#BBB19: Reality show tem se pautado pela discussão do racismo por meio da divisão social

janeiro 31, 2019


Diferente das edições passadas em que brigas e discussões movimentavam a novelinha do cotidiano do Big Brother Brasil (BBB), a edição de número 19 do reality show tem se pautado pela discussão do racismo por meio da divisão social de classes. Ou seja, um retrato do Brasil nosso de cada dia, que não se assume racista, mas joga nas costas dos hábitos culturais a perpetuação de vários tipos de preconceito que se arrastaram ao longo dos séculos.

Nas redes sociais, os próprios internautas dividiram os participantes em Vila Mix e Baile da Gaiola. A primeira, uma importante casa de show de música sertaneja voltada para a elite branca paulista, enquanto a segunda ficou famosa por ter a festa de funk carioca mais famosa do País voltada, inicialmente, para as pessoas mais pobres e de periferia.

Nesse contexto, dois participantes têm se destacado na forma como lidam e denunciam o racismo no reality show: GabrielaRodrigo. Ao invés de partirem para a briga com os participantes preconceituosos, os dois têm preferido o diálogo, mesmo quando é necessário ser mais firme. Outra participante que tem se revoltado com o excesso de preconceitos e falas racistas do grupo, é Hana – mesmo sendo uma mulher não-preta, mas nem por isso insensível ao sistema de opressão.

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Tudo começou a partir do ronco de Rodrigo que estava incomodando Isabela. Mas não era só Rodrigo que estava roncando. Pelo fato de ser negro, apenas Rodrigo foi destacado em uma conversa que a participante resolveu promover com todos da Casa. Gustavo e Tereza, dois outros participantes brancos que também roncam não foram expostos e, com isso, poupados do constrangimento. Mas, não era só o ronco de Rodrigo. Mas sim a presença dele no quarto. E isso ligou a luz amarela nos outros participantes negros.

A falta de um embate mais agressivo tem causado um alvoroço entre o público que, de um lado, curti o fato de pela primeira na história do BBB, esse tipo de discussão tem sido tratado com profundidade e com o protagonismo negro. Mas, por um outro, há quem prefira que houvesse uma atitude mais conflituosa e ativa. Parte da mídia tradicional que cobre entretenimento, não acostumada a ouvir esse tipo de discussão, também não consegue relatar o fato ou dar a devida importância aos debates que estão acontecendo na “casa mais vigiada do Brasil”, minimizando a edição como chata ou sem graça.
Gabriela e Rodrigo são participantes do BBB 19. Crédito: TV Globo / Reprodução. 

A própria direção do reality show assumiu que gostaria de ver mais “fogo no parquinho”, no programa de terça-feira (29/01), em que o médico Gustavo foi o segundo eliminado do reality, com 78,94% dos votos, em um Paredão Triplo com Paula (14,45%) e Hariany (6,61%). Um índice bastante alto de rejeição, diga-se de passagem, pelo fato dele também ser um dos participantes racistas. Em uma cena, Gustavo se limpa após receber um abraço de Rodrigo. Em outro momento, o médico desconsiderou Danrley de pertencer ao grupo deles por ser um garoto negro da favela carioca.

Outra participante que tem se destacado pelo racismo, é a mineira Paula, que cria uma porca como um animal de estimação em um sítio em que mora com a família no interior de Minas Gerais. Mesmo advertida pelos colegas do quanto as falas delas são uma forma de reproduzir a opressão dos brancos contra os negros, ela ainda não se tocou. Até uma campanha nas redes sociais contra a participante tem sido feito para que a Globo pare de poupá-la na edição da TV aberta e permita que o grande público veja o que está acontecendo de fato.


Ainda no paredão de terça-feira (29/01), a TV Globo tentou amenizar a situação ao descrever a atual divisão de grupos na casa entre os intelectuais (pretos e/ou pobres) e os festeiros padrãozinhos (ricos e/ou não-pretos). Sendo que o debate vai muito além disso e é algo que só reforça o quanto o racismo ainda é um tema duro de ser colocado de forma clara na sociedade, sobretudo na TV aberta. 

Racismo é crime no Brasil. E, apesar de sermos um País racista, a população não-preta tem medo de admitir isso publicamente. Quando são confrontados ou questionados por uma fala racista ou preconceituosa, usam a desculpa de que “foi só uma brincadeira” ou que “todo mundo fala isso, que é algo cultural”. A cultura é mutante. Se não mudarmos os nossos hábitos, reconhecermos os nossos privilégios e não passarmos a ter empatia pelo outro, um grupo social sempre vai ficar oprimindo o outro pelo Poder. Abaixo, confira alguns tweets que têm repercutido na internet:







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