#CaféConvidado: Moradia também pode refletir na mobilidade urbana

julho 18, 2015

Edifício JK, em Belo Horizonte. Foto: Google Street View / Reprodução. 



Na seção Café Convidado desta semana, o arquiteto Alexandre Nagazawa fala sobre a ideia de mobilidade urbana que continha nos edifícios multiuso (mixed use), uma tendência mundial que começou na década de 1960 e que está voltando com tudo no grandes centros urbanos. Para ele, prédios que concentram moradias, escritórios e serviços podem, no futuro, reduzir de forma significa o impacto da mobilidade urbana de uma cidade. Abaixo, confira o artigo completo:


Mixed Use: Tudo perto de casa


*Por Alexandre Nagazawa


Ir para o trabalho todos os dias usando apenas o elevador ou comprar um remédio sem ter que pegar carro ou ônibus, pois basta descer do prédio, também pelo elevador. Parece cômodo e soa impossível, mas esta é a ideia dos empreendimentos mixed use, chamados também de multiuso ou de uso misto.

Esse tipo de configuração de edifícios ou condomínios, utilizado há anos em cidades no mundo todo, volta à tona como uma tendência no mercado imobiliário de países como Estados Unidos e Japão, e tem se destacado também nas maiores cidades brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo.

O conceito parece inovador, mas há décadas encontramos ótimos exemplos de edifícios de uso misto. Em 1956, foi inaugurado em São Paulo o Conjunto Nacional, que fica na Avenida Paulista, projetado pelo arquiteto David Libeskind. É esse também o caso de dois grandes projetos de Oscar Niemeyer - os edifícios Juscelino Kubitschek, o JK, de 1952, em Belo Horizonte e o Edifício Copan, projetado em 1950 e inaugurado em 1966, em São Paulo.

Os conjuntos apresentam as principais características dos mixed use, abrigando cinema, teatro, academia, lojas, restaurantes, consultórios, apartamentos residenciais com diversas tipologias e até igrejas. Nas décadas de 1950 e 1960, já existia a intenção de que as pessoas tivessem absolutamente tudo ao alcance, num ideário modernista, em que o homem teria mais tempo para si, usufruindo o que as cidades tivessem de melhor e ficando pouco tempo em casa.
Edifício Copan, em São Paulo. Foto: Google Street View / Reprodução. 

A ideia acabou fugindo um pouco do previsto, pois devido ao gigantesco adensamento, o fluxo de pessoas pelos condomínios cresceu exorbitantemente – pelo Nacional, por exemplo, passam cerca de 50 mil pessoas diariamente – reduzindo a privacidade, e dificultando o controle de segurança, manutenção condominial e qualidade dos ambientes - o que ocasionou a decadência do modelo. A desvalorização dos hipercentros, aliada às diversas crises econômicas do Brasil, também ajudaram no processo de esquecimento do mixed use.

Atualmente os empreendimentos nesse formato oferecem, além da moradia, bens e serviços do cotidiano com grande apelo à questão da mobilidade urbana. Com lojas, supermercados, espaços corporativos para escritórios, centros de convenções, restaurantes, criam-se verdadeiras minicidades, novas centralidades que configuram um novo estilo de vida.

É a simples ideia de não precisar sair de perto de casa, por exemplo, para comprar pães ou itens necessários para o jantar, tudo com total conveniência. Grande atrativo ao perfil da classe média contemporânea, que tem o tempo escasso e se vê fadada a enfrentar um transporte público sem qualidade, além da violência urbana. Já não se aguenta mais pedir comida delivery.

Tive a oportunidade de trabalhar numa agência de arquitetura em Paris onde o mesmo prédio abrigava lojas voltadas para rua, habitações e escritórios que, dependendo do andar, até eram vizinhos de porta. É o formato do uso misto, configurado ao longo das ruas e quarteirões, com usufruto de facilidades e comodidade não em apenas um edifício, mas ao longo de toda a cidade, para toda a população.

Com problemas de mobilidade urbana, violência e infraestrutura das cidades, é urgente a mudança no sentido de composição e ordenação das centralidades. Os deslocamentos devem ser menores, o acesso a bens e serviços pode estar mais próximo das moradias, longe dos megasshoppings, evitando assim mais carros nas ruas. Quem sabe um dia, nesse sentido, possamos usufruir de uma Belo Horizonte onde possamos resolver tudo a dois ou três quarteirões, a pé, com qualidade de vida em uma cidade realmente plural.




 _____________________________
*Perfil: Alexandre Nagazawa é arquiteto e urbanista, sócio diretor da BLOC Arquitetura e Empreendimentos. Possui graduação pelo Centro Universitário Metodista Izabela Hendrix (2010). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo, com ênfase em Projeto de Arquitetura e Urbanismo. Já teve atuações diversificadas na área de projetos de arquitetura e design gráfico como autônomo e colaborador em escritórios de arquitetura no Brasil e na França.








  • Para participar da seção Café Convidado, do blog Café com Notícias, basta enviar para o e-mail wander.veroni@gmail.com com um material de sua autoria. Pode ser uma reportagem (texto, áudio ou vídeo), artigo, crônica, fotografias, peças publicitárias, documentário, VT publicitário, spot, jingle, videocast ou podcast. Mas, atenção: pode participar estudantes de Comunicação Social (qualquer habilitação: jornalismo, publicidade, relações públicas, marketing, Rádio e TV, Cinema, Produção Editorial e Design Gráfico), profissionais recém-formados ou profissionais mais experientes de qualquer outra profissão. Participe e seja meu convidado para tomarmos um Café! OBSERVAÇÃO: Por ser editor responsável pelo Café com Notícias, o material enviado está sujeito a sofrer edição final para adequação da linha editorial abordada neste espaço.








Gostou do Café com Notícias? Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, siga a company page no LinkedIn, circule o blog no Google Plusassine a newsletter e baixe o aplicativo do blog.











Jornalista


MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

0 comentários