Pecado Mortal termina como sucesso de crítica, mas com baixa audiência
maio 30, 2014
Pecado Mortal, novela da Rede Record, terminou nesta sexta-feira (30/05). Apesar do sucesso
de crítica e dos inúmeros elogios a qualidade do texto e dos atores em cena, o
primeiro folhetim de Carlos Lombardi na emissora de Edir Macedo não foi bem em
audiência e sofreu durante o seu percurso com inúmeras mudanças de horário.
Além disso, de forma equivocada, a
Record resolveu não colocar Pecado
Mortal na íntegra no R7 e pouco divulgou a novela com chamadas e matérias
relacionadas ao folhetim em seu portal e nos programas da Casa. Assim ficou
muito difícil. O telespectador que assistiu a novela do início ao fim teve que
se rebolar, no melhor sentido.
Arrisco a dizer que, desde a nova
fase de teledramaturgia da Record, em meados de 2004 até agora – ou seja, nos últimos
dez anos de novelas da emissora, Pecado
Mortal figura facilmente na lista das três melhores novelas já produzidas,
principalmente na questão da confluência entre texto, elenco e direção.
Um nível de sagacidade no roteiro só
visto até então em Poder Paralelo,
de Lauro César Muniz. Uma novela cujo texto respeitava a inteligência do
telespectador com ganchos muito bem pensados e com protagonistas masculinos
fortes, coisa que está em escassez na teledramaturgia brasileira. O Carlão, de
Lombardi, e o Tony Castelamari, de Muniz, são parecidos neste sentido: são
humanos, cometem erros e acertos. E isso traz envolvimento com o público.
Confesso que fiquei um tempo sem ver Pecado Mortal porque nunca acertava o
horário. Sempre pegava no meio para o final. Até que, cansado de reclamar nas
redes sociais o porquê da Record não colocar a novela na íntegra no R7, um
internauta me disse que o folhetim está disponível no YouTube. E foi lá que
parei do ponto que tinha perdido e retomei a trama.
No início, me perguntava qual era
esse pecado mortal? No início, achei que era o Micheli por amar demais o Marco
Antônio/Carlão e os seus filhos. Também pensei que poderia ser o melhor
triângulo amoroso que uma novela recente já teve que era Carlão, Patrícia e
Dorotheia. Mas não: o Pecado Mortal
era o de Picasso por Carlão. Diga-se de passagem, o melhor papel que o ator
Victor Hugo já fez na TV.
Picasso amava Carlão de uma forma tão
doentia e reprimida que se matou de vergonha. A cena em si tinha tudo para ser
piegas, mas foi tão emocionante e possível que chegou a arrepiar. É por isso
que digo e repito: uma novela pode ter ótimos atores, mas se não tiver texto a
coisa não anda. E não há diretor ou excesso de chamadas que dê conta. Em Família, novela de Manoel Carlos na
Globo, é a prova viva disso. Perdeu o prumo e sofre de rejeição, mesmo
liderando a audiência na TV.
Muito sincero, Lombardi
deu uma excelente entrevista ao jornalista Mauricio Stycer, no UOL. Sem
pestanejar, ele foi muito franco em falar abertamente dos desafios, problemas da Record e percalços da trama. Em anos, o telespectador pode ver um Carlos Lombardi que conseguiu se reinventar ao apostar em um folhetim do final da década de 1970 e que falava de como o Jogo de
Bicho perdeu espaço para o tráfico de drogas, mas sem abandonar o bom humor e
os homens descamisados.
"Acho que o público de dramaturgia foi se afastando
da rede. Um produto só não faz um brand – a não ser que seja de nicho, como
novelas infantis no SBT. Mesmo assim, o SBT tem uma tarde inteira de mexicanas,
ou seja, dedica várias horas para dramaturgia, mesmo que de qualidade
questionável. Se você pensar em Record hoje em dia, pensa o quê? Jornalismo e
programas policiais. Nada contra. Meus filhos adolescentes adoram Cidade Alerta.
Só com mais produtos – acredito eu, que por sinal não tenho bola de cristal –
vamos reviver o brand Record como lugar de dramaturgia e novelas", disse o roteirista que trabalhou mais de 30 anos na Globo.
Tenho que concordar com Lombardi
quando afirmou que Pecado Mortal foi
um desafio delicioso. Desafio para o autor que teve que se readaptar as
condições e limitações da Record, e para nós, o público, que sambamos pela
programação da TV atrás da novela ou na própria internet. Com a qualidade cada
vez mais rara da atual safra da teledramaturgia, bom saber que ainda existam
autores e atores dispostos a fazer um trabalho sensível e inteligente. O
público agradece.
Fotos: TV Record / Reprodução.
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Jornalista
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