#Representatividade: Maju Coutinho estreia no JN em semana que o debate racial ferve no Brasil

fevereiro 17, 2019

Crédito: TV Globo / Reprodução. 

Na edição do último sábado (16/02), a jornalista @MajuCoutinho estreou na bancada do Jornal Nacional (JN), da TV Globo, como apresentadora. Com isso, ela passa a figurar na lista restrita de substituições de folgas de William Bonner e Renata Vasconcelos que contam também como plantonista: Monalisa Perone, Heraldo Pereira, Rodrigo Bocardi, César Trali, Sandra Annemberg, Ana Luiza Guimarães, Ana Paula Araújo e Giuliana Morrone. 

A promoção da “garota do tempo” foi bastante comemorada nas redes sociais pelo público, deixando o nome da jornalista entre os assuntos mais comentados na webEm 50 anos de existência do JN, Maju é a primeira mulher negra a comandar o noticiário mais tradicional e de maior audiência do Brasil. 

"Estou muito feliz com esta oportunidade agora, dada pela emissora, de ser plantonista do Jornal Nacional aos sábados. (...) Tem esse fato simbólico de eu ser a primeira mulher negra a ocupar a bancada. É simbólico e, infelizmente, ainda é notícia. É uma comoção para uma população representativa do país que não se viu ainda contemplada naquela bancada", disse Maju em entrevista ao jornalista Maurício Stycer, no UOL. 

Curiosamente, no dia da estreia de Maria Júlia Coutinho na bancada do JN, a TV Globo escalou outros três jornalistas negros para comandarem telejornais no mesmo dia. Além de Maju, @ThiagoOliveira (colunista de esportes do Hora 1 e do SPTV) e Zileide Silva (repórter de política em Brasília-DF) ancoraram, respectivamente, "Globo Esporte" e o "Jornal Hoje". 

Para a população negra que se vê pouco representada na TV aberta, a comoção em torno da escalação de Maju, Thiago e Zileide mostra o quanto que a questão da representatividade social e da diversidade nos meios de comunicação ainda é um tema que precisa ser melhor acolhido por parte dos diretores e empresários de mídia do País. 

Se sairmos fora da Globo, os jornalistas apresentadores/repórteres negros também são em menor número: Joyce Ribeiro (TV Cultura), Luciana Camargo e Rodrigo Cabral (RedeTV), são alguns exemplos.



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Mesmo o Brasil tendo a maioria da sua população negra, isso não se reflete na mídia. Na própria TV Globo, Heraldo Pereira (âncora da Globo News e que também está na fila de plantonistas do JN) e Glória Maria (que já foi repórter do JN, apresentadora do “Fantástico” e, atualmente, está no “Globo Repórter”) são os jornalistas negros que a Globo ainda mantém no vídeo com mais tempo de casa. 

Como a própria Maju bem pontuou, esperamos que um dia isso não precise ser notícia e que tenhamos mais diversidade e representatividade não só no jornalismo da Globo, mas nas demais emissoras.

Debate racial

Muitos internautas apontaram que a escalação dos três jornalistas negros é uma resposta da emissora carioca ao público que tem acusado a Globo de omitir os comentários racistas de participantes na edição da TV aberta do Big Brother Brasil 19. Somente depois de um mês do reality show no ar, é que o apresentador do #BBB19, Tiago Leifert, falou ao vivo sobre as denúncias de racismo e intolerância religiosa sofrida pelos participantes negros da edição, em especial Rodrigo e Gabriela.

Mesmo sabendo que racismo é crime, a Globo demorou a se posicionar claramente para o público da TV aberta. Anteriormente, a emissora havia decidido pela expulsão de Vanderson Brito do #BBB19 para que ele pudesse se explicar à Justiça sobre as acusações de crimes que teriam sido cometidos contra três mulheres diferentes. 

Nesta semana, Tiago Leifert destacou que todos os vídeos contendo falas consideradas controversas foram enviados às autoridades, que deverão julgar caso a caso. “Os vídeos contendo as falas consideradas ofensivas foram enviados às autoridades competentes e estão em avaliação. Dependendo do parecer dessas autoridades, o programa tomará providências como sempre fez", explicou.

Outro debate que ganhou bastante destaque nas redes sociais esta semana foi o caso do adolescente negro morto por um segurança branco dentro do supermercado Extra, no Rio de Janeiro. Mesmo que as pessoas em volta do segurança pedissem para que ele soltasse o rapaz que não estava oferecendo qualquer tipo de perigo, o profissional continuou o imobilizando até que o garoto morresse estrangulado. 

O motivo: o segurança achou que ele poderia assaltar o supermercado, o que não aconteceu. E o mais impressionante: o segurança foi solto após pagar uma fiança de R$ 10 mil. Mais uma vida descartada. Uma vida negra. Como fica essa família que perdeu um ente querido de forma gratuita? Que Justiça é essa que estabelece uma fiança para alguém que mata o outro?

Enquanto o brasileiro não assumir que vivemos em um país racista em que vidas negras são descartadas todos os dias por conta da violência e que o preconceito verbal ainda se faz presente, não conseguiremos avançar no debate racial, sobretudo na questão da cidadania e dos direitos humanos. 

A punição é importante para que os outros crimes não aconteçam – ou que sirvam de parâmetro punitivo, pelo menos, mas não é só isso. A invisibilidade do negro na mídia e a omissão da questão racial são uma forma de racismo institucionalizado. Como mudar isso? Com educação, mas também com inclusão social, com noções de cidadania e de pertencimento social, que infelizmente nem todo mundo tem acesso. Mas, de todo caso, um primeiro passo já foi dado: o debate.





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