canal por assinatura até o início de 2010, quando migrou para o RJTV. Fernanda começou a treinar no Globocop quando completou seis meses na TV Globo. “Dentro do helicóptero tem alguns botões para o repórter controlar a imagem, o som, ter acesso às imagens das câmeras do Globocop e aquelas que vão ao ar. Você controla isso, saí três dias para treinar”, explica. Mas, a maior dificuldade que Fernanda teve ao começar as matérias a bordo do helicóptero foi outra: “Por mais que você conheça o lugar, você perde algumas referências quando o vê de cima. Você demora a entender que aquela rua que você passa todo dia é assim vista de cima”.

Além disso, a repórter explica que diariamente o helicóptero passa por lugares que ela não conhece, o que a força a estudar muito o mapa da cidade. Mas nem tudo é dificuldade na cobertura aérea: “O mais legal é que é tudo dinâmico. Por exemplo, a gente está na Barra da Tijuca (Zona Oeste do Rio de Janeiro) e o rádio nos passa que houve um acidente na Linha Vermelha, perto da Ilha do Fundão (Zona Norte, a aproximadamente 25km da Barra da Tijuca), em cinco minutos a gente está lá ao vivo! Por isso que o Globocop faz tantos flagrantes, porque é muito rápido. O que é desafiador. As vezes você fala que o trânsito está lento em certa parte da cidade e, no tempo até chegarmos lá para mostrar a lentidão, ele já flui com facilidade. Isso exige uma atenção e um poder de improvisação”, conclui.


Para fazer essas imagens em tempo real e em alta definição, o Globocop recebeu uma série de equipamentos. Além das duas câmeras externas, existem mais quatro câmeras instaladas no interior do helicóptero, que podem filmar o repórter sozinho ou acompanhado do entrevistado. As imagens passam por um equipamento para gravação no próprio Globocop e também são transmitidas por micro-ondas para a Central Globo de Jornalismo, o bairro do Jardim Botânico, de onde são transmitidas para todo o Brasil. Além disso há controles de corte de imagens e sons para o repórter e o operador de câmera. Juarez explica que o Globocop tem uma dupla função. Além de transmitir as notícias que vão ao noticiário, as imagens em off (que não vão ao ar) servem inclusive para mostrar aos editores dos jornais a situação que estão cobrindo de um ponto de vista mais amplo, podendo, inclusive, interferir na cobertura dos repórteres em terra.

Segurança em primeiro lugar

O Globocop é uma importante ferramenta na cobertura jornalística, mas não deixa de ser um helicóptero, no sentido em que é regido pelas mesmas regras dos demais helicópteros da cidade. Por estar baseado no Aeroporto de Jacarepaguá, segue as mesmas regras das outras aeronaves dali. Em dias de tempo ruim, a decolagem é proibida. “Já aconteceu do helicóptero decolar, mas ter de voltar porque o tempo não ajudava”, explica Juarez.

O chefe de reportagem afirmou que em Jacarepaguá, os pilotos têm um mapa do Rio de Janeiro onde mostra os lugares por onde podem voar e onde é proibido. Em favelas ocupadas por traficantes, o perímetro onde estão expostos às balas dos fuzis é marcado nas cartas aéreas como um local fechado. Na cobertura das ações policiais na Vila Cruzeiro, em novembro de 2010, houve um cuidado especial como conta Assis: “Aquela área é perigosa, até porque a gente já tem uma passagem triste por ali, que foi a perda de um jornalista da TV Globo, o Tim Lopes”. Em 2002, enquanto fazia uma reportagem sobre a exploração de crianças e adolescentes em bailes funk, o jornalista foi descoberto, torturado e morto por traficantes locais. O acontecimento trouxe uma série de modificações na forma de se fazer reportagens, visando uma maior segurança dos repórteres.

Além das regras de segurança, o Globocop segue outras regras da ANAC. Em áreas residenciais, como o Jardim Botânico, onde está localizada a Central Globo de Jornalismo, helicópteros só podem decolar entre as 7 e as 22 horas, impossibilitando a decolagem a tempo de fazer o Bom Dia Rio. Por esse motivo, a base do Globocop fica no aeroporto. Ali, entre as 5 e 22 horas, existe uma equipe de plantão para decolar em até 10 minutos e fazer uma reportagem aérea. Fora desse horário, caso precisem fazer uma cobertura com o Globocop, um carro da emissora leva o repórter de plantão do Jardim Botânico para Jacarepaguá, onde o helicóptero o espera.

Mobilidade, velocidade são duas características importantíssimas da cobertura aérea, mas não são as únicas. Se fossem, o helicóptero, cuja manutenção é cara, perderia espaço para os flagrantes cada vez mais comuns registrados por câmeras digitais e celulares. “Essas imagens não servem para o factual porque, apesar de recebermos com rapidez, a qualidade geralmente é baixa e precisamos convertê-las para um formato que precisemos transmitir, o que leva tempo”, afirma Juarez. “Além disso, o cidadão está em terra. Nós filmamos de cima, num ângulo diferente e mais amplo”, completa. Como o voo é restrito a poucas pessoas, a função do Globocop e de outros helicópteros de reportagem estará assegurada por um bom tempo.



Fotos: Lucas Conrado Silva e TV Globo/Divulgação.



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*Perfil: Lucas Conrado Silva é mais um mineiro morando no Rio. Estuda Jornalismo na UFRJ e faz estagio no Canal Futura. É nerd, blogueiro, fotógrafo, faz tirinhas de humor e, quando dá, alguns desenhos. Ainda não sabe ao certo o que quer dentro do Jornalismo, mas gosta das áreas de internet, fotojornalismo e imprensa escrita (para revistas). Para conhecê-lo melhor:
- http://www.flickr.com/photos/lucasconrado



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4 comentários

  1. Nossa, estou de cara com essa reportagem. Não sabia quase nada sobre reportagem aérea, principalmente sobre o Globocop. Parabéns ao Lucas pela reportagem e a você Wander por abrir espaço aqui no Café com Notícias.

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  2. os bandidos ja voltarao tudo tinha que botar a bope os bandidos estao brincando com os exercitos

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  3. A GLOBO MINAS TAMBEM TEM UM GLOBOCOP, UM R-44,MODERNO E BEM EQUIPADO, videos estao disponiveis no g1 mg, www.g1.com.br/mg :
    http://g1.globo.com/videos/minas-gerais/v/transito-da-savassi-e-alterado-para-obras-de-revitalizacao/1621324/#/MGTV 1/20110906/page/1

    http://g1.globo.com/videos/minas-gerais/v/durante-reforma-para-copa-2014-estadio-do-mineirao-completa-46-anos-de-historia/1620090/#/MGTV 1/20110905/page/1

    http://www.youtube.com/watch?v=WCjHscs2_I4

    e ele ainda é equipado com cameras internas onde as vezes é utilizado pela emissora com reporters a bordo.

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  4. Nossa, que reportagem ótima! Adoro saber sobre curiosidades que estão no nosso dia-a-dia, afinal, as imagens aéreas nos jornais (principalmente os da Globo) sempre estão presentes nas nossas TVs. Parabéns!

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