Envelhecer é para os fortes! Desafios de um idoso pelas ruas da cidade

maio 24, 2014

Foto: UOL / Reprodução.


Diante da dificuldade de se equilibrar na longa escadaria da estação de metrô, uma senhora bem velhinha, dessas bem miúdas e serelepes, me pediu para se equilibrar no meu braço esquerdo. Foi um pedido baixinho. Quase um socorro. Com o entra e sai de pessoas da estação, a senhora quase foi atropelada pela manada de gente.

Fiz mais do que isso: dei a mão para ela. Puxei conversa. Conversamos sobre a trivialidade. Ao final da escadaria, ela me agradeceu e nos despedimos. Ela me abençoou. Eu agradeci a prosa e disse um até logo. Afinal, as chances de nos encontrarmos novamente podem ser pequena, mas é bom saber que ajudei alguém. Espero revê-la outra vez.

Ao acompanhar a senhora pela escada, pensei o quanto é difícil envelhecer no Brasil, mais especificamente em Belo Horizonte, cidade onde moro. No metrô e no BRT/MOVE, as escadarias são imensas e irregulares. No transporte coletivo, muitas pessoas teimam em sentar no lugar reservado para os idosos. Já presenciei cenas de gente falando mal de idoso na fila por ele reivindicar o direito de prioridade.

E fora as outras agressões verbais e morais que nem vale a pena dar ibope. Será que essas pessoas se esqueceram que vão envelhecer um dia? Será que estamos nos preparando para envelhecer? Eu espero poder envelhecer com saúde e ter uma vida ativa, produzindo, me divertindo e vivendo a vida com a bagagem que os anos de experiência me deram.

Mas envelhecer é muito difícil. Envelhecer é para os fortes! Não sou idoso. Ano que vem chego na casa dos 30 e as minhas pernas e costas doem quando tenho que trabalhar muitas horas em pé ou pego um engarrafamento com ônibus lotado. 

Fico imaginando um idoso...imagina uma pessoa de idade ter que ficar horas em pé? Deve doer o corpo inteiro. E são nessas pequenas coisas do dia que percebo que envelhecer não é para qualquer um: só vencedores conseguem! As adversidades são inúmeras.

Quando vejo um idoso atravessando as avenidas extensas do centro, cujo sinal é muito rápido, penso que quem comanda o semáforo não deve ter um idoso na família. Acho uma falta de respeito ter que correr para atravessar uma rua porque o tempo do sinal é muito curto.

Em algumas civilizações, envelhecer é sinal de respeito. Os mais velhos são vistos como líderes e mentores. No nosso caso, é quase uma situação de descaso. Digo quase porque porque sabemos reverenciar um artista ou uma personalidade idosa, mas distratamos o vizinho ou um membro da família idoso por estar com pressa ou não ter paciência.

O povo esquece que vai envelhecer um dia...não tem outra explicação. Envelhecer é muito difícil: nem todo mundo tem estrutura física e emocional para isso. Admiro muito os idosos que encaram o envelhecer com sabedoria e tranquilidade. É tão bacana ver que, diante das inúmeras dificuldades pelas ruas da cidade, alguns idosos fazem inúmeras coisas: trabalham, estudam, se divertem e procuram sair na companhia de um amigo, um parente, ou até mesmo um acompanhante/enfermeiro para não ficar parado.

Alguns meses atrás, conheci na Praça da Liberdade um senhor com mais de 70 anos, cadeirante e que conversava sobre qualquer assunto com uma lucidez impressionante. Ele não tinha filhos, nem esposa. A única companhia dele era a enfermeira e algumas pessoas da praça que o adotaram como avô.

Na nossa prosa, ele me disse que adora ir à Praça, principalmente no final de semana. O senhor achava lindo ver a praça viva, movimentada, cheia de gente. Diferente daquela visão fechada e rancorosa que costumamos ter de idosos antissociais. 

E detalhe: o senhor me disse que o passatempo favorito dele é resolver questões de matemática, do qual ele apelidava de “melhor jogo do universo”. Pensei comigo: quero chegar assim um dia. Envelhecer lúcido, saudável e de bem com a vida. É...envelhecer é para os fortes!






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Jornalista

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