#CaféEntrevista: Escritor fala como os negros utilizam a literatura para enfrentar o racismo

junho 10, 2016

Foto: Marcelo Ximenez / CMSP / Reprodução.  

Filho de colhedores de café analfabetos, o poeta, contista, romancista, pesquisador e jornalista Oswaldo de Camargo fez das palavras a sua maior motivação para lutar contra o racismo, o preconceito e a indiferença. “Minha militância é na literatura”, orgulha-se. Segundo o escritor, “o negro não é só vítima do preconceito, também é vítima da indiferença”.

Aos 79 anos, Camargo é especialista em literatura negra, autor do livro O negro escrito – apontamentos sobre a presença do negro na literatura brasileira e considerado um dos principais representantes no Brasil desse segmento literário. 

Entre suas obras, destacam-se "A descoberta do frio", "O oboé" e "Raiz de um negro brasileiro". Por seu ensaio sobre literatura negra, ele recebeu a Medalha de Mérito Cruz e Sousa, da Secretaria de Cultura de Santa Catarina, e a Medalha Zumbi dos Palmares, da Câmara Municipal de Salvador (BA). Abaixo, confira uma entrevista com o jornalista e escritor:

1) Qual a sua militância no movimento negro?
Meu movimento é a literatura. Não tenho atitudes políticas, de sair na rua, de fazer protestos. Todo meu protesto é com a palavra. Acredito na força da literatura, na força da palavra, na força de cavoucar a história do negro e levá-la para o texto. Isso falta. Falta voz ao negro. Eu tento, como negro, dar voz à minha turma, que tem pouca voz.

2) É possível resolver a questão do preconceito?
No Brasil, o preconceito, a olhada ruim sobre o negro, essa visão de indiferença, está introjetado há muito tempo. Diminuir isso demanda muito trabalho, pois os negros estão geralmente nas classes mais enfraquecidas, com moradia ruim, pouco nível universitário e, o mais importante, sem o respeito que se deve a todo ser humano.

3) O senhor já foi vítima de racismo?
O primeiro encontro racista foi dentro da Igreja, quando tentei ser padre. A dificuldade foi muito grande. Um seminário daqui perto de São Paulo não me aceitou. Eu tinha 12 anos, era um menino inocente, mas inteligente. Com perspectivas. Estudava no Colégio Reino da Garotada, em Poá (região metropolitana de São Paulo), e os padres holandeses que o administravam estavam convencidos de que eu tinha vocação para ser padre. Mas eles nunca imaginaram que seria tão difícil encontrar um seminário que me aceitasse. Foi o primeiro contato que tive com o racismo. Não me aceitaram no seminário por uma questão puramente racial.

4) O senhor convive com intelectuais. Nesse meio há preconceito?
O preconceito não poupa o intelectual, mas geralmente ele é mais resguardado devido a sua visão de mundo mais esclarecida. Muitas vezes o preconceito e o racismo são frutos de uma crassa ignorância.

5) O que é literatura negra?
Literatura negra é a literatura que o negro escreve olhando a si mesmo. Eu tenho várias realidades, sou brasileiro, homem, nasci em Bragança Paulista (interior de São Paulo), moro na capital. Eu me olho, na minha humanidade, com essa carga, esses coloridos, homem, brasileiro. Aí eu percebo que tem uma coisa que está me diferenciando. Historicamente, politicamente eu estou sendo diferenciado, eu tenho uma diferença: a minha origem. Meus bisavós vieram da África. Eu reúno todos esses dados e resolvo escrever algo em torno, compactuando com essas diferenças, com essas nuanças, com esses fatos históricos que repercutiram dentro de mim e me tornaram um homem que tem uma visão de mundo, em muitos aspectos, diferenciado do comando ocidental, aí eu estou fazendo uma literatura negra. É a literatura que o negro escreve olhando para sua realidade. Esse conceito, que ganhou corpo sobretudo em São Paulo nos anos 1970, está aos poucos se firmando.

6) Os blogs têm fortalecido essa tendência cultural?
Sim. Na periferia há grupos que tratam, sobretudo, de problemas sociais, e no meio desses problemas sociais aparece a questão do negro. Então, nós podemos considerar essa literatura que eles escrevem também como literatura negra, porque são negros falando da sua realidade, do seu viver, dos seus sonhos, da sua esperança, do seu sofrimento.

Para ler a entrevista completa, clique aqui.




Observação: a entrevista foi publicada originalmente no site da Câmara Municipal de São Paulo.





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