Ponto de Vista – 60 anos de TV no Brasil: para aonde vamos?

setembro 18, 2010


Há exatos 60 anos atrás, no dia 18 de setembro, a “janela eletrônica de fábrica de sonhos” começava a funcionar no Brasil. Graças a uma iniciativa pioneira – e porque não dizer um pouco atrapalhada, de Assis Chateaubriand, dono do grupo Diários Associados, um pouquíssimo número de brasileiros assistiam a primeira transmissão da TV Tupi, de São Paulo.

De lá para cá, muita coisa mudou. Hoje, não temos mais aparelhos em preto e branco, nem precisamos improvisar uma antena com uma esponja de aço para melhorar a recepção da imagem. A tecnologia permitiu que os aparelhos ficassem cada vez mais finos, práticos e convergentes. Temos uma infinidade de canais na TV aberta e Paga, sem contar nas Web TVs, que ganham força pela internet.

Apesar do grande salto tecnológico, a TV brasileira vive hoje a sua pior crise de criatividade dos últimos tempos. O formato das atrações são importadas de outros países ou, literalmente, copiados. Ninguém quer mais ousar. Os dirigentes das TVs não querem mais criar algo diferente com identidade editorial e que tenha, acima de tudo, proposta e qualidade.

Está tudo mais pasteurizado e igual – o que é muito ruim, diga-se de passagem. A TV hoje é regida pela audiência e no possível faturamento comercial que um programa possa ter. A qualidade e o respeito com o público viraram artigo de luxo, praticamente não existem.

Por conta da ausência de criatividade e do respeito ao público, boa parte dos telespectadores migraram para a internet. Mas antes que os apocalípticos de plantão falem algo: não, a TV nunca vai acabar. O audiovisual está com muito mais força, inclusiva na web. O grande problema das TVs é ousar. Criar opções e, acima de tudo, precisam ouvir mais o telespectador. E ouvir não significa, necessariamente, aceitar. Mas, pelo menos, refletir se o caminho que é percorrido está agradando ou não.

Seis décadas de TV no Brasil, o que temos para comemorar? Da parte tecnológica, muita coisa. Mas, da parte criativa, de produção de conteúdo, muito pouco. Uma ou outra coisa salva. A primeira década dos anos 2000 mostrou ao público o precipício que a TV aberta entrou e, do qual, dificilmente, irá sair. Ainda não temos uma TV Nacional, nem uma TV Pública, que fale claramente para o público de várias partes do país e que permita a regionalidade cultural de cada Estado.

A medição da audiência, do jeito que está, não diz o que o público brasileiro pensa, mas sim uma pequena parte dos telespectadores de São Paulo e Rio de Janeiro. Com tanta tecnologia que existe por aí, é impensável continuarmos desse jeito. O Brasil não são só dois estados do Sudeste.

Será que é possível mudar o modelo atual que valoriza o sensacionalismo e a imbecialidade? Quem sabe. Infelizmente, jornalistas, roteiristas, produtores e diretores estão com as mãos atadas. Somente um “furacão”, para que esse modelo do “vale tudo por audiência” caia por terra, e outro, mais comprometido com a informação e o entretenimento de qualidade possa então ser praticado. O problema não está apenas na escolha do telespectador, no controle remoto. Mas sim, na produção, que é a raiz da TV. Chega de tratar o público como idiota!

» Ouça, abaixo, a entrevista feita pelo jornalista José Armando Vannucci, da Rádio Jovem Pan, com o professor e pesquisador de TV, Laurindo Leal Filho:








» Assista na íntegra o programa 'Happy Hour', que comemorou os 60 anos da TV brasileira com Hebe Camargo:



» Assista "a aula" sobre TV brasileira com o Boni, ex-diretor da TV Globo, que foi entrevistado pelo Roda Vida, da TV Cultura:




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*Observação: Este artigo faz parte da minha participação na seção Ponto de Vista, do site do Cena Aberta, onde três jornalistas publicam um artigo mostrando pontos diferenciados sobre o mesmo assunto. Todo sábado você vai encontrar
artigo escritos por Endrigo Annyston, Emanuelle Najjar e Wander Veroni.






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Wander Veroni
Jornalista

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7 comentários

  1. Olá Wander, tudo bem?

    Em minha opinião, a programação da tv aberta é um lixo porque eles descobriram que o povo brasileiro gosta mesmo é de lixo.

    O programa do João Kleber tinha uma ótima audiencia, o programa do pânico tem uma ótima audiencia, e eu poderia citar aqui vários programas ruins ou péssimos que tem boa audiencia.

    Se você montar um programa de bom conteúdo, com boa qualidade, estará fadado ao fracasso, pois nossos telespectadores não gostam de qualidade, não gostam de bons conteúdos. Se você gosta, então sinta-se parte da minoria. Parabéns pela ótima abordagem.

    Um grande abraço

    Giba

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  2. Oi Wander!

    Adorei seu post não só pelo texto, mas pelas dicas de programas no final. Ouvi a entrevista de aúdio com o prof. Laurindo Leal Filho.

    Mas, o que mais gostei msm foi o Happy Hour. Que programa bom, hein! Muito legal ver que a Astrid esta aí linda e loira fazendo um programa com um "Q" de qualidade e originalidade na TV Paga.

    Além disso, pude ver a aula do Boni sobre TV no Roda Viva. Esse seu post é obrigatório para quem gosta e quer saber mais sobre os 60 anos da TV brasileira.

    No mais, admiro muito o seu trabalho. Parabéns msm, de coração.

    Beijos :)

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  3. A TV chega aos 60 anos com força, mas com menos força em relação há anos atrás. A web é muito forte e tenho certeza que roubar muito espaço da TV nos próximos anos. Abraços.

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  4. Eu acredito que é possivel ter qualidade na Tv para informar, entreter, conscientizar...Agora acredito que para atrair o grande público que não está acostumado com estas propostas precisa ser menos didático e mais atraente...
    Eu gosto por exemplo de programas como da Oprah, o Happy Hour que falam sobre vários temas sem serem chatos...
    Existem séries que trouxeram um pouco de história como " A CASA DAS 7 MULHERES" embora romanceado
    Alguns programas que tentaram fazer uma critica bem humorada dos politicos como o CQC e dava audiência...
    O que não pode existir é a manipulação de ideias como dizer que o povo brasileiro não gosta de bons programas.Discordo.O povo brasileiro sabe reconhecer quando algo é bom, tem qualidade.O que precisamos é de opção.

    Bjusssssssssss

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  5. Olá Wander!!

    Acredito que hoje, mais do que nunca, vivemos numa televisão que é movida principalmente por fórmulas lucrativas importadas (especialmente dos EUA, não é, Silvio?), mesmo que as mesmas sejam vistas em canais diferentes e nos mesmos horários. Ter que assistir forçadamente essa mesmice de fato afasta principalmente as crianças e jovens(que serão os telespectadores do futuro - algo que os donos das emissoras deveriam pensar), que acabam migrando para a internet.

    Quanto às questões tecnológicas, acredito num avanço especialmente na área de teledramaturgia. As novelas, especialmente da Globo, possuem uma sofisticação impressionante, e um jeito meio brasileiro de contar histórias que a cada dia tem ganhado reconhecimento no exterior.

    Vc disse algo certíssimo, as atrações focam muito na região sudeste, principalmente no Rio e em SP, como se não houvesse mais nada de importante (e de bom) em outras regiões do país.

    E por fim, acredito que essa situação só irá mudar, quando o público, consumidor-final, demonstrar através do botão "Off" que as estratégias das emissoras estão completamente fora da realidade, e em alguns momentos, fora do bom senso.

    Abçs!!!

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  6. Oi Wander.
    Também acho que a TV, assim como outros meios como jornal e rádio, não vai acabar nunca até porque ela tem se aproveitado desse advento da tecnologia justamente para agregar algo a mais em sua forma de fazer comunicação. Se está aproveitando todo o potencial disso tudo e se será benéfico para todo o sempre? Isso só o tempo dirá. No que diz respeito ao conteúdo, é o que você falou, há muito pouco a se comemorar porque o vilão conhecido como audiência, grande responsável por isso, faz com que programas priorizem o sensacionalismo, a baixaria e o non-sense.

    abcs

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  7. A televisão não tem o dever de ensinar, mas em muitos casos ela ensina. Aprendi muito com documentários, reportagens, filmes, enfim. Claro que não podemos ter apenas uma visão otimista sobre ela. A comunicação é uma ferramenta poderosa, que pode ser usada para fins pouco nobres.

    Estou aberto a parcerias
    Um abraço

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