#DiárioDeBordo: Uma mineira em terras lusitanas a procura de um novo recomeço

fevereiro 04, 2020

A "Ponte Luiz I" liga as cidades do Porto e Vila Nova de Gaia, separadas pelo rio Douro, em Portugal. Crédito: iStock / Reprodução. 

Por Izabella Bueno*


Como tudo começou...

Meu interesse em viajar para o exterior começou desde a infância. Filha de pai caminhoneiro e mãe guia de viagem, viajar era uma grande paixão para mim. Por muito tempo, o mais longe que havia percorrido era no caminhão do meu pai até o Paraná ou até a Bahia de ônibus nas excursões da minha mãe.

Em 2012 tive o meu primeiro contato com a Europa em uma viagem em família à convite de uma amiga que nos hospedou na Itália. Conhecemos lugares que nunca imaginamos conhecer. Não foi apenas a minha primeira viagem internacional, mas também meu primeiro vôo de todos e despertou em mim aquela vontade de viajar ainda mais.

Entretanto, imaginava que uma viagem assim nunca mais aconteceria, principalmente sendo apenas uma garota universitária de periferia, de família humilde, que teve tanta sorte em um momento único da vida. Mas outras oportunidades iriam surgir...

O estalo 

Me graduei em 2015 em Jornalismo Multimídia pelo Centro Universitário UNA, época que a crise econômica e política assolou o nosso país. O mercado cada vez mais competitivo e exigente me levou a trabalhos fora da minha área, desemprego e, posteriormente, à depressão.

Busquei mais qualificações fazendo um MBA em Jornalismo Digital e um curso profissionalizante em design gráfico e consegui trabalho em uma fábrica que me ajudou a reerguer. Na mesma época comecei fazer trabalhos freelancer de design gráfico e também escrever para um jornal da região de Ibirité, onde eu morava.

Certo dia, voltando do trabalho encontro a minha casa arrombada. Várias coisas de valor haviam desaparecido e com elas a minha sensação de liberdade. A gente só dá valor à sensação de segurança quando perdemos. Fiquei doente fisicamente por causa disso e acabei perdendo o meu emprego.

Quando estava quase perdendo a razão novamente, me surgiu uma frase, dessas que aparecem no nosso feed de notícias do Facebook: Você não pode se curar no mesmo ambiente em que adoeceu. Retire-se. E pronto, me retirei.

A decisão

No final de 2018 estava juntando as economias com meu esposo, o acerto da demissão da fábrica, e fazendo as malas para a Europa. Depois de muitas conversas, decidimos que precisávamos conhecer outras possibilidades e os melhores lugares para imigrar. Em nosso roteiro passamos por algumas cidades da Espanha e de Portugal, mas uma cidade em especial ganhou o nosso coração. 

Nos apaixonamos pelo Porto assim que o nosso trem atravessou uma ponte sob o Rio Douro. Nos quatro dias que estivemos na cidade, repetimos um para o outro que tínhamos encontrado o nosso novo lar. Em um dos passeios, em frente ao prédio da Reitoria da Universidade do Porto, profetizei (acho que agora posso usar essa palavra) que iria estudar ali.

A Universidade do Porto

Costumo dizer que as coisas aconteceram muito rápido desde aquela viagem. Retornamos para o Brasil em dezembro e nos concentramos em tomar a melhor decisão quanto às opções de imigração e visto. Optei pelo visto de estudante e decidi tentar uma vaga na Universidade do Porto, uma das mais concorridas de Portugal.

Contei com a ajuda da minha paraninfa da graduação, Cândida Lemos, que, além de ex-aluna da Universidade do Porto, era também embaixadora da instituição em Minas Gerais e me deu todas as informações para concorrer ao mestrado já em fevereiro.
Visita à Universidade do Porto em 2018 como turista e em 2019 como aluna. Crédito: Arquivo Pessoal.  
A candidatura para o mestrado é, basicamente, análise de currículo profissional e acadêmico. Eu, que não tinha experiência na área de formação, apenas estágios, comprovei os cursos que fiz e anexei o portfólio de publicações da faculdade junto com o meu histórico e um artigo publicado na iniciação científica. Também coloquei uma carta de recomendação da professora Cândida que, tenho certeza, foi fundamental para o meu resultado.

Em março de 2019, saia a primeira fase de colocações e eu estava lá, em 6º lugar. Uma mineira de origem simples, que estudou a vida toda em escola pública, estava sendo aprovada para cursar mestrado em uma das melhores universidades da Europa, com base naquele currículo que estava sendo ignorado por tantas empresas no Brasil. 

Hoje, vivo na cidade do Porto e sou muito grata pela oportunidade de estar aqui. Sou a prova de que podemos chegar onde nem podemos imaginar e espero poder ajudar outras pessoas a tornarem o sonho de viver, estudar ou viajar na Europa possível. Sou a nova correspondente do Café com Notícias e trarei informações sobre imigração, visto, turismo e muito mais por aqui no blog. Acompanhe!



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*Perfil: Izabella Fonseca Costa Bueno é jornalista multimídia e mestranda em Ciências da Comunicação na Faculdade de Letras da Universidade do Porto. É correspondente do blog Café com Notícias em Portugal.




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