#SaúdeMental: Positividade Tóxica pode contribuir para o aparecimento de ansiedade e depressão

novembro 29, 2021


Você já ouviu falar sobre a positividade tóxica? É praticamente uma overdose de felicidade que é praticada por algumas pessoas de forma imperativa e que gera constrangimento ou mal estar. Segundo especialistas, essa atitude pode contribuir para o aparecimento de ansiedade e depressão, pois é importante as pessoas viverem os seus sentimentos de forma individual e sem pressão.

É importante deixar claro que positividade tóxica não tem nada a ver com otimismo. Acreditar que as coisas poderão dar certo ou que é possível ver o lado positivo dos acontecimentos pode deixar o dia a dia mais leve. Mas isso é algo de cada pessoa, da forma como ela encara a própria vida. Geralmente, quem pratica a positividade tóxica agride de forma passiva e ofensiva, condenando quem não é feliz o tempo todo.

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De acordo com a advogada Mayra Cardozo, especialista em Direitos Humanos, as redes sociais, em especial o Instagram, amplificaram esse fenômeno através do "fear of missing out" (medo de perder as oportunidades). "Existe uma aproximação entre ambos os fenômenos, mas a positividade tóxica é algo mais amplo que transpassa a esfera das redes sociais e acaba sendo incorporada em todos os âmbitos da nossa vida", explica Mayra. Abaixo, confira alguns exemplos de frases de positividade tóxica:

“Pense coisas positivas!”
“Nunca desista!”
“Apenas seja feliz!”
“Falhar ou errar não são uma opção!”
“Ser negativo não vai ajudar em nada.”
“Levante a cabeça! Não adianta ficar chorando!”
“Procure ver o lado bom das coisas.”
“Você não tem motivo para estar assim.”
“Pare de ser muito negativo!”
“Poderia ser tudo muito pior.” 

Além disso, a incessante exposição da suposta "vida perfeita" ou "corpo perfeito" também pode gerar esse ambiente de positividade tóxica. "Esse termo é bastante utilizado para a pressão propagada pelos discursos falsamente positivos aliados a uma vida editada para as redes sociais. Os influencers ditam tendências e pregam a felicidade como estilo de vida", alerta a psicóloga Vanessa Gebrim. 

Outro ponto relatado pela especialista é quando essas pessoas não usam o bom senso nas redes sociais, tendo a sua vida como única régua de conduta ideal. "Cabe a cada usuário e a cada rede social tomar as devidas providências. É importante que os influenciadores alinhem o seu trabalho à responsabilidade de criar um propósito em prol do bem-estar de todos e da saúde como um todo. A palavra chave é sempre equilíbrio e escolha consciente", complementa Vanessa. 

Abaixo, as especialistas esclarecem os principais mitos e verdades sobre positividade tóxica. Confira: 

1) A positividade tóxica está apenas no Instagram?

MITO. A positividade tóxica pode estar tanto nas redes sociais, como no ambiente de trabalho e até familiar. “Muitas vezes ela é algo que foi muito proliferado por alguns coaches, eu particularmente faço severas críticas à indústria que pertenço, por vezes terapeutas muito bem intencionados acabam sendo irresponsáveis ao invalidar ou suprimir algumas experiências e sentimentos dos seres humanos", revela Mayra. 

2) Só não é feliz quem não quer?

MITO. "Alguns profissionais sempre acabam trazendo a ideia de que se você não é feliz é culpa sua, ignorando os mecanismos de opressões existentes. Isso é muito perigoso", revela Mayra. Segundo Vanessa Gebrim, muitas pessoas acabam jogando os sentimentos debaixo do tapete para tentar estar sempre feliz, mas também precisamos passar pelas dores. "Não podemos e conseguimos apagar nossas dores ou questões. Não existe uma fórmula para a felicidade, precisamos trabalhar nossas dores e não anestesiá-las com o que a sociedade coloca como padrão", alerta. 

3) Existem profissionais que incentivam essa positividade tóxica?

VERDADE. Alguns profissionais sempre acabam trazendo a ideia de que se você não é feliz, a culpa é sua, ignorando os mecanismos de opressões existentes. "Um dos problemas que acredito que ocorrem quando as (os) coaches não possuem uma consciência inclusiva é que o processo não pode atingir seu resultado real. Hoje vivemos um momento histórico particular porque em tese somos livres, porém nossa própria liberdade causa coerção", orienta Mayra. Ainda de acordo com ela, o maior problema é que alguns terapeutas e coaches não possuem uma lógica inclusiva e acabam reforçando essa lógica da positividade tóxica e de produção desenfreada que acabam sendo uma das causadoras do colapso psicossocial.

4) A base da positividade tóxica é a felicidade.

VERDADE. "Porém, felicidade pressupõe liberdade, podemos dizer que liberdade pressupõe ausência de coerção. Atualmente nos deparamos com a seguinte situação: o sujeito que se considera livre, é, na realidade, um servidor absoluto que se explora voluntariamente", revela Mayra. 

5) Quanto mais fingimos a felicidade, mais triste estamos?

VERDADE. "Estamos enfrentando um colapso psicossocial inerente: somos confrontados com uma epidemia de doenças mentais, especialmente ansiedade e depressão, e inúmeros registros de insatisfação no trabalho. Na maioria dos países, os níveis de felicidade ou satisfação com a vida permanecem estagnados mesmo quando a renda aumenta", comenta Mayra. 

Ainda, de acordo com a psicóloga, o nosso sistema econômico se baseia na auto exploração e essa é a inteligência desse regime, pois a auto exploração não permite o surgimento de resistências. ”Conclui-se que estamos diante de uma crise inexorável de liberdade e da consequente ausência de felicidade, na qual se utiliza uma técnica de poder, como a positividade tóxica e a produtividade desenfreada seguida pelo lema “trabalhe enquanto eles dormem”, que não rejeita nem oprime a liberdade, mas a explora”, complementa. 

As pessoas são controladas pela técnica de dominação neoliberal e patriarcal que visa explorar não só a jornada de trabalho, mas a pessoa por completo. "O autoconhecimento, através de narrativas como a da positividade tóxica, está sendo utilizado como mecanismo para aumentar a produtividade, uma vez que bloqueios, fragilidades e erros devem ser removidos terapeuticamente para melhorar a eficiência e o desempenho. Por isso é fundamental unir o processo de coaching ao desenvolvimento de uma consciência inclusiva e emancipatória", finaliza Mayra Cardozo.




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