#Eleições2016: O que há por detrás da vitória de Alexandre Kalil em BH?

outubro 31, 2016

Foto: UOL / Reprodução. 

"Acabou coxinha, acabou mortadela, o papo agora é quibe". A frase dita por Alexandre Kalil durante a sua primeira entrevista coletiva como prefeito eleito de Belo Horizonte é uma síntese bem humorada do que foi a campanha política para o executivo municipal na capital mineira. Não venceu o PT, nem o PSDB. Venceu a novidade, mesmo que ela não seja tão nova assim.

De ex-presidente do clube Atlético-MG a empresário com aspirações políticas, Kalil entrou para disputa municipal de forma tardia e acabou se filiando ao Partido Humanista da Solidariedade (PHS), partido nanico que até então não tinha a menor expressão política na cidade. Para o seu vice, foi escolhido Paulo Lamac, ex-membro do PT e então filiado à REDE.

Com 23 segundo no primeiro turno e cinco minutos no segundo turno, Kalil conseguiu aproveitar o carisma já herdado na época em que foi cartola de futebol e soube, de uma maneira muito bem conduzida, conversar com o povo e retratar aquilo que a opinião pública já refletia: a insatisfação com os políticos profissionais, sobretudo ao PSDB e ao PT.

"Chega de político. É hora de Kalil". A frase veio de encontro ao anseio da população, principalmente do eleitor da classe C e D que não se sentia representado pelos demais candidatos. Algo muito semelhante que aconteceu com São Paulo, que escolheu um apresentador-empresário como alternativa à "velha política".

Além disso, Kalil soube usar bem as redes sociais e conseguiu estabelecer um diálogo real com os eleitores, principalmente em seus vídeos e em transmissões ao vivo em que falava sem “papas na língua” a sua insatisfação com os políticos profissionais. “Não vou prometer nada. Se já consegui colocar essa cidade para funcionar estamos no lucro”. Ou ainda: “Vou abrir a caixa preta da BHTrans”, frases pontuais e urgente para o cidadão e que apareciam no horário eleitoral e na imprensa, mas que iam de encontro ao que a população realmente espera dos governantes.

Tudo isso foi ajudando para que Kalil se transformasse em um fenômeno no 1º Turno em BH. Todo mundo via nele um candidato a prefeito caricato, bonachão e que fazia o estereótipo do personagem fanfarrão que falava as suas demagogias, mas que tinham – pelo menos no imaginário da população, um fundo de verdade, o que acabou gerando empatia com o público e ocasionou nessa virada tão expressiva no 2º Turno.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Kalil teve 52,98% dos votos contra 47,02% de João Leite (PSDB). Votos brancos alcançaram 4,85% do eleitorado. Houve 15,52% de votos nulos. O índice de abstenção foi de 22,77%. Foram 79,64% de votos válidos.
Foto: UOL / Reprodução. 

Mas, o que há por detrás da vitória de Alexandre Kalil? Muitos interesses. Primeiro e, o mais óbvio: Kalil é um empresário milionário que tinha dívidas trabalhistas que foram ventiladas pelo candidato de oposição e, ainda por cima, devia uma fortuna de IPTU à prefeitura que ele estava se candidatando a assumir. Outro ponto interessante é que o tom mais agressivo do segundo turno privilegiou Kalil, de certa forma. As acusações e as denuncias ficaram mais verossímeis para o público no discurso do ex-cartola do que em João Leite.

Sem contar que vários dissidentes da Turma do Chapéu – núcleo jovem do PSDB em Minas Gerais liderado por Gabriel Azevedo que se desvinculou dos tucanos e, coincidentemente, coordenaram todo o trabalho da campanha de Kalil nas mais diversas frentes, como pode ser observado neste link. A ideia de propor um novo discurso na campanha não foi à toa.

Outro ponto que chama a atenção é a revolta do eleitor contra o PT no primeiro Turno e a Aécio Neves, no segundo turno. O belo-horizontino mostrou nas urnas o seu descontentamento com os dois projetos políticos lotados de caciques que, dificilmente, abrem espaço para o novo e tem dificuldade de assumir críticas.

Mesmo assim, Kalil contou com o apoio informal de Fernando Pimentel, governador de Minas Gerais pelo PT, e o explícito do deputado estadual Iran Barbosa, do PMDB, e que possui uma aproximação muito forte com as mineradoras e empreiteiras da Grande BH. O que mostra que, de forma camuflada, a velha política neoliberal, fascista e privatista está aí, pronta para querer se manifestar a qualquer momento.

O próprio Kalil já disse que não sabe quem irá fazer parte do seu corpo de secretários municipais, mas já se manifestou estar aberto ao diálogo, sobretudo aos partidos dos quais ele não está coligado. Tudo isso é bom por um lado porque mostra que o novo prefeito pode estar sim atrás de bons nomes técnicos – seja no mercado ou no próprio funcionalismo municipal para compor os quadros, como também pode dar margem à tradicional “moeda de troca” na política por cargos e votos em nome da chamada “governabilidade”.

Também chama a atenção a expressiva votação de votos nulos/brancos e abstenções não só em BH, mas em diversas cidades do Brasil – algo em torno de 40%, o que mostra que o eleitor está mais exigente e que já está começando a se ligar que não dá para votar no “menos pior”, pois a vida da cidade depende das nossas escolhas. Agora é esperar para ver como será o mandato de Kalil em BH, principalmente agora que ele se tornou o político de que tanto queria se afastar durante a campanha eleitoral.





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1 comentários

  1. Olá Wander, aqui estou de volta aos comentários do Café com Notícias. Sobre as eleições em BH, do pouco que vi pela propaganda e jornais pude perceber um candidato muito preocupado (Kalil) em personificar uma figura de politico populista. Acredito que a estratégia de utilizar uma linguagem mais próximo do eleitor mais humilde e simples acaba criando uma espécia de representatividade ao mesmo tempo que sinaliza uma certa esperança. Há também a ideia de renovação que ele buscou vender com o argumento de que não era politico. Enfim, de qualquer modo, fica a expectativa.

    Abraço e parabéns pela ótima análise.

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