#8M2020: Qual é a importância de incentivar as mulheres a lerem mais mulheres na literatura?
março 08, 2020Crédito: iStock / Reprodução. |
Por Sílvia Amâncio*
Há vários dias estou pesando sobre o que escrever para o @cafecnoticias neste 08 de março, Dia Internacional da Mulher. Nesse cenário de perda de direitos, de violência generalizada e incentivada contra as mulheres, da naturalização da comédia-miliciana da política, escolhi, acredito que com inteligência, falar sobre leitura.
Você já parou para pensar qual é a importância de incentivar as mulheres a lerem mais mulheres na literatura? A principal é a identificação. Saber que outras mulheres já passaram por algo parecido ou passam por alguma situação ruim que você nem fazia ideia que existia, ajuda a construir mais empatia e apoio. Nós mulheres precisamos nos unir!
Mas, seja por fuga (por que não?), seja para adquirir conhecimento e não termos dúvidas que precisamos lutar por nosso lugar ao sol, e essa luta não é igualitária, nem mesmo entre nós mulheres, fiz uma rápida pesquisa com mulheres sobre dicas de leitura. A pergunta que dirige a elas foi simples: "O que vocês indicariam para uma mulher ler hoje em dia?". Leitoras e leitores, teve de tudo. Bora conferir?
Uma amiga, mulher negra e jovem, me respondeu em menos de um minuto: o livro “Mulheres, raça e classe”, de Angela Davis. Sempre me surpreendo como essa autora, uma norte-americana comunista, integrante do partido das Panteras Negras na década de 1970, influenciam jovens brasileiras nos dias atuais. É inspirador, pois minha geração foi influenciada (e muito mal influenciada) pelas paquitas da Xuxa.
Outra amiga, companheira de viagens, me deu várias opções, mas depois lembrou da escritora gaúcha, Martha Medeiros e de seu livro sobre viagens inesquecíveis, “Um lugar na janela: relatos de viagens”. Para mim, e acredito que para ela também, mulheres viajando pelo mundo com o próprio dinheiro é revolucionário de certa forma. É quebrar uma lógica patriarcal e colonizadora em que as mulheres só saiam de casa se estivessem com um homem (pai, irmão, marido). Mulheres, viagem e viagem muito. Descubram o mundo!
"Amanhã vai ser maior", é o livro da antropóloga e cientista social Rosana Machado-Pinheiro, foi a sugestão de uma amiga jornalista atenta ao cenário político brasileiro. Trata-se, nas palavras dela, de um livro escrito por uma mulher, uma feminista que possui voz nas redes sociais, a ponto de pautar o debate nacional.
O livro traz um panorama dos recentes fatos políticos do país para nos ajudar a entender a ascensão da extrema-direita e como o Movimento #EleNão mexeu nas estruturas de uma campanha que enxergou nas mulheres uma ameaça, devido à alta rejeição, e tornou a defesa das mulheres uma das suas principais pautas. O recado foi dado: temos força!
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Sim, elas existem...e não teve dúvidas para responder: “leia qualquer coisa sobre a vida da Leopoldina”. Mãe, mas quem é essa? Indaguei. A Imperatriz Leopoldinense, a Maria Leopoldina de Áustria, esposa de Dom Pedro I, que foi “fruto de uma transação comercial” para a família real portuguesa, com pouca idade e sofreu todos os tipos de violência dentro do matrimônio.
Morreu jovem, com apenas 29 anos, após ter parido cerca de nove filhos. Apanhava dia e noite do Imperador e era estuprada com frequência por ele, segundo biógrafos. É interessante, a partir dessa leitura, como qualquer mulher, até as da realeza são subjugadas por homens, por seus pais, irmãos, maridos. Os crimes de gênero estão nas ruas e nos palácios.
E, eu: o que indico de leitura nesse 08 de março? Você leitora, leitor deve estar se indagando... Indico a Mafalda. Certa vez, entrevistei a professora de Enfermagem em Saúde Coletiva da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (EEUSP), Maria Godoy Serpa da Fonseca, e no final da conversa relatei minha dificuldade em ler textos teóricos sobre gênero e feminismo.
Ela categórica, ávida defensora dos direitos das mulheres e dizendo que a Enfermagem foi a primeira profissão da área da saúde a construir conhecimentos à luz de gênero me disse: leia Mafalda. Trata-se de uma personagem criada pelo cartunista argentino Quino, em 1964, que se mostra preocupada com a humanidade, com a paz mundial e com a degradação do mundo. Em suas tirinhas vemos sua relação com a família, com os amiguinhos, com a escola e com a comunidade que a cerca.
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Sua meta de vida é se tornar intérprete das Nações Unidas para falar uma língua única em que todos os líderes mundiais entendam e parem de brigar entre si. Quer leitura mais representativa do que Mafalda para falar sobre mulheres? Criamos, cuidamos, apaziguamos, protegemos, acolhemos, lutamos, ensinamos, e acima e apesar de tudo, sobrevivemos e seguimos!
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*Perfil: Sílvia Amâncio é jornalista, entusiasta da Sétima Arte e de um tanto de outras coisas. Especializada em comunicação em projetos ambientais e especializando em Comunicação e Saúde. Costuma escrever sobre relações viróticas de trabalho, saúde, direitos humanos e mídia, sempre levando para o lado latino-americano e socialista da vida ao sul da fronteira.
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Jornalista
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