#Investigação: Cerveja Belorizontina é apontada pela Polícia como causa de doença misteriosa no Buritis

janeiro 10, 2020

Crédito: Feira Cultural / Divulgação. 

Em uma época em que as Fake News ainda nos assombram, é preciso ficar atento sobre o que é real ou boato nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens. Porém, um desses boatos que passou a circular na internet na época das festas de fim de ano em Belo Horizonte (MG), ao que parece, pode ter o seu fundo de verdade. 

Grupos de Whatsapp começaram a divulgar que algumas pessoas teriam sido internadas com uma doença misteriosa, em estado grave, após terem ingerido uma marca de cerveja artesanal e sido, supostamente, intoxicadas no bairro Buritis, região Oeste de BH. 

Os boatos relacionavam o estado grave das pessoas ao fato delas terem consumido a cerveja Belorizontina, da Backer, uma marca de cerveja artesanal que estava em expansão na capital mineira e no mercado nacional. As mensagens indicavam também para as pessoas tomarem cuidado e não consumir a bebida no Buritis, indicando ainda o Supermercado Super Nosso como local em que estes produtos teriam sido adquiridos.
Crédito: Fotos Públicas / Reprodução. 

Na época, a Backer emitiu uma nota à imprensa negando qualquer envolvimento com o caso. "Devido ao grande sucesso da Belorizontina e a grande concorrência no mercado, utilizam dessa notícia MENTIROSA, para atingir a marca que é tão querida pelos mineiros e não passa de uma tentativa de denegrir a nossa imagem"

O mesmo fez o Supermercado Super Nosso que se posicionou classificando a narrativa como infundada e afirmando que mantém um alto controle de qualidade em suas unidades. "A Cervejaria Backer é nossa parceira há anos e acreditamos firmemente que são apenas boatos para comprometer a imagem de uma marca de sucesso".

Porém, o caso que estava sendo tratado apenas como um boato de internet tomou outras proporções. Na última quarta-feira (08/01), a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) emitiu um comunicado à imprensa mostrando todo a ordem cronológica de notificação no Sistema Único de Saúde (SUS) dos casos que, até então era tratados como uma intoxicação, e que passaram a ser classificados como síndrome nefroneural (insuficiência renal aguda com alterações neurológicas). 

Com isso, os exames laboratoriais passaram a ser realizados na Fundação Ezequiel Dias (FUNED) e a Polícia Civil de Minas Gerais assumiu as investigações. Além disso, o Ministério Público Estadual/Procon-MG, a Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte e o Ministério da Agricultura também passaram a acompanhar o caso mais de perto.
Crédito: Juarez Rodrigues / Estado de Minas / Reprodução. 

Na mesma semana, a Polícia Civil divulgou um exame pericial que identificou a presença de dietilenoglicol em amostras da cerveja Belorizontina. Trata-se de uma substância, utilizada na refrigeração durante a produção da bebida e que é compatível com os sintomas apresentados pelos pacientes da síndrome nefroneural

Os lotes em que foi encontrado o agente tóxico são L1 1348 e L2 1348, em torno de 60 mil garrafas. Eles serão recolhidos do comércio. A orientação é para quem tenha garrafas desses lotes em casa não as consuma e leve à Secretaria Municipal de Saúde de BH.

Outro detalhe que chama atenção no caso é que todas as pessoas que adoeceram são do sexo masculino, moradores (ou que frequentam) o bairro Buritis, em BH. Uma das vítimas, Paschoal Demartini Filho, de 55 anos, que morreu em Juiz de Fora, esteve na casa da filha, no Buritis. O genro dele também adoeceu. 

Até o momento, dez pessoas apresentaram sintomas da doença e seguem internadas. Na sexta-feira (10/01), a fábrica da Backer, no bairro Olhos D'Água, região oeste de BH foi interditada pelo Ministério da Agricultura para apuração do caso. 

Crise

Independentemente das apurações e análises laboratoriais que ainda estão em curso, o estrago contra a Backer e todas as cervejas artesanais já está feito, conforme escreveu o jornalista Keirison Lopes para a Revista Fórum. No texto, ele afirma que quem ganha com isso é AMBEV (Companhia de Bebidas das Américas), que comanda um milionário monopólio de venda de cervejas no Brasil e patrocina vários eventos culturais no país, como o Carnaval de Belo Horizonte.
Crédito: Backer / Divulgação. 

Para a Backer, o estrago no posicionamento da marca é ainda pior. Nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens, surgem figurinhas e piadas relacionando a cerveja ao envenenamento. A empresa continua insistindo na divulgação de comunicados falando que não faz uso do dietilenoglicol, porém fica cada vez mais difícil concorrer com os noticiários, uma vez que o Ministério da Justiça e Segurança Pública determinou à cervejaria a realização de uma campanha de recallSe a empresa ainda quer ter uma sobrevida no mercado, já passou da hora de criar um plano de ação para o gerenciamento da crise e gerar mecanismos para o reposicionamento da marca, sobretudo na web.







Gostou do Café com Notícias? Então, siga o blog no Instagram, no Twitter, no Facebook, no LinkedIn e assine a nossa newsletter.






Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

0 comentários