#Análise: Fim do "Vídeo Show" é o reflexo da mudança de perfil do telespectador na TV aberta

janeiro 08, 2019

Crédito: TV Globo / Reprodução. 

Depois de 35 anos no ar, o Vídeo Show deixa a programação da TV Globo. A última edição vai ao ar nesta sexta-feira (11/01), às 14h. O programa que mostrou os bastidores da Globo começou a ser exibido em 1983 e, nos últimos tempos, tem perdido audiência de forma gradativa para Record TV que, no mesmo horário, exibe o quadro "A Hora da Venenosa", no Balanço Geral.

Por mais que seja algo esperado por muitos telespectadores que consideram que o programa perdeu a relevância quando Miguel Falabella, Cissa Guimarães, Renata Ceribeli e Sarah Oliveira deixaram a atração, a TV Globo tentou diversos formatos e apresentadores, alguns sem sucesso e com grande índice de rejeição. 

Até a apresentadora Angélica passou pela atração em 2001 e ficou uma década apresentando o “Vídeo Game”, um game show sobre a história das produções da Globo com a participação de artistas do elenco da emissora carioca.

O mais problemático foi quando @ZecaCamargo assumiu a apresentação do programa e descaracterizou toda a atração, o que causou uma enorme antipatia no público que não conseguiu se conectar com a proposta que misturava talk show com game, sem ao menos mostrar o que de relevante acontecia nos bastidores das produções da Globo.

Para minimizar os danos, @OtavianoCosta foi chamado para conduzi matérias e quadros. O resultado deu tão certo que Zeca acabou saindo do programa e Otaviano virou titular, apostando sempre na tentativa de resgaste afetivo que o público sempre sentiu falta na fase áurea da atração. Até @MiguelFalabella foi convocado para voltar a fazer o encerramento do programa com mensagens positivas.

O mais assertivo formato do Vídeo Show tenha sido a época em que @MonicaIozzi e Otaviano Costa dividiram a apresentação do programa em 2015, mas o que não durou muito tempo porque Iozzi queria se dedicar a carreira de atriz...mesmo o público e a crítica especializada achando que ela se sobressaiu melhor artisticamente como apresentadora.

Talvez, mais futuramente, e se a Globo for audaciosa, o Vídeo Show possa ganhar uma sobrevida na internet, uma vez que falar dos bastidores das novelas e dos programas desperta interesse do público que acessa o site @Gshow e o @GloboPlay por meio de reportagens, quadros e programetes...uma vez que a marca Vídeo Show é forte e desperta interesse no público. #FicaADica

Veja também:
- Globo planeja novo programa que substituirá Vídeo Show
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Mas, mais do que falar sobre o fim do Vídeo Show na TV aberta, a gente precisa analisar um outro ponto importante: o perfil do telespectador mudou. Muitas das coisas oferecidas na grade de programação atual, ele prefere consumir pela internet e não tem mais a paciência de só ter acesso ao conteúdo em um determinado horário. 

Com o crescimento das plataformas de vídeo ondemand e do próprio Youtube, já passou da hora das emissoras de TV brasileiras mudarem de estratégia e serem mais criativas na área de transmídia e de social media. O que até bem pouco tempo atrás chamávamos de “segunda tela” (uso de tablete, celular ou notebook enquanto assiste a TV), hoje já pode ser entendida como a primeira em muitos casos.

É nessa tela que o telespectador dialoga nas redes sociais com outras pessoas que estão assistindo a mesma notícia, evento esportivo ou capítulo da novela/série. É ali que as hashtags no Twitter e no Instagram começam a crescer e contribuir para o fomento do debate nas redes sociais com análises críticas, debochadas ou sem noção, inclusive com o uso (ou a criação) de memes.

O fim do Vídeo Show mostra que as mudanças de comportamento do telespectador da TV aberta estão cada vez mais gritantes e também afetam a Globo, líder de audiência no País. Enquanto isso, as outras emissoras parecem ignorar alguns sinais de mudança de perfil do público e registram uma queda diária de interesse do público pela programação ao vivo. Pare para pensar: o que faz uma pessoa ligar a TV hoje em dia? Notícias locais ao vivo, evento esportivo e teledramaturgia.

A tendência atual de todas as emissoras de TV aberta é abrir cada vez mais espaço para o telejornalismo, sobretudo o telejornalismo local. As pessoas querem saber o que acontece na região que elas vivem. 
Crédito: iStock / Reprodução. 

Na TV Globo, por exemplo, a partir da próxima segunda-feira (21/01), o "Bom Dia Praça" terá 2 horas de duração, de 06h às 08h da manhã, antecedendo o “Hora 1” que fica no ar de 04h às 06h, criado com o objetivo de informar o telespectador que está saindo para o trabalho ou para a escola. 

Essa mudança nada mais é do que um sinal de que as pessoas querem ver mais as notícias que impactam a vida delas, sobretudo em relação ao trânsito, previsão do tempo, greve e manifestações populares. Algo que a TV, em especial, sempre deu conta de fazer, mas que possui um investimento em mão de obra, logística e equipamentos altíssimo, diga-se de passagem.

E esse crescente interesse nas notícias locais coloca em xeque a relevância dos telejornais supostamente nacionais. Se eu moro no Norte do país, qual é a relevância de ver uma notícia que só dialoga com quem mora no Sudeste? Ao mesmo tempo, um telejornal que exibe notícias relevantes de diversas áreas do Brasil é importante para nos mostrar que um país continental como nosso tem culturas e problemas distintos.

Então, o problema não é a notícia, mas sim o modo como a apresento para o telespectador. Ou seja, um desafio imenso de mudar a linguagem e se aproximar cada vez mais do público. Hoje em dia, a maior dificuldade das emissoras de TV aberta é encontrar um formato de telejornal nacional mais descontraído, integrado com as redes sociais e que realmente fale de todo o Brasil, e não só do eixo Rio-São Paulo. E como fazer isso? O jeito é experimentar, criar e inovar. 





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