Afinal, quando o racismo vai acabar?
agosto 31, 2014![]() |
Foto: iStock / Reprodução. |
Em um curto intervalo de tempo,
tivemos dois casos assustadores de como o racismo ainda está presente na nossa
sociedade. Na primeira história, uma adolescente
mineira (e negra) posta uma foto no Facebook com o namorado, um rapaz
branco. Imediatamente, a moça é atacada com diversas ofensas – inclusive chamada
de escrava por internautas preconceituosos.
Pouco tempo depois, o segundo caso, o
goleiro Aranha, do Santos, é chamado de “macaco” e de “preto” pela torcida do
Grêmio. A história ganha repercussão nas redes sociais, principalmente
depois da TV filmar uma moça gritando a palavra “macaco” e o atleta, que por
sinal é mineiro, natural de Pouso Alegre, bate no peito e diz para os
torcedores que é “preto sim com muito orgulho”.
Ambos os casos, me fazem questionar
uma coisa: quando será que o racismo vai acabar no mundo? Gente, já estamos em
2014. E ainda tem gente que se acha melhor por ser de outra cor. Fala, sério!
Lembrei de uma professora que tive na pós-graduação. Ela dizia que o racismo só vai acabar quando
a sociedade começar a falar sobre o assunto e se assumir racista.
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Fotos: G1 / Reprodução. |
Falar sobre o assunto, graças a Deus
já estamos falando. E acho um barato ver as inúmeras manifestações de apoio
tanto para a garota negra, quanto para o goleiro. Afinal, #somostodoshumanos. Queremos
ser respeitados e amados. É deplorável alguém só conseguir ver outro ser humano
pela cor, pela religião ou pela sua origem. Mas só de falarmos sobre esses
casos já é um primeiro passo.
Agora, se assumir racista imagino que
ainda teremos muitos degraus a conquistar. O brasileiro cultiva historicamente
muitos preconceitos velados. Falam que os negros, os gays, os transexuais, os
nordestinos, as mulheres, os indígenas são “minorias”, mas na verdade minoria é
quem pensa pequeno e só consegue ver rótulos.
Que chato seria se todos nós fôssemos
iguais? Somos diferentes, sim. Viva a diversidade! Discriminar alguém porque é
diferente é coisa do século passado, minha gente. Pelo menos deveria. Tenho
pena de quem vive querendo se enquadrar nesse padrão caucasiano, ainda mais no
Brasil que é uma mistura de raças, de credos e de culturas.
Se cada um olhar a sua árvore genealógica
com toda certeza vai encontrar negros, índios e brancos. Quiçá até asiáticos. E
o mais bonito do Brasil é isso, as nossas misturas. Lembro
de uma exposição da artista plástica Adriana Varejão que confeccionou 33
tons de tinta que emulam as várias tonalidades de pele do povo brasileiro.
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Adriana Varejão em seu ateliê, no Rio de Janeiro, diante da parede com 33 quadros da série "Polvo". Foto: Murillo Meirelles / TPM / Reprodução. |
As definições são engraçadíssimas:
tem “cocô queimado”, “branquinha”, “café com leite”, “moreno jambo”, “burro
quando foge”, "morena bem chegada", etc. Tudo isso nos mostra duas
posições: a primeira, a nossa mistura étnica brasileira e, a segunda, a dificuldade
do brasileiro de se auto afirmar ou se ato declarar a partir de uma pergunta
que o IBGE faz de tempos em tempos ao povo brasileiro: “qual é a sua cor?”.
O Brasil tem um pouco mais de 500
anos. Destes, pelo menos 300 anos foram de escravidão da população negra de
origem africana subjugada, maltratada e violentada das mais diversas formas. Do
outro lado, temos um pouco mais de um século de abolição da escravatura e de
uma inserção social e cultural tardia do negro que luta diariamente para se auto
afirmar. E como luta!
Então, infelizmente, demoraremos
ainda alguns passos para nos assumir racistas ou preconceituosos, sem exclusão
ou alienação. Mas que bom que já estamos falando de racismo. E que bom que
quando uma pessoa ofende a outra por uma discriminação por conta de uma cor de
pele ela pode ser acionada pelas autoridades legais.
Como diria Nelson Mandela,
“ninguém nasce racista”. Torna-se racista com a formação que recebe da família,
na escola, no seu grupo social. Que mudemos isso, então. Que ensinemos para as
nossas crianças que “somos iguais nas nossas diferenças”. E que tudo bem ser
diferente. No final das contas, o que importa mesmo é o caráter. E isso sim
está cada vez mais raro nos dias de hoje.
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1 comentários
Realmente é lamentável ver algo assim em um país como o nosso com todo seu histórico social e cultural construído através da miscigenação. Casos como esse, cada vez mais comuns, mostram o quanto a existência do preconceito ganha força dentro e fora da web. Felizmente, a tecnologia tem se mostrado uma grande aliada no combate a esse imenso mal que desacelera a evolução da sociedade brasileira. Percebi que no caso dessa garota que foi duramente atacado pelo facebook haviam dois tipos de discussão, aqueles que a ofendiam e algumas vozes que se demonstravam contra os comentários preconceituosos. E isso foi tomando mais força em outras páginas também. Sei que isso ainda é pouco, mas espero que o debate se intensifique para que todos possamos de forma civilizada construir uma sociedade mais igualitária e racional.
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