O Desafio do Balde de Gelo em época de racionamento e de semancol

agosto 24, 2014

Foto: iStock / Reprodução.


Meme é repetição. A grosso modo, uma brincadeira que passa de um internauta para o outro. Quando a gente menos espera, todo mundo compra a ideia do meme. Viraliza. Foi o que aconteceu esta semana com o Desafio do Balde de Gelo (Ice Bucket Challenge). Uns viram como uma brincadeira, outros como uma forma de celebridades ganharem destaque na mídia.

Em relação aos memes, sou desconfiado. De uns tempos para cá, esses memes famosos internacionalmente sempre tem algum apelo comercial ou fazem apologia a algo de gosto duvidoso. Não é porque uma celebridade que eu admiro joga água gelada na cabeça que eu vou fazer também. Espera aí. Antes, quis entender do que se tratava.

A brincadeira começou nos Estados Unidos como uma forma de desafiar personalidades de um modo geral a doarem uma quantia em dinheiro para ALS Association – uma organização norte-americana dedicada à pesquisa, conscientização e assistência a vítimas de esclerose lateral amiotrófica, popularmente conhecida como ELA ou Doença de Lou Gehrig; ou jogar um balde de água gelada na cabeça (como uma espécie de prenda, por não ter aceito o desafio).

Muitas celebridades doaram a quantia para a entidade de pesquisa e jogaram o balde em si mesmo. E isso foi um sucesso nas redes sociais, mesmo com a morte do criador do desafio. O mico viralizou e chegou ao Brasil. E no momento em que artistas locais começaram a postar nas redes sociais o seu “momento de balde”, pouco foi se falado para qual ou quais instituições os artistas brasileiros iriam fazer a sua doação. Deu a entender que o povo viu nisso uma oportunidade para ganhar visibilidade e não para promover entidades de pesquisas nacionais de apoio a pacientes do ELA.

Com o aumento das críticas em relação a esta atitude dos nossos artistas, começaram a pipocar matérias na mídia de que as instituições brasileiras que apoiam os pacientes de ELA ou que promovem pesquisas sobre a doença começaram a ganhar as suas respectivas doações, mesmo que seja em um valor muito mais baixo do que a campanha original.
Foto: Washington Post / Reprodução.

Se nos Estados Unidos a campanha arrecadou US$ 53,3 milhões, aqui no Brasil foram R$ 163 mil em apenas quatro dias, segundo reportagem do G1. O número é muito baixo, visto o número de famosos e internautas que aderiram a brincadeira do balde, poderia ter sido um fenômeno de doações se as celebridades e alguns internautas resolvessem abrir mais a carteira.

Mas, o que mais causa polêmica é o fato da brincadeira do balde de água gelada não levar em conta o contexto brasileiro de escassez dos reservatórios de água em muitas cidades brasileiras por conta do período de estiagem. Quem resolveu importar a brincadeira não levou em conta que, de forma subliminar, estava incentivando o desperdício de água em um momento muito crítico.

Sou a favor de doações para promover os grupos que apoiam pacientes e pesquisam doenças como o ELA e outras inúmeras doenças que, muitas vezes, são negligenciadas, mas existem. Isso é uma coisa. Outra é querer aparecer a qualquer custo.

Neste ponto, por incrível que pareça, Xuxa e Rafinha Bastos foram mais conscientes e decidiram participar das doações, e não do balde. Já Bruno Chateaubriand resolveu criar o Desafio da Estrela para ajudar arrecadar doações para o tratamento médico da ex-ginasta Laís Souza. São nessas pequenas ações que sabemos quem é quem “na fila do pão francês”.

Toda vez que estou diante de um meme viral como esse me questiono: será que temos que imitar tudo aquilo que está na moda? Acredito que não. Precisamos voltar a exercer o poder (e o direito) de usar o nosso filtro particular nas redes sociais. 

A quem interessa tal comportamento? Será que estou servindo a o quê ou a quem quando replico um meme? Não. Não somos todos macacos e nem temos que colocar uma girafa no nosso perfil. O meu pensamento é maior que 140 caracteres e não cabe em qualquer hashtag. Penso, logo existo. Reflito.




P.S.: Para quem se interessar em doar - independente se vai jogar o balde de água gelada na cabeça e postar nas redes sociais, basta fazer um depósito na conta da Associação Pró-Cura da ELA:
Banco Bradesco (237)Agência: 2962-9 / Conta corrente: 2988-2
Razão Social: Associação Pró-Cura da Esclerose Lateral Amiotrófica / CNPJ: 18.989.225/0001-88.







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Wander Veroni
Jornalista



MAIS CAFÉ, POR FAVOR!

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