#Reconhecimento: Músico mineiro indicado ao Grammy Latino recria clássicos de Pixinguinha

novembro 22, 2021


Após ser indicado ao Grammy Latino, o clarinetista, saxofonista e compositor mineiro @caetanobrasil está pronto para a próxima fase da carreira. Depois de entregar o primeiro gostinho com “Carinhoso”, uma faixa intrínseca no DNA da música nacional, agora o músico revela a menos conhecida e igualmente grandiosa “Canção da Odalisca”, canção que Pixinguinha compôs há quase 100 anos. 

Chamando atenção de cara, o projeto gráfico segue a linha do primeiro single, também assinado pelo designer Renan Torres. A ilustração ajuda a contar outra parte da história, complementando a música. Artista inquieto que busca sempre ir além do óbvio, Caetano Brasil mergulhou em uma pesquisa sobre a figura da odalisca, a escrava do harém, como contam as Mil e Uma Noites

"Buscando um olhar contemporâneo e que encontra o meu espaço, decidi que o meu corpo LGBTQIA+ poderia vir como rótulo, numa lata de leite condensado, em que estamos tão acostumados a ver uma moça. Às vezes noto a música instrumental um tanto distante da realidade das pessoas. Parece que ela está num pedestal, divina e inacessível. E a mim interessa usar dela e de todos os espaços que ela me proporciona ocupar como instrumento para falar das minhas vivências, com suas dores e delícias. Penso que é assim que nos conectamos com quem nos ouve", reflete Caetano.


Romance oriental

De acordo com o próprio Pixinguinha, em seu manuscrito de arranjo para orquestra que data de 1932, esta composição é um romance oriental. Dialogando com culturas absorvidas em suas turnês internacionais, o renomado compositor e instrumentista trouxe para essa narrativa a sua própria brasilidade. O resultado é uma música cosmopolita e moderna para a época. Agora, Caetano Brasil oferece o seu próprio olhar contemporâneo para a criação de Pixiguinha.

"A Canção da Odalisca é um dos tesouros escondidos em sua grande obra, tendo pouquíssimas gravações registradas. Para este arranjo, eu quis trazer elementos da minha pesquisa que deu origem ao repertório do meu álbum anterior, ‘Cartografias’ (2019). Assim, a partir da proposta de Pixinguinha, pude ir ainda mais fundo na conversa com a música do Leste Europeu, com a música judaica e a do Oriente Médio", explica Caetano Brasil. Ouça a canção:

"Pensei logo de cara numa linha de baixo característica de um ritmo chamado çiftetelli (lê-se tiftetéli), tradicional em países como a Turquia, e em usá-lo como base para a construção do arranjo. No meio da peça resolvi incluir cadências, momentos em que o clarinete improvisa acapella, construindo paisagens, cenários que, todas as vezes que toco, apontam para lugares diferentes. Para mim, nestes trechos o clarinete incorpora a odalisca e toca como quem lamenta. Quando a banda retorna, o clima é de valsa-jazz e na gravação acabou rolando uma citação no início do meu solo de Jitterbug Waltz, uma composição do Fats Waller que eu amo tocar", completa.

Carinhoso

O primeiro single é uma recriação de “Carinhoso”, um dos maiores clássicos da música brasileira, e já está disponível em todas as plataformas de streaming. Livremente inspirado na versão para piano solo de Radamés Gnattali do concerto Pixinguincia do mundo contenha 70, o arranjo de Caetano para “Carinhoso” une o clássico ao caos e a inconstânporâneo. Inquieta e inconformada, esta recriação propõe um diálogo de nossos traços mais identitários com o mundo globalizado.

"Fazer compreender a melodia e que todo mundo entendesse do que se tratava logo de cara era minha intenção, mas, ao mesmo tempo, colocar quem ouve pra pensar: ‘Carinhoso tá diferente…’. Cada vez mais venho assumindo uma estética que mistura minhas influências, que vão do impressionismo francês ao post-bop de Coltrane. Pra vocês verem: em alguns momentos desta música tocamos simultaneamente em tons diferentes – coisa que foi bem explorada na música moderna do século XX - e no final, criei especialmente para esta versão, uma sessão de improvisação em que nós quatro improvisamos juntos. Gravamos, como de costume com esta minha banda, todos tocando ao mesmo tempo, ouvindo uns aos outros e criando na hora. Adoro esta energia que esse ‘ao vivo’ proporciona", conta Caetano Brasil. Ouça o single de "Carinhoso":

O projeto começou a ser gestado durante a produção de Cartografias (2019), segundo álbum do artista, quando ele chegou a gravar uma versão de “Um a Zero”. A música, lançada como single em dezembro de 2020, fez parte do repertório apresentado no Prêmio BDMG Instrumental e no Prêmio Nabor Pires Camargo, eventos nos quais Caetano foi eleito como Melhor Instrumentista e premiado em 1º lugar, respectivamente. Ver a sua versão única para algo tão clássico inspirou o músico a ir mais a fundo. 

"Pixinguinha talvez seja o compositor – junto com o Jacob do Bandolim – que há mais tempo está de forma contínua no meu repertório. E tocar suas músicas – nas rodas ou nas salas de concerto – é sempre me deparar com a sua genialidade. Me encantar de brilhar o olho com passagens que duram menos de 2 segundos. Nunca acaba. E saber que nunca acaba, hoje com 11 anos de carreira e uma banda que toca junto há oito anos, me faz querer e poder explorar esse terreno com respeito e ousadia. Esse projeto já habita minha mente faz tempo e agora é hora de trazê-lo ao mundo", conta Caetano.

# Ouça abaixo, o álbum Cartografias (2019) no Spotify:





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