#CaféLiterário: Livro debate o papel dos pais no desenvolvimento de filhos independentes 

junho 18, 2025


Imagine se um dia alguém dissesse a você que seu maior objetivo como pai ou mãe deveria ser tornar-se desnecessário para seu filho. Soa quase ofensivo, não? E, de fato, a proposta pode causar um leve curto-circuito emocional em qualquer adulto que encara a maternidade ou a paternidade com zelo, afeto e um leve (ou grande) toque de superproteção. 

Mas é exatamente esse o ponto de partida do livro “Pais desnecessários, filhos independentes”, da empresária e especialista em comportamento empreendedor Lina Valléria, lançado pela Editora Gente. Para comprar o livro, clique aqui.

Com uma abordagem que mistura provocações inteligentes e reflexões práticas, Lina desmonta a ideia ultrapassada de que amar um filho é resolver tudo por ele. O livro surge como um verdadeiro chamado à ação e à reflexão para os pais que, movidos pelas melhores intenções, podem estar plantando sementes de dependência emocional e funcional nos filhos sem perceber. 

A proposta da autora não é libertar-se dos filhos, mas libertar os filhos de uma estrutura parental que, muitas vezes, impede seu pleno florescimento. A premissa pode até parecer radical à primeira vista, mas o que Lina sugere é uma virada de chave: tornar-se desnecessário nas tarefas do cotidiano, para ser ainda mais essencial no que realmente importa nas conversas difíceis, nos apoios emocionais e no fortalecimento da autoestima.

Em um mundo cada vez mais competitivo, digital e emocionalmente complexo, Lina propõe uma mudança de rota na educação. Ela acredita que o verdadeiro cuidado se manifesta ao preparar os filhos para enfrentarem a vida por conta própria sem que precisem ligar para os pais a cada boleto vencido, entrevista de emprego marcada ou discussão com o chefe. 

Ao longo do livro, a autora desenvolve a ideia de que criar filhos com independência emocional, cognitiva e prática é um ato de profundo amor. Um amor que não quer manter os filhos presos ao ninho, mas deseja vê-los alçar voos seguros, mesmo com ventos contrários.

Um dos méritos de Lina está na forma como ela comunica esse conteúdo sem culpas, sem julgamentos. Sua linguagem é direta, empática e bem-humorada, e o livro avança com a leveza de uma boa conversa de final de tarde, daquelas que fazem pensar por dias. 

Ela também recorre a casos reais de famílias que participaram de seus programas de mentoria: “Seja uma mãe desnecessária” e “Pais desnecessários, filhos independentes” para mostrar que essa transformação é possível, mesmo quando os laços já estão firmemente entrelaçados em dinâmicas de dependência.

Esses relatos, aliás, são um dos pontos altos da obra. Ao compartilhar os dilemas de pais que descobriram o quanto a superproteção podia estar sufocando o crescimento emocional dos filhos, Lina cria uma ponte com o leitor. Mostra que errar faz parte, que mudar é difícil, mas também profundamente libertador. São histórias comoventes, recheadas de conflitos cotidianos e revelações que funcionam como espelhos: é impossível ler e não se reconhecer em pelo menos uma situação.

Para os leitores mais práticos, o livro ainda traz um guia com as seis competências empreendedoras que a autora desenvolveu com base em sua experiência como facilitadora líder do Empretec/ONU. São ferramentas inspiradas em programas de formação de empreendedores, adaptadas com habilidade para o universo da parentalidade. 

O objetivo? Ensinar pais e mães a educarem filhos com mais autorresponsabilidade, autonomia e senso crítico desde a infância. É como aplicar a inteligência emocional e a lógica de negócios à missão (nada simples) de criar seres humanos inteiros, capazes de tomar decisões com confiança e seguir seus próprios caminhos sem desmoronar no primeiro tropeço.

A proposta de Lina Valléria caminha, portanto, na contramão do que muitos pais têm feito: não entregar a vida de mão beijada, mas ensinar o valor do esforço, da tentativa, do erro e da superação. Isso não significa abandonar os filhos à própria sorte: e a autora faz questão de esclarecer isso em diversos momentos, como também ser o tipo de pai ou mãe que ensina a pescar ao invés de entregar o peixe, todos os dias, prontinho no prato. É sobre estar ao lado, mas não à frente; ser suporte, e não escudo. 

Outro ponto que merece destaque é a maneira como a autora trata o autoconhecimento parental. Lina convida mães e pais a olharem para si, identificarem suas próprias crenças, medos e padrões. Ela argumenta que, muitas vezes, é a insegurança dos próprios adultos que leva à criação de filhos emocionalmente dependentes. Ao inverter essa lógica, o livro também se torna uma espécie de manual de crescimento pessoal para os pais, o que é um bônus inesperado e muito bem-vindo.

“Pais desnecessários, filhos independentes” é, portanto, um livro corajoso. Não no sentido de lançar verdades absolutas ou fórmulas mágicas (porque, sejamos honestos, elas não existem), mas no modo como cutuca, questiona e transforma a maneira como encaramos a relação entre pais e filhos. E, mesmo que você não concorde com tudo, a leitura oferece um convite irrecusável à reflexão: será que estamos, de fato, preparando nossos filhos para o mundo; ou apenas tentando protegê-los de uma realidade inevitável?

Ao final da leitura, talvez o leitor descubra que tornar-se “desnecessário” é, na verdade, uma das formas mais bonitas de permanecer para sempre na vida dos filhos, não como muleta, mas como farol. Um farol que ilumina, mas não conduz; que guia, mas não impõe; que acolhe, mas permite ir.

Disponível nas principais livrarias do país, o livro é uma leitura mais que recomendada para pais, mães, educadores e todos que acreditam que a autonomia é um presente que se oferece com amor e se cultiva com sabedoria. Porque, no fim das contas, como Lina Valléria bem nos lembra, educar é sobre preparar para a vida, e não para a eterna dependência.




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Jornalista

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