#Crônica: Orgulho de ser negro e de saber que a história do meu povo reflete na minha história

novembro 20, 2017

Foto: Leo Patrizi / Getty Imagens / Reprodução. 

Eu não sou só uma cor. Mas as pessoas ao meu redor tendem a querer me definir pela minha cor dentro da “caixinha” dos estereótipos do senso comum. Eu sou mais que uma cor. Eu sou muito mais que uma definição de qualquer tipo de cor da palheta do colorismo ou daqueles que se julgam melhor do que os outros pelo tom de pele, por pré-conceito. Eu sou complexo. Sou uma explosão de sentimentos e de ideias. Mas, porque a gente precisa de um dia para falar sobre cor? E não é qualquer cor. É a cor da pele preta.

Porque aqui no Brasil o povo negro foi arrancado de várias tribos africanas para trabalhar como escravo. Sem direito a querer. Sem direito a pensar. Sem direito a entender e a conhecer a sua origem, a sua história. Se hoje a nossa cultura brasileira – que passeia pela fé, pela arte, pela escultura, pela literatura, pelo artesanato, pela culinária, pela música; ou até mesmo das ciências exatas – como no caso da mineração ou da engenharia, saber que tudo isso têm origem negra africana é uma alegria imensa, um orgulho. Um sinal de resistência, mas também de ocupação.

Sim, hoje (20/11) é Dia da Consciência Negra. De lembrar da luta de Zumbi, de Dandara e de tantos outros negros e negras que deram a sua vida, o seu sangue, em nome da liberdade e do direito de sermos vistos como seres humanos. Sim, seres humanos. Até 300 anos atrás, aqui no Brasil o negro era visto apenas como “peça”. Uma pessoa objetificada, literalmente, no mercado. Não tinha lugar de fala, nem desejo. Só devia apenas saber servir para servir sempre. Era humilhado, explorado, assediado e estuprado na senzala.

E quando veio a liberdade do povo negro foi tentado tirar a cidadania. Não se podia mais trabalhar na lavoura, nem na casa grande. A vinda dos imigrantes europeus tinha como objetivo político de “embranquecer” o Brasil em 50 anos. Ao negro, foi dado à marginalidade. Sem direito ao estudo, nem ao trabalho, foi para os morros “e fez do limão, uma limonada”. A favela retumbou o movimento cultural da negritude. Ontem pelo samba. Hoje pelo funk.

O racismo ainda existe. Mas o Brasil está lutando para se tornar menos desigual. Hoje já conseguimos ver o negro em variados postos de trabalho e no mundo acadêmico das Universidades. São poucos, mas eles carregam nas costas vários outros irmãos e irmãs que não puderam viver esse novo paradigma social por meio do estudo e do trabalho. 

Não sou ingênuo. Ainda temos muitas lutas pela igualdade racial. Pelos direitos iguais de  mulheres e homens. Pelo entendimento que, na pluralidade da sigla LGBTQIAP+, amar não é doença, nem pecado, muito menos crime. Mas ainda vivemos um mundo mais tolerante (talvez não menos preconceituoso?) do que nossos avôs viveram.
Fotos: Pinterest / Reprodução. 

Eu não sou só uma cor. Mas, logo cedo, desde pequenino, tive que passar pelo processo de aceitação de quem eu era e tentar entender que dentro do quebra-cabeça da história do Brasil o meu povo lutou e se mostrou forte o suficiente para que a cultura negra se sobressaísse de alguma forma.

Eu não sou só uma cor. Mas, quando eu me formei no ensino médio e depois no ensino superior, vi que precisava saber me impor para que a discriminação não me abalasse ou me destruísse por dentro. Por isso, cultivei a minha autoestima. Estudei por conta própria a história afroamericana. E percebi que cada país teve a sua realidade, a sua história em relação ao racismo e ao preconceito. E isso precisa ser compartilhado com outros negros/negras.

Eu não sou só uma cor. Mas, vi que era importante falar mais sobre essa cor tão linda e significativa no meu ambiente de trabalho e também na sala de aula com os meus alunos quando me tornei professor universitário. Precisamos falar de diversidade social, de direitos humanos, de cultura de paz e não-violência, de homofobia, de racismo, das lutas LGBTQIAP+, de privilégios sociais que apenas os homens brancos, cis, héteros e de classe média alta usufruíram por séculos e que, aos poucos, estão perdendo para que outros grupos, etnias e raças também possam ter poder de fala e decidir por si só. 

Eu não sou só uma cor. Eu sou NEGRO. E tenho muito orgulho de ser isso, e não somente isso. Orgulho de ser negro e de saber que a história do meu povo reflete na minha história.

Abaixo, assista um vídeo sobre muito franco sobre os estereótipos que o homem negro carrega na sociedade:

E, em seguida, assista também este outro vídeo muito revelador, do canal “Põe na Roda”, sobre racismo no meio LGBTQIAP+:



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Jornalista

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