"Geração Brasil" foge da proposta de vilão monotemático e populariza a cultura nerd

agosto 23, 2014



Vira e mexe nas redes sociais, percebo que os telespectadores reclamam por novidade no modo como as novelas são apresentadas na TV. Mas não são todas as novidades que causam uma comoção estrondosa e se tornam fenômenos de audiência e sucesso de crítica como Avenida Brasil e Cheias de Charme. Geração Brasil, por exemplo, tem enfrentado muita rejeição por ser ousada.

De um lado, os resultados baixos de audiência, de outro uma avassaladora crítica da imprensa especializada que condena a novela por ser experimental demais e ter se perdido pelo excesso de tecnologia, cultura nerd e termos em inglês, o que é uma pena. Nem mesmo o debate sobre os jovens nem-nem (nem estudam, nem trabalham) sensibilizou a crítica.

Nas entrelinhas das muitas análises que já li, percebo que a crítica não está pela construção da história, do texto ou da atuação dos personagens, mas de uma visão de como os críticos acreditam que Geração Brasil se perdeu pelo fato da novela não ser do jeito “tradicional” e por não ter, por exemplo, um grande vilão ou vilã monotemático.

E isso é minimizar não só a inteligência do público entre bem versus mal, como limitar a criatividade dos roteiristas e dos profissionais envolvidos na novela. Somos humanos. Erramos e acertamos. Temos os nossos momentos de bondade, de maldade, de felicidade, de tristeza, e assim por diante. São muitas emoções, como diria Roberto Carlos. Em Geração Brasil, os personagens principais são cíclicos, ou seja, sabem dialogar com os dois lados da força (bem e o mal) quando necessário.

Para acompanhar Geração Brasil, é preciso abrir a mente e ter uma predisposição para à pesquisa, caso não seja fã do universo tecnológico, nem de elementos da cultura nerd ou tenha familiaridade com o inglês. A história se passa sob o ponto de vista da construção de um império tecnológico a partir de um sonho de um brasileiro que venceu nos Estados Unidos.

Jonas Marra criou uma empresa tão potente quanto a Microsoft, Google, Apple, etc. E hoje em dia, com tantos investimentos que vemos na área das startups aqui no Brasil, isso é algo cada vez mais possível. Os debates em Geração Brasil passam não só pelo universo tecnológico, como também corporativo, além de propor uma discussão sobre o impacto midiático dos realitys, aplicativos e programas de TV na sociedade.
Fotos: TV Globo / Reprodução.

Jonas procura um sucessor. Encontrou dois, o casal Davi e Manuela que, em determinado momento da trama, se separaram. Mas, ao demitir Davi e, por ora, deixar Manu como sua sucessora, Jonas está dando todos os elementos para que Davi consiga criar a sua startup e, quem sabe, a sua empresa de tecnologia para fazer do computador Junior um novo sucesso. Ou seja, a história se repete.

Do ponto de vista dramático, Geração Brasil optou pelo caminho mais realista de não incorporar um vilão como fio condutor da história. O recurso que pode ter soado estranho para o público, mostra uma aproximação com a vida real. Mesmo Herval e Gláucia Beatriz terem assumido uma postura de antagonistas, eles acreditam que estão fazendo o bem, cada um a sua maneira, num ajuste de contas.

Gláucia é ambiciosa, mesquinha e não, necessariamente, má. Herval acredita que ao revelar como é o verdadeiro Jonas Marra está prestando um serviço para a sociedade, mesmo que os caminhos para isso não seja o mais ético, nem o mais moralmente aceito. Outros personagens que geram discussão são a família Benson: tanto o guru Brian, quanto a mãe transgênero Dorothy, são uma provocação a um novo modelo de família real e possível.

Brian é um guru como tantos outros que professam novas religiões e filosofias por aí, que acreditam no Mistério e na reprogramação cerebral como uma chave para o sucesso. E, se pararmos para pensar, quantas religiões e novas filosofias não professam algo parecido?

Em síntese, Geração Brasil não é um folhetim maniqueísta. É uma novela que tem várias referências e que pede para que o público reflita a cada capítulo, a cada cena, costurando os muitos debates apresentados com as relações entre os personagens. É uma novela com conteúdo, como poucas já ousaram nesta faixa das 7.






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Jornalista



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