#CaféConvidado: Pelo fim do discurso de ódio e do preconceito contra os homossexuais
outubro 01, 2014![]() |
Foto: UOL / Reprodução. |
Na seção Café Convidado desta semana, o jornalista e escritor Emerson
Machado escreveu um artigo muito interessante pelo fim do discurso de ódio e do preconceito contra os
homossexuais. No texto, Emerson fala da importância de se criminalizar a
homofobia para impedir que pessoas como Levy Fidélis, Silas Malafaia, Marcos
Feliciano, e tantos outros por aí, continuem confundindo liberdade de expressão
com preconceito. Abaixo, confira o artigo:
Pela criminalização da homofobia
Por
Emerson Machado*
Eu
sou gay. O que quer dizer que eu faço parte da "minoria" de que todos
estão falando hoje. Só que nunca fui limitado a essa característica. Não só eu
como todos os outros gays do Brasil e do mundo. Eu sou jornalista, escritor (de
livros infantis e juvenis!), filho, irmão, amigo...
Porém,
no último domingo (28/09), durante o debate político dos presidenciáveis na TV
Record, um dos candidatos pediu que a "maioria" (se referindo aos
heterossexuais) me enfrentasse, que não tivesse "medo" de me
enfrentar, simplesmente por ser gay. Assim, só por isso. Afirmou ainda que eu
deveria procurar ajuda psicológica sobre a minha "condição" e que
ainda fosse para bem longe.
Não
que ir para bem longe não fosse a vontade imediata que me tomou assim que ouvi
as declarações absurdas desse candidato que poderia muito bem ser preso por
incitação ao crime, praticamente pedindo que o ódio aos homossexuais fosse
elevado a uma categoria de caça às bruxas.
Não
consigo nem pensar sem ter vontade de chorar sobre os pais de gays, lésbicas,
transsexuais e afins que pensam da mesma forma que o "nanico" do PRTB
e agora podem dizer aos filhos que são "maioria", podendo reprimir
essas pessoas que simplesmente nasceram do jeito que são.
Queria
que meu texto estivesse cheio de informação, conteúdo científico e dados sobre
o número de mortes de homossexuais no Brasil (que é altíssimo), mas só consigo
sentir nojo ao me lembrar de tudo aquilo que foi vomitado da boca de Fidélix
durante o debate.
Também
queria me sentir um pouco melhor ao escrever esse texto por saber que a
“maioria” iria me apoiar, mas em um dos sites que veicularam a notícia sobre o
discurso de ódio é possível ver uma penca de comentários concordando com toda
aquela merda que fomos obrigados a ouvir calados na TV.
![]() |
Foto: UOL / Reprodução. |
Senti
vergonha. Não por ser gay, por saber que na sociedade que eu vivo (e tanto
amo), a hipocrisia reina, os fundamentalistas e os "protetores da
família" na verdade são uma corja de criminosos e desmiolados que não
sabem o que dizer. E não me venham com essa de "liberdade de
expressão" (que é prevista na Constituição como um direito).
Quando
alguém usa a sua "opinião" para incitar a violência ou prejudicar
alguém ou um grupo, o direito já não é mais válido - a Constituição não pode
defender criminosos. Logo, não me falem também de "ditadura
gayzista", pois como é bem sabido: não é privilégio nenhum um grupo
conseguir os mesmos direitos que os outros já tinham há muito tempo.
O
que percebo é que estamos no meio de uma tentativa estranha de se instaurar um
outro tipo de ditadura: a da opressão, típica de uma sociedade que não sabe dar
valor e proteção a todos os seus cidadãos — sem qualquer espécie de distinção.
Eu
sou gay. Não existe possibilidade alguma de eu não ser gay. Nenhum outro gay
deixará de ser gay também. O tratamento psicológico que querem indicar também
não fará nenhum gay deixar de ser gay. Será que ninguém entende que não é uma
questão de escolha, mas de natureza?
A
conclusão do debate político fica assim: pode ser que Levy Fidélix não tenha
dado facadas e tiros, mas o sangue de milhares de homossexuais está nas mãos
dele. Aquele homem na Avenida Paulista que estava com uma lâmpada fluorescente
e a acertou em um dos que são como eu (porém não diferentes de ninguém) acabou
de ganhar do candidato uma arma ainda mais poderosa: o incentivo.
_____________________________

- Para participar da seção Café Convidado, do blog Café com Notícias, basta enviar para o e-mail wander.veroni@gmail.com com um material de sua autoria. Pode ser uma reportagem (texto, áudio ou vídeo), artigo, crônica, fotografias, peças publicitárias, documentário, VT publicitário, spot, jingle, videocast ou podcast. Mas, atenção: pode participar estudantes de Comunicação Social (qualquer habilitação: jornalismo, publicidade, relações públicas, marketing, Rádio e TV, Cinema, Produção Editorial e Design Gráfico), profissionais recém-formados ou profissionais mais experientes de qualquer outra profissão. Participe e seja meu convidado para tomarmos um Café! OBSERVAÇÃO: Por ser editor responsável pelo Café com Notícias, o material enviado está sujeito a sofrer edição final para adequação da linha editorial abordada neste espaço.
Gostou do Café com Notícias?
Então, siga-me no Twitter, curta a Fan Page no Facebook, circule o blog
no Google Plus, assine a newsletter e baixe
o aplicativo do blog.
Jornalista
0 comentários