#Descaso: Incêndio no Museu Nacional mostra o desdém do Brasil com a sua própria história

setembro 03, 2018

Foto: Tânia Rego / Agência Brasil.  

Duzentos anos de história brasileira e de achados científicos das mais diversas vertentes viraram cinzas. Esse é o triste resultado do incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, na noite deste último domingo (02/09). O acervo, com mais de 20 milhões de itens, tem perfil acadêmico e científico, com coleções focadas em paleontologia, antropologia e etnologia biológica.

Subordinado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Museu Nacional fica localizado na Quinta da Boa Vista, na Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro. O prédio da sede do Museu já foi o Palácio São Cristóvão, local de moradia da Família Real Portuguesa e Imperial Brasileira. Fundado em 1818, o Museu Nacional é considerado a instituição científica mais antiga do Brasil e um dos museus de ciência de referência internacional. 

O local reunia boa parte de artefatos usados no período de monarquia no Brasil, além de uma série de peças artísticas e documentos que contribuíram de forma significativa para o resgaste da História do país.

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Dentre os destaques do acervo, podemos destacar os trajes centenários de povos indígenas brasileiros; o meteorito do Bendegó – o maior já encontrado no país; uma coleção de múmias egípcias e o esqueleto fossilizado de um Maxakalisaurus topai, o primeiro dinossauro de grande porte montado no Brasil. Também abrigava o crânio de Luzia – com mais de 11.500 anos e considerado a mulher mais antiga das Américas, além de coleções de vasos gregos e etruscos, entre outros.
Foto: Tânia Rego / Agência Brasil.  

As seis horas de fogo intenso por todo o prédio – período do combate às chamas feita pela equipe de Corpo de Bombeiros das 19h às 03h da madrugada, indignaram não só os trabalhadores do museu, mas sobretudo a comunidade acadêmica e a população brasileira. 

Tudo porque há décadas o Museu Nacional sofria de falta de interesse político de fazer investimentos em segurança e na reforma do prédio histórico, sobretudo na parte elétrica. Não foi só o fogo que destruiu o Museu no ano em que ele completaria 200 anos, mas sim o desdém do Brasil com a sua própria história.

De acordo com o jornal Meio, nenhum membro do gabinete ou ministro do Governo Federal foi à festa de 200 anos do Museu Nacional do Rio de Janeiro, em junho deste ano. Outro ponto interessante é que o último presidente a botar os pés na instituição foi Juscelino Kubitschek (1956-1961). 

O mais curioso disso tudo é que, durante todos esses anos, mesmo sendo um Museu administrado pelo Governo Federal e de relevância internacional, nenhum Banco público ou empresa estatal foram acionadas pela União para patrocinar o espaço.

Com verba anual mínima de R$ 520 mil – e que foi reduzida para R$ 300 mil nos últimos anos, o Museu Nacional precisava de R$ 300 milhões investidos ao longo de uma década para a sua total restauração, apesar de ter conseguido um aporte de R$ 21,7 milhões do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDS), que só entraria depois do período eleitoral.
Foto: Tânia Rego / Agência Brasil.  

Em entrevista ao telejornal “Bom Dia Minas”, da TV Globo Minas, o professor e pesquisador Castor Cartelle, curador dos Museus de Ciências Naturais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG) declarou que o prédio não deveria ser restaurado depois do incêndio para que as cinzas possam servir de memória viva do que o descaso político foi capaz de fazer com a memória brasileira. Clique aqui para ver a entrevista completa.

Por mais que as autoridades envolvidas falem em reconstrução do Museu Nacional, o que o fogo destruiu não tem mais volta. Com isso, o Brasil passa para o seu povo e também para o mundo a imagem de uma nação que não se preocupa com o próprio acervo científico, nem com a sua própria história. E isso é muito triste, para não dizer deprimente. 

O que cabe agora é todo um processo de reavaliação de como estão os outros museus brasileiros públicos para que essa história de incêndio não se repita – ou que pelo menos tenha um plano de prevenção de acidentes instalados para minimizar os prejuízos. Como diria o filósofo irlandês Edmund Burke, "um povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la".





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