Beija-Flor é a campeã do carnaval em meio a polêmico patrocínio

fevereiro 18, 2015



A Beija-Flor sagrou-se campeã do carnaval carioca em 2015. Com um enredo supostamente patrocinado pelo regime ditatorial de Guiné Equatorial, na África, a escola de samba de Nilópolis, na Baixada Fluminense, levou o seu 13º troféu na competição entre as escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro.

Dos 270 pontos possíveis, a Beija-Flor conquistou 269,9. Em segundo lugar ficou o Salgueiro com 269,5 pontos, seguido por Grande Rio, Unidos da Tijuca e Portela que obtiveram 269 pontos, cujos quesitos foram decisivos para dar a sequência das cinco escolas vencedoras do ano.

Curiosamente, a Imperatriz Leopoldinense – que foi apontada como a dona do melhor desfile pela equipe do Jornal O Globo, ficou em sexto lugar com 268,9 pontos. Já o Salgueiro, apontado pela crítica e pelo público como a campeã deste ano, ficou em segundo lugar com um enredo que enaltecia a culinária mineira.

Em meio a toda essa festa, a Beija-Flor tem sido bastante criticada pelo fato de ter recebido, supostamente, um polpudo patrocínio do governo de Guiné Equatorial em torno de R$ 10 milhões – sendo que a população do país sobrevive com menos de U$ 1 dólar por dia. Ao UOL, o diretor-artístico da Beija-Flor, Fran Sergio, afirmou que o desfile foi financiado por empresas brasileiras de construção civil que atuam na Guiné, e não pelo Governo.

Mas, não é de hoje que o carnaval carioca tem enredos patrocinados. O que chama a atenção é o fato de uma escola de samba tradicional como a Beija-Flor se submeter a enaltecer um regime político cujo governante é acusado de violações de direitos humanos, restrições à liberdade de imprensa, tortura e prisões arbitrárias. A situação em si é quase uma afronta aos ideais de liberdade, paz e igualdade que a escola de samba sempre pregou em sua história carnavalesca.

Em um dos trechos do samba à Guiné Equatorial, a Beija-Flor reverencia, justamente, a liberdade e igualdade que não existem no país. Pelo menos no desfile, houve uma “liberdade criativa” de homenagear o negro, a cultura africana e o crescimento de Guiné que também faz parte do grupo de países que falam a língua portuguesa. Mas há um abismo entre o samba da avenida e o que a população vive de fato.

Apesar de ser um dos maiores produtores de petróleo do norte da África, a Guiné Equatorial vive um regime ditatorial há 35 anos, liderada por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo. Entre relógios de ouro cravejados de brilhantes e apartamentos na zona sul do Rio de Janeiro, Obiang tem uma fortuna pessoal avaliada em US$ 600 milhões, enquanto a população de Guiné vive na pobreza extrema e é proibida de se manifestar contra o governo.

O jornal Sensacionalista – conhecida por seu humor peculiar na internet, até publicou uma matéria dizendo que o próximo enredo da Beija-Flor seria o Estado Islâmico. Claro, isso tudo é uma brincadeira crítica ao fato de que uma escola de samba ser capaz de homenagear um regime totalitário na Marquês de Sapucaí por conta de um generoso patrocínio – independente se for de empresários ou do próprio governo. É um precedente perigoso. Será que no Carnaval vale tudo?





Fotos: Alexandre Durão / G1 / Reprodução.







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