Em BH, banda "Chuva a Granel" lança novo álbum via crowdfunding

abril 24, 2014

Integrantes da banda "Chuva a Granel" em BH. Foto: Fabrício Belmiro / Divulgação.


Nesta sexta-feira (25/04), a banda Chuva a Granel se apresenta no Café Centro e Quatro, em Belo Horizonte, para lançar o seu primeiro EP intitulado “No Ar Dentro da Caixa”. Para o grupo, este lançamento tem um gostinho muito especial: o projeto foi desenvolvido via crowdfunding.

Para quem não conhece o termo, trata-se de uma ação na internet que visa mobilizar outras pessoas para contribuírem com uma determinada quantia e, desse modo, viabilizar uma produção audiovisual, musical, cultural, social, artística, literária ou informativa. Inclusive, muitos artistas e produtores culturais independentes tem se utilizado desta ferramenta como alternativa de captação de recursos.

Criada em 2008, a banda Chuva a Granel é formada por Karine Amorina (vocal), Jardel Rodrim (violão e guitarra), Filipe Gaeta (gaita), Hugo Bizzotto (teclados) e Mário Lúcio Lemos (bateria). Com a proposta de fazer música autoral, a Chuva a Granel tem um som com forte influência da música brasileira e do blues, sendo a gaita a marca registrada da banda.

Para falar um pouco mais deste novo trabalho via crowdfunding, as expectativas para o show de lançamento do EP e sobre o cenário da música independente na capital mineira, o Café com Notícias conversou com o guitarrista Jardel Rodrim e a vocalista Karine Amorina. Acompanhe a entrevista:

1) Primeiramente, há quanto tempo a banda está na estrada e como vocês criaram o projeto?

Jardel: Karine e eu fazíamos parte de um outro trabalho, num grupo muito grande. Dentro desse trabalho foi organizada uma mostra onde as pessoas se juntavam em pequenos grupos pra mostrar músicas, esquetes de teatro... o que cada um quisesse.

Montamos umas três músicas com outros dois integrantes desse grupo. Essas quatro pessoas se tornaram a primeira formação do Chuva a Granel que, ao longo dos anos, mudou bastante. Aquela formação pequena e intimista foi se modificando e hoje temos, pelo menos, seis pessoas no palco.

O interessante é que, diferentemente de outras bandas que passam primeiro pelos covers, já nascemos fazendo música autoral, porque nessa primeira mostra, das três músicas que tocamos, duas eram de nossa autoria.

2) E desde a criação do Chuva a Granel como vocês percebem o cenário da música independente em Belo Horizonte? E como tem sido a recepção do público?

Jardel: A noite de Belo Horizonte é basicamente dos covers. Embora o número cresça a cada ano, ainda são poucas as casas que cultivam a ideia da música autoral. Se as casas estão fechadas com os covers, é difícil mostrar seu trabalho. No interior de Minas a receptividade pela música autoral é maior. Então fomos para o interior mostrar o trabalho.

Fomos premiados em festivais de música: Melhor Arranjo no Festival de Música de Conceição do Mato Dentro, finalistas do Prêmio da Música de Minas, um festival com mais de 300 bandas participantes. Então, embora sejamos todos daqui da capital, fizemos nosso percurso como banda do interior pra cá. Mostramos nosso trabalho lá primeiro, pra depois chegarmos aqui.

3) Uma das características da Chuva a Granel é a pesquisa sonora para as composições da banda. Gostaria que vocês falassem um pouco desse processo criativo. Como ele se dá?

Karine: Os compositores somos eu, o Haroldo Leão, o Fabrício Belmiro e o Jardel. E essa troca tem diversas formas de acontecer. Por vezes o Haroldo e o Fabrício nos entregam as músicas prontas e a gente só cuida de colocar a cara da banda. Em outras, eu utilizo os poemas do Haroldo e deles vou fazendo música.

Na verdade tenho a impressão que elas se fazem sozinhas, quando começo a ler as melodias surgem automaticamente, o caminho harmônico está lá. Aí vem o Jardel e formata, mexe numa nota ou outra (muito poucas) e em alguns casos dá uma nova cara para a harmonia. Outras surgem dos encontros entre eu, Jardel e Haroldo, em que o Haroldo cozinha pra gente e vamos compondo juntos.

Com o Fabrício já é diferente. Ele tem umas pastas cheias de músicas cifradas, com indicações de forma, tudo. Acho que dava pra gravar uns dez álbuns com aquela pasta. Em tudo a gente mexe, mas não muito, porque o filho tem que ter a cara do pai. Aí entramos com elas nos ensaios, toda a banda mexe, cria trechos pro meio, pro fim, pro início...

Aí o Jardel vem organizar a zona criativa. Ele senta com as gravações dos ensaios e encaixa trechos que antes não se encaixavam, escreve tudo na partitura, limpa as arestas.

# Ouça agora as músicas do Chuva a Granel:



4) Vocês estão lançando um novo álbum agora por meio de crowdfunding. Como surgiu esta iniciativa?

Karine: Surgiu na dificuldade. Foram anos enviando projetos para leis de fomento à cultura sem nenhum sucesso. Chegamos a aprovar algumas vezes, mas não foi possível captar.

A própria dinâmica logística dos nossos shows nos alertou para um processo de apoio que já estava acontecendo sem que nos déssemos conta. As pessoas próximas nos ofereciam serviços fundamentais apenas porque achavam bonito o que estávamos fazendo e queriam nos ajudar: assessoria de comunicação, produção executiva e musical, design, hospedagem, primeiros registros fonográficos, fotografias, vídeos.

Então eu tive a ideia de formalizar essa rede de apoio e estendê-la para o público. "Se conseguimos mobilizar profissionais para nos ajudar nas pequenas produções, por que não nas grandes? Porque não o público?" Escrevemos o projeto, cada membro da banda ficou com uma cota de CDs para vender antecipadamente. Quem comprasse o CD, que ainda não existia, teria a presença garantida no show de lançamento. Aí começou a corrida pelos apoiadores.

Conseguimos profissionais trabalhando a muito baixo custo ou de graça, porque acreditaram na nossa música. A produção musical ficou a cargo do Lucas Sagaz, que viabilizou as gravações onde, por meio do apoio dele e do Estúdio Verde, economizamos uma pequena fortuna. A Assessoria de Comunicação foi conseguida através de apoio da Lúcia Santos e da Cereja Marketing Digital. As ilustrações do CD foram um presente que recebemos do designer Adriano Cavaleiro Gomes.

A partir daí a coisa foi tomando vida própria, a Thiara Momoda nos procurou porque gostou da nossa música e queria gravar um videoclipe da Achados & Perdidos. Ela e o Júlio Reis, do áudio e vídeo da Faculdade Anhanguera estão trabalhando duro nisso pra sexta. Backing vocals, violoncelo, tudo isso com apoio.

Enfim, do primeiro item da gravação ao último do show de lançamento tivemos apoio, doação e fé no processo e na música. Esse CD, se fosse realizado com devido pagamento de todos os profissionais e infraestrutura envolvidos, teria custado cerca de R$50.000. Gastamos apenas R$10.827,76, que vieram do público e de empresas que acreditaram.
Foto: Zirlene Lemos / Divulgação.

5) Na opinião da banda, como a internet pode ajudar os artistas independentes?

Jardel: A internet é a praça onde tudo é discutido. Se as cidades passam por cima de suas praças físicas com duplicação de avenidas e enormes condomínios, nossa praça vai para o meio digital. Ela vai ficar lá. Tentaram soterrar essa praça numa manobra sobre o Marco da Internet, mas não conseguiram.

Com a internet, volta a ser possível aquela democracia do ideal, onde as pessoas discutem seus problemas e se informam sobre tudo. A internet é também a democracia para as bandas. Lá podemos nos mostrar, nos vender, propor uma estética que não aconteceria na época das grandes gravadoras. A internet é o único primeiro passo. Basta tempo e disponibilidade para aprender com as bandas que já estão nessa há muito tempo. Todo mundo quer aprender e muita gente quer ensinar.

6) O lançamento desse novo álbum será no dia 25 de abril. O que o público pode esperar no show?

Karine: O show é no Espaço Cento e Quatro, um espaço super alternativo e charmoso e que fica bem no centro de Belo Horizonte. A abertura é do Paim, um grande compositor daqui, muitíssimo conhecido no meio independente pelo seu trabalho na banda Ram. O Paim e o Jardel cresceram juntos, são amigos de infância. O trabalho solo do Paim é mais intimista, diferente do Ram, mas com a mesma qualidade.

E o Chuva a Granel vai apresentar um videoclipe inédito, tocar as músicas do primeiro CD e ainda outras que não tivemos oportunidade de gravar. O retorno do público sobre essas músicas tem sido muito bom, o que nos dá a certeza de que estamos já nos aprontando pra gravar o segundo álbum.






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