#NãoVaiTerGolpe: Todos os brasileiros perdem com o Impeachment disfarçado de Golpe
abril 20, 2016Fotos: Câmara dos Deputados / Reprodução. |
O último domingo (17/04) foi um dia
histórico para a política brasileira. Em sessão extraordinária, a Câmara dos
Deputados, em Brasília-DF, votou pelo início do processo de impeachment da
presidenta Dilma Rousseff. Foram 367 votos a favor e 137 votos contra o
impedimento. Pela TV, era mostrado o povo ora comemorando, ora se desanimando,
com cada manifestação dos parlamentares. Talvez, a sensação de “Copa do Mundo”
abafou o que de fato pode acontecer com o nosso país, caso haja mesmo um
impeachment. Será um golpe duro para a Democracia.
Depois da votação na Câmara, o
parecer que recomenda a investigação contra a Dilma segue
para o Senado Federal. Lá, será constituída uma comissão especial para decidir
se convalida, ou não, o pedido de abertura de investigação. Se for aprovado por
41 senadores, a presidente será afastada do cargo e julgada pelo Senado. Uma
eventual condenação, que depende do aval de 2/3 da Casa (54 senadores), tira
Dilma do cargo e a torna inelegível por oito anos.
Veja também:
Chega a ser surreal ver que isso está
acontecendo! É mais surreal ainda se dar conta de que boa parte dos
representantes do legislativo brasileiro envolvidos com esquema de corrupção
foram os mesmos que votaram a favor do impeachment, sob o argumento de “colocar
um fim na corrupção do país”. Demagogia. Dos 594 membros do Congresso [513
deputados e 81 senadores], 352 enfrentam acusações por crimes. Precisa falar
mais alguma coisa?
Mas, o mais chocante disse tudo foram
as falas dos deputados federais, dentro dos dez segundos para dar o voto. Poucos
manifestaram o real motivo da abertura do processo de impeachment de Dilma.
Teve de tudo: homenagem à família, vocação religiosa e, inclusive, enaltecimento
a um carrasco da Ditadura Militar. Um show de horrores. Constrangimento define.
Fotos: Câmara dos Deputados / Reprodução. |
Com isso, fica evidente que as
chamadas “pedaladas fiscais” e o fato do Governo não poder contrair empréstimos
de bancos públicos sem consultar o Congresso Nacional, não foi o real motivo
deste impeachment travestido de golpe, como se nenhum outro Presidente (ou
político) não usou deste recurso nos últimos. É ainda mais hipócrita ver que
grande parte desses parlamentares se sente representando o povo, quando na verdade
estão de olhos em interesses pessoais e/ou empresariais que o Poder pode lhe
dar.
Mesmo não sendo algo legal – do ponto
de vista normativo, Dilma não usou deste artifício para enriquecimento ilícito
ou para um esquema de propina. Foi para a garantia de programas sociais em
andamento. Será que não valeria outro tipo de punição ao invés do impeachment?
Creio que vale uma reflexão, mesmo que a decisão final sobre o impedimento
ainda precise passar pelo Senado. Além disso, a escolha de impedi-la não está
nas mãos do povo que a elegeu.
Tudo bem que ainda temos uma
democracia restabelecida de forma ainda muito recente e, por incrível que
pareça, uma parte da população ainda não se deu conta de que o problema da
corrupção é algo histórico, que não vai acabar com o impeachment da presidenta
Dilma. Além disso, pela primeira vez na história, a esquerda se deu conta da
importância de ter uma bancada maior e mais expressiva no parlamento
brasileiro. Se o Congresso tivesse mais deputados de esquerda, contrários ao
golpe, com toda certeza ele teria sido barrado.
Foto: Câmara dos Deputados / Reprodução. |
Além disso, há em curso um outro
problema: a dificuldade da imprensa brasileira de entender as nuances de cada
movimentação política, principalmente quando a maioria esmagadora da mídia
tradicional possui alinhamento político e ideológico com a direita
ultraconservadora cristã. Na TV então, o debate político é quase inexistente. O
público que se vire para entender que é péssimo para o Brasil passar por um
processo de impeachment que se soma a uma crise política, econômica e
empresarial (por conta da falta de empregos no mercado).
À rede americana CNN, o jornalista Glenn
Greenwald foi muito feliz ao resumir o momento político do qual o Brasil vive:
"É a coisa mais surreal que eu
vi em meu tempo como jornalista em qualquer outro lugar, cobrindo política em
vários países. (...) A pessoa presidindo o processo de impeachment na Câmara,
Eduardo Cunha, é alguém que, já se sabe, ocultou milhões de dólares em
propinas. Não há nenhuma possibilidade que não envolva corrupção. Ele não tinha
uma fortuna, nenhum negócio legítimo. Milhões de dólares escondidos em contas
bancárias na Suíça. Ele é alguém que está presidindo a Câmara. E eles todos
estão vindo à frente, um por um, todos acusados de corrupção e dizendo ‘nós
devemos tirar a presidente por corrupção’. E surpreendentemente, a própria
Dilma é uma das poucas pessoas que não são acusadas de receber propina. (...)
Há essa grande investigação, chamada Lava Jato, na qual esses jovens promotores
estão colocando as pessoas na prisão. A preocupação é que a intenção de
derrubar Dilma seja dizer para o país: ‘Vejam, nós nos livramos do problema de
corrupção’. E eles esperam que a pressão pública vá desaparecer depois dessa
catarse do impeachment, e que as investigações vão acabar e todos os políticos
verdadeiramente corruptos vão estar seguros".
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