9ª Mostra CineBH conecta o cinema independente ao mercado internacional

outubro 25, 2015

Foto: Leo Lara / Universo Produção / Reprodução. 


De 15 a 22 de outubro, a 9ª Mostra CineBH movimentou a capital mineira apresentando o melhor do cinema brasileiro e internacional e consolidou-se como espaço de lançamento e discussão da mais significativa produção cinematográfica contemporânea.

“A Mostra CineBH encerra sua nona edição juntamente com o 6º Brasil CineMundi com a missão cumprida de tornar o audiovisual acessível a todos os públicos e conectar o cinema brasileiro independente e o mercado internacional, fazendo eco para os melhores frutos e ampliando as possibilidades de negócios para o cinema brasileiro no exterior”, afirma a coordenadora geral e diretora da Universo Produção, Raquel Hallak.

A mostra teve como eixo temático “Criação e Resistência: O Cinema contra a Barbárie” com a proposta era questionar a própria realização cinematográfica no que ela ainda tem de potencial a ser explorado. O cinema sempre investigou o estatuto do real e seus impasses na arte e na cultura. Na programação da mostra, priorizou-se a noção de civilização ante a barbárie, ou a relação estabelecida entre a criação artística e os mecanismos políticos do mundo.

Em oito dias de programação intensa e gratuita, foram exibidos 65 filmes, de nove países e oito estados brasileiros em 45 sessões de cinema em pré-estreias nacionais e internacionais, retrospectivas e mostras temáticas em dois dos principais espaços culturais de Belo Horizonte - o Palácio das Artes, o CentroeQuatro Centro Cultural. 

O evento beneficiou um público estimado em mais de 10 mil pessoas de diferentes idades. Foi o ano de duas importantes retrospectivas: a de Lucrecia Martel, diretora argentina que esteve em Belo Horizonte como grande homenageada do evento e participou de dois encontros com o público; e a dos curtas da produtora paraibana Vermelho Profundo, mostrando ao público o vigor de uma produção regional consistente.

“Muitos dos filmes exibidos se localizam em espaços clássicos de civilização, como escola, teatro, museu e cinemateca. A atividade de muitos personagens é a fruição pura e simples, a criação artística e o magistério. Em outros casos, o modo de produção do filme é artesanal e anti-industrial, como um romance, uma peça ou um texto poético”, destacaram os curadores, Pedro Butcher e Francis Vogner dos Reis.

Homenagens

Escolhida como homenageada desta edição, Lucrecia Martel marcou presença no evento e mobilizou dezenas de profissionais do audiovisual para discutirem e debaterem caminhos de parcerias e coprodução com outros países. Lucrecia apresentou o estudo de caso de Zama, seu quarto longa-metragem, em processo de finalização.

O filme foi coproduzido por diversos países, entre eles o Brasil, via Bananeira Filmes, da produtora Vânia Catani. “Não tomamos nenhuma decisão só para fazermos coproduções, e sim o contrário: nós escolhemos o que seria bom para o filme e íamos atrás dos parceiros”, contou a diretora.

Lucrecia acreditava que o Brasil poderia ser um espaço importante na narrativa central do filme e se associou à Bananeira para levantar recursos que viabilizassem essa intenção. Zama teve parte do financiamento via fundos bilaterais Brasil-Argentina, Fundo Setorial do Audiovisual e canal Telecine, além da presença de atores do país no elenco, como Matheus Nachtergaele e Mariana Nunes.

Brasil Cinemundi

O cinema aproxima povos e continentes. A Mostra CineBH colocou a capital mineira no centro do diálogo entre o cinema brasileiro e o mercado internacional, ao promover, a 6ª edição do Brasil CineMundi – Encontro Internacional de Coprodução, que recebeu mais de 122 profissionais brasileiros,  21 representantes da indústria audiovisual mundial de 11 países - Alemanha, Argentina, Chile, Colômbia, França, Noruega, Estados Unidos, Suíça, Uruguai, Espanha e Brasil, que desembarcaram na capital mineira para participar das diversas atividades promovidas pelo evento e conhecer novos projetos de longa brasileiro em fase de desenvolvimento e pré-produção.
Foto: Gustavo Andrade / Universo Produção / Reprodução. 

Os 15 projetos de longas brasileiros selecionados participaram das rodadas de negócios nas categorias cinemundi e Doc Brasil Meeting para plateia de produtores, representantes de fundos, agentes de vendas e profissionais que querem coproduzir com o Brasil e concorreram ao Prêmio Brasil Cinemundi e vagas para participar de eventos de mercado internacional – o Torino Film Lab (Itália), Ventana Sur (Argentina) e Cinelatino, em Toulouse, na França.

Ao todo, foram promovidos 144 encontros de coprodução. Os projetos foram avaliados por um júri formado por Diana Bustamante, produtorao (Colômbia), Rémi Bonhomme, programador da Semana da Crítica em Cannes (França), e Felipe Bragança, roteirista e cineasta (Brasil). “Estes encontros buscam sempre promover o fortalecimento de uma rede de contatos entre os profissionais presentes, com possíveis frutos em um futuro próximo”, diz Paulo de Carvalho, colaborador do Brasil CineMundi.

O vencedor foi o projeto “Saudade”, da produtora mineira Coisa de Cinema, direção de Marcos Pimentel e produção de Luana Melgaço e Leo Ayres. O projeto ganhou o Troféu Horizonte, mais de 60 mil reais em materiais e serviços cinematográficos de empresas parceiras, uma vaga para a produtora Luana Melgaço participar do Ventana Sur, em dezembro, na Argentina e uma vaga para participar do Torino Film Lab, evento que acontece na Itália em novembro, voltado ao incentivo e orientação para desenvolvimento de coproduções internacionais.

Outros escolhidos por parceiros do Brasil CineMundi foram Tatiana Leite, produtora do projeto A Herança, e Luana Melgaço, produtora do projeto Saudade, convidadas para o Torino Film Lab, na Itália; A produtora Paula Pripas, do projeto Desterro, foi chamada para o Ventana Sur; Mato Seco em Chamas, direção de Adirley Queirós e Joana Pimenta, e produção de João Matos, para o Cinelatino, na França; e Saudade, escolhido pelo DocSP para integrar o Doc Lab.

“Os projetos deste ano tinham muita vivacidade nas formas de abordar com complexidade aspectos da vida brasileira de hoje, fugindo de retratos sociais óbvios”, destaca um dos jurados, Felipe Bragança. “A maioria era realizadores já com experiência em curtas ou em longas, mas em início de jornada, o que podemos chamar de uma geração que chegou ao cinema nos últimos 10 anos”.

Debates e capacitação

Para servir de ponte e acesso a essa presença de uma rede de realizadores em vias de ganhar o mundo, foram promovidos 10 debates dentro do Seminário Brasil CineMundi, passando pelos mais variados temas – de workshop de roteiro com Yolanda Barrasa (Espanha) até mesas de discussões sobre Políticas de Festivais e Estratégias de Programação, Fundos de Investimento e Cooperação Audiovisual Internacional e Panorama de Eventos de Mercado para Documentários, entre vários outros.

Em destaque nas conversas, os caminhos para que um projeto ainda em desenvolvimento consiga fechar acordos de coprodução que ajudem a viabilizá-lo. “Algo muito importante nas coproduções é permitir ao filme ser exibido em mais lugares”, frisou Diana Bustamante.
Foto: Leo Lara / Universo Produção / Reprodução. 

Alguns casos foram debatidos de maneira detida, como o do filme colombiano La Tierra y La Sombra, de César Augusto Acevedo, premiado no Festival de Cannes na categoria de primeiro longa-metragem com o troféu Caméra D’Or. O filme tem participação de Holanda, Chile, França e Brasil e já estreou na Colômbia, sendo visto por 60 mil espectadores.

“É um filme muito pessoal, de um roteiro que foi escrito pelo César Augusto ao longo de sete anos”, disse Bustamante, produtora de La Tierra y La Sombra. Giancarlo Nasi, coprodutor chileno, frisou que o trabalho de coprodução nunca termina com o filme pronto. “É preciso lutar, lutar e lutar para estrear em seu país, como dever moral com o filme”.

Em várias mesas do seminário, os participantes foram bastante didáticos para esclarecer dúvidas à plateia, muitas delas em relação à entrada nos mercados internacionais, em especial com filmes prontos tentando vaga nos festivais – espaços que podem ajudar uma produção a se associar a outro país e circular melhor.

“Se eu criei minha própria realidade, então tenho uma visão da realidade, e é isso que nós buscamos no festival”, disse Luciano Barisone, do Visions du Réel, festival de documentários realizado na Suíça e um dos mais importantes no mundo.

O encontro Modelos e Políticas para o Desenvolvimento do Audiovisual Brasileiro ofereceu um painel de várias experiências de realização em parceria, como o Polo Audiovisual da Zona da Mata, representado por César Piva, e a SPCine, agência de fomento sobre a qual Maurício Andrade Ramos discorreu.

Nesta mesa, estava presente o secretário do Audiovisual, Pola Ribeiro, que falou sobre editais e fundos do Ministério da Cultura para o setor. “Conseguimos este ano dobrar os editais de baixo orçamento e incluir projetos voltados ao público infantojuvenil e a ações positivas de inclusão”, destacou o secretário.

Ele também revelou que haverá um fundo de R$ 3,5 milhões para produções indígenas. Por sua vez, o presidente da Rede Minas, Israel do Vale, reivindicou da Secretaria do Audiovisual uma maior atenção aos canais públicos de TV, em especial na disponibilização de filmes brasileiros. “Temos, nestas emissoras, todo um potencial de espectadores ainda a ser explorado”, disse Israel.

Em paralelo ao seminário e atenta à necessidade de capacitação da mão-de-obra para o cinema brasileiro, a CineBH realiza todos os anos uma série de oficinas gratuitas, dos mais variados temas. Este ano foram oito modalidades de curso, como Análise de Estilos Cinematográficos, Formação e Produção de Conteúdos, Empreendedorismo Criativo e workshops de documentário, roteiro e oportunidades do cinema brasileiro no exterior, com disponibilização de 305 vagas.

Cinema do mundo

Na programação de filmes, a 9ª CineBH se firmou como plataforma de outro tipo de cinema, que não se rende aos modismos autorísticos tão comuns em festivais mundo afora. A curadoria prezou pela atenção a títulos de menor circulação e grande carga expressiva, vários deles inéditos no Brasil ou apresentados em pouquíssimos lugares.

Longas-metragens como Escudo de Palha (Japão), de Takashi Miike, Museum Hours (EUA), de Jem Cohen, e Faux Accords (França), de Paul Vecchiali, atraíram a atenção do público, que encheu as sessões, assim como os curtas-metragens e também os quatro títulos franceses que compuseram a seção Diálogos Históricos, que tinham ainda o atrativo de um bate-papo com críticos após a exibição.

Os brasileiros também marcaram presença importante, com as pré-estreias de Mate-me Por Favor, de Anita Rocha da Silveira, e o projeto Tela Brilhadora, composto por quatro longas-metragens de baixo orçamento e coordenado por Julio Bressane. Todos tiveram sua primeira exibição no Brasil durante a CineBH. Garoto, de Júlio Bressane, encerra o evento chave de ouro, nesta quinta, dia 22.

A 9ª CineBH termina e anuncia a próxima realização audiovisual da Universo Produção, o festival internacional de cinema de arquivo – o Arquivo em Cartaz -  que acontece no Rio de Janeiro, no Arquivo Nacional, de 9 a 13 de novembro, apresentando filmes nacionais e internacionais realizados com imagens de arquivo.





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