#CaféLiterário: Livro destaca a relação entre o capitalismo e o colapso ambiental
outubro 12, 2015
A perspectiva de um colapso ambiental é cada vez mais real e vem sendo evidenciada pela ciência e humanidade desde os anos 1960. Hoje,
porém, a causa é de extrema urgência, caso contrário, os serviços prestados
pelos ecossistemas podem deixar de existir. É com esse norte que Luiz Marques,
professor do Departamento de História do Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas (IFCH), da Unicamp, acaba de lançar o livro Capitalismo
e colapso ambiental, pela Editora Unicamp.
O autor ainda participa de um
coletivo de professores da Unicamp, da criação de portal voltado para
informação, pesquisa, debate e mobilização acadêmica em torno das crises
socioambientais contemporâneas. O portal deverá estar disponível para consulta
até o final de 2015.
Em seu livro, Marques explica que, na
década de 1990, sete acordos multilaterais, somados a importantes documentos e
protocolos, tais como a Agenda 21, a Carta da Terra e o Protocolo de Kyoto,
alimentavam a promessa de um novo arranjo político, econômico e social
internacional, capaz de conter o processo de degradação ambiental do planeta.
Duas décadas mais tarde, inúmeras
pesquisas realizadas nas mais diversas áreas do conhecimento, apontam para uma
situação significativamente diferente daquela preconizada pelos acordos
firmados entre os países. Um deles, o Protocolo de Kyoto é emblemático da
mudança de perspectiva: os países signatários se comprometiam a reduzir a
emissão de gases poluentes responsáveis pelo efeito estufa e o aquecimento
global.
Mas ao invés de redução, o que se
assiste, nessas primeiras décadas do século 21, é o aumento das emissões,
somado à tendência de esvaziamento dos compromissos então assumidos. "Evitar a falência das estruturas de
sustentação dos ecossistemas, ou seja, voltar a caber na biosfera, só será
possível se desmontarmos a engrenagem socioeconômica expansiva que moldou
nossas sociedades desde o século XVI", propõe o autor.
Desmatamento na Amazônia. Foto: Portal EBC / Reprodução. |
"O capitalismo internacional devasta numa escala e
ritmo superiores à capacidade da biosfera de se recompor e se adaptar. Segundo o
Global Forest Watch, apenas entre 2000 e 2012, nosso planeta perdeu 2,3 milhões
de km² de florestas, em grande parte por causa do avanço da monocultura e das
pastagens. Em um estudo recente, The Future of Forests, o Center for Global
Development, de Washington, projeta, baseando-se em observações de satélites,
que uma área de florestas tropicais do tamanho da Índia [3,2 milhões de km²]
será desmatada nos próximos 35 anos", diz Marques.
O consumo de 92 milhões de barris de
petróleo por dia e a produção global de 7,83 bilhões de toneladas de carvão em
2013, são recordes históricos. As grandes barragens hidrelétricas e o aumento
do consumo de carne são alguns dos fatores decisivos no agravamento das
mudanças climáticas e no colapso da biodiversidade terrestre e marítima.
Brasil
O desmatamento da Amazônia Legal está
novamente em trajetória ascendente. Luiz explica que, de agosto de 2013 a julho
de 2014, ele foi de 5.012 km². "O que é comemorado como uma vitória por
setores do governo é, na verdade, uma devastação estarrecedora, só porque
representa uma diminuição de 15% em relação aos 12 meses anteriores (5.891
km²). Na realidade, há aumento de 9% em relação ao período de agosto de 2011 a
julho de 2012 (4.656 km²). E já se sabe pelo Instituto Imazon que o desmatamento
do período agosto de 2014 – julho de 2015 será expressivamente maior que o dos
12 meses anteriores", destaca.
As emissões de CO² cresceram 62% no
Brasil entre 1990 e 2005 e apenas em 2013, conforme computado pelo Sistema de
Estimativa de Gases de Efeito Estufa (SEEG), o país gerou 1,56 bilhão de
toneladas de CO²-eq, um salto de 7,8% em relação a 2012. Trata-se de uma das
maiores taxas de crescimento do mundo nesse ano. Mais da metade do acréscimo
provém do desmatamento e de incêndios de florestas, boa parte deles a mando de
fazendeiros. "E não se contabilizam
aqui as emissões de metano (CH4) pelas grandes represas e pela pecuária, um gás
cujo efeito estufa é muito maior", enfatiza.
Sobre o autor
Luiz Marques é graduado em Ciências
Sociais Graduação em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas /
FESPSP (1977), Diplôme d'Études Approfondies (DEA) em Sociologia da Arte -
Ecole des Hautes Etudes en Sciences Sociales, Paris (1979) e Doutorado em
História da Arte - EHESS (1983). Foi Curador-Chefe do Museu de Arte de São
Paulo - MASP (1995-1997). Professor Livre Docente do Depto. de História, IFCH,
da Universidade Estadual de Campinas. Coordenador do Projeto MARE - Museu de
Arte para a Educação (www.mare.art.br). Área principal de pesquisa: História da
Arte Italiana dos séculos XV e XVI e suas relações com a Tradição Clássica.
Marques publicou diversos livros e ensaios sobre a Tradição Clássica e, mais
recentemente, também sobre a crescente degradação antropogênica dos
ecossistemas, entre os quais o ensaio "Brazil. The legacy of slavery and
environmental suicide. Atualmente participa de um coletivo de professores da
Unicamp para a criação de um portal dedicado à informação, pesquisa, debate e
mobilização acadêmica em torno das crises socioambientais contemporâneas.
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