#CrisePolítica: Renúncia de Jean Wyllys mostra a fragilidade da Democracia na gestão Bolsonaro

janeiro 25, 2019

Crédito: UOL / Reprodução.

Em comunicado nas redes sociais, o deputado federal @JeanWillys (PSOL-RJ) revelou, na última quinta-feira (24/01), que está renunciando ao 3º mandato na Câmara dos Deputados, em Brasília-DF, e que irá morar no exterior e se dedicar ao doutorado. O anuncio se deu após Wyllys relatar que não está se sentindo seguro de voltar para o Brasil, após sofrer ameaças de morte e não poder exercer a sua visão política como parlamentar.

O exílio político de Wyllys é uma resposta aos caminhos tortuosos da gestão Bolsonaro que tem inflado nas redes sociais a intolerância, a homofobia e o preconceito, desde a eleição presidencial. 

Com uma atuação vexatória no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e muito criticado pela imprensa internacional, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) tenta sem sucesso abafar o escândalo de corrupção (Laranja-Gate-Miliciano-Piroquinha) que envolve o seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, que já tinha usado o motorista como laranja e misteriosamente fez vários depósitos de R$ 2 mil no mesmo banco, se negando a responder o motivo de não ter optado por uma transferência ou cheque nominal.

Em meio a #crisepolítica, Bolsonaro publicou em seu Twitter uma mensagem cifrada: “Grande dia!”. Paralelamente, o filho dele, Carlos Bolsonaro, que durante a campanha era responsável pelas contas do pai nas redes sociais, lançou em seu Twitter quase ao mesmo tempo: “Vá com Deus e seja feliz!”. Quando os tweets foram interpretados como resposta à Wyllys, ambos negaram relação. “Fake News”, escreveu. “Referi-me à missão concluída, reuniões produtivas com Chefes de Estado [em Davos]”. ARREGÕES.

Por conta do comportamento infantil, Bolsonaro e seus filhos foram interpelados por vários internautas, entre políticos, artistas, jornalistas e influenciadores digitais, que se chocaram com a falta de noção do presidente de comemorar que um deputado eleito de forma democrática tenha medo de exercer o seu mandato com medo de ser assassinado no país que ele governa. 

"Respeite o Jean, Jair, e segura sua empolgação. Sai um LGBT mas entra outro, e que vem do Jacarezinho. Outro que em 2 anos aprovou mais projetos que você em 28. Nos vemos em Brasília", postou no Twitter em resposta a Bolsonaro, David Miranda, deputado que será suplemente de Jean a partir do dia 1º de fevereiro na Câmara dos Deputados, em Brasília-DF.

Teoricamente, a saída de Jean Wyllys do Brasil é o primeiro exílio político da gestão do Bolsonaro que tem colecionado escândalos – com menos de um mês no cargo, em meio a uma construção de uma política nacional entreguista das riquezas do País ao capital estrangeiro e de desprezo pelas pautas sociais. Fora isso, Bolsonaro tem escolhido de forma seletiva os veículos de comunicação brasileiros que quer falar e mostra descontrole emocional ao ser indagado por questões que fragilizam o seu mandato, como o escândalo de corrupção do filho e o suposto envolvimento dele com milicianos.



No dia em que Wyllys anuncia seu exílio, a Lei de Acesso a Informação, que tanto tem ajudado a imprensa e o cidadão nas questões que envolvem transparência dos dados público, sofre uma retaliação significativa por parte do Executivo. Enquanto isso, o Banco Central quer excluir parentes de políticos da lista de monitoramento obrigatório das instituições financeiras e acabar com a exigência de que todas as transações bancárias acima de R$ 10 mil sejam notificadas ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda. Curioso, não?

Independente da visão de política de cada um, a ida de Jean para o exterior repercute de forma negativa não só aqui no Brasil, mas sobretudo no exterior. Isso mostra o quanto a nossa democracia está ameaçada, já que o espaço político para o contraditório à atual gestão encontra-se cada vez mais amordaçado. Além disso, o ato tem um peso gravíssimo para a comunidade LGBTQIA+ que perde uma das suas vozes mais expoente na política nacional.

Jean Wyllys vive com escolta policial desde o assassinato da vereadora carioca, Marielle Franco, amiga dele e colega de partido. Apesar do caso ainda não ter sido concluído e as autoridades ainda não terem encontrado as pessoas que mataram (e que mandaram matar) Marielle, as últimas informações levam a crer que a milícia do Rio está envolvida diretamente com o caso.

Em entrevista para a Folha de S. Paulo, Jean Wyllys – que ficou conhecido nacionalmente por vencer a 5ª edição do Big Brother Brasil, da TV Globo, disse que vai se dedicar a vida acadêmica no exterior e que pesou o fato de que familiares de um ex-PM suspeito de chefiar milícia investigada pela morte de Marielle trabalharam para o Flávio Bolsonaro durante seu mandato como deputado estadual pelo Rio de Janeiro. "Me apavora saber que o filho do presidente contratou no seu gabinete a esposa e a mãe do sicário", disse Jean. 
Crédito: Revista Exame / Reprodução.

Outro fato que pesou na decisão de Jean deixar o Brasil é que ele tem sido muito atacado nas redes sociais por conta da sua militância pela causa LGBTQIA+, desde o episódio do cuspe em Bolsonaro no dia do Golpe travestido de impeachment que tirou Dilma Rousseff da presidência e, sobretudo, durante as eleições do ano passado, no qual a extrema direita ultraconservadora tentou associar a imagem dele, sem sucesso, a pedofilia e ao Kit gay nas escolas (que nunca existiu, diga-se de passagem).

No seu lugar, entrará o jornalista @DavidMiranda, vereador na cidade Rio de Janeiro, que era suplemente do parlamentar, e também trabalha as questões de representatividade LGBTQIA+, justiça social, direitos humanos, assim como Willys. 

Miranda tem também uma militância em defesa da causa de proteção animal no Rio de Janeiro e foi um dos jornalistas brasileiros responsáveis por trabalhar diretamente com Edward Snowden no processo que trouxe à tona na imprensa a captação de dados online dos brasileiros pelo governo dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha. Ele é casado com o advogado e também jornalista, Glenn Greenwald, que é britânico erradicado no Brasil, responsável pelo jornal online The Intercept Brasil

Por questões de segurança, Jean preferiu não informar a sua atual localização. No entanto, ele segue esperançoso por dias melhores e menos violentos. "Para o futuro da causa LGBTQIA+, eu preciso estar vivo. Eu não quero ser mártir. Eu quero viver. Acho que essa violência política que se instalou no nosso país vai passar. Pode ser que no futuro eu retome isso, mas eu nem penso em retomar porque há tantas maneiras de lutar por essa causa que não passam pelo espaço da institucionalidade", disse Wyllys à Folha de S. Paulo.





Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, siga a company page no LinkedIn, circule o blog no Google Plus e assine a newsletter.






Jornalista

MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

0 comentários