Pesquisa do Ipea sobre mulheres e estupro é um pedido de socorro social
março 31, 2014Foto: Agência Estado / Reprodução. |
É importante lembrar que as pesquisam
apontam um recorte da nossa realidade. Nos ajudam a entender melhor um hábito social
que, para muitos podem ser explícitos, e para outros podem ser chocantes.
Aliás, nem sei se chocante é a melhor palavra para ser usada, mas é essa que
vem à cabeça quando os mais variados meios de comunicação divulgam a pesquisa
do Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) sobre mulheres e estupro.
O estudo, lançado na semana passada,
diz o seguinte: 58,5% dos entrevistados concordam totalmente (35,3%) ou
parcialmente (23,2%) com a frase "Se
as mulheres soubessem como se comportar, haveria menos estupros".
Segundo o levantamento, 37,9% discordam totalmente (30,3%) ou parcialmente
(7,6%) da afirmação, sendo que 3,6% se dizem neutros em relação à questão.
Impressionados com o resultado, os
próprios autores da pesquisa foram surpreendidos com o fato de que tanto homens,
quanto mulheres, consideram a vítima de violência sexual como a culpada por
agir ou se vestir de modo mais insinuante e consideram o ataque, inclusive,
como medida de correção de um possível comportamento vulgar. "Mais uma vez, tem-se um mecanismo de
controle do comportamento e do corpo das mulheres da maneira mais violenta que
possa existir", diz um trecho do estudo.
A pesquisa intitulada "Tolerância social à violência contra
as mulheres" ouviu 3.810 pessoas entre maio e junho do ano passado em
212 cidades. Do total de entrevistados, 66,5% são mulheres. Para a pesquisa, os
entrevistados foram convidados a responder afirmações pré-formuladas pelo
próprio Ipea, tendo que escolher algumas afirmativas. A boa notícia mostrada na
pesquisa – se é que podemos dizemos assim, é que 78,1% dos entrevistados
acreditam que o homem que bate em mulher deve ir para a cadeia.
Preconceito
É claro que culpar uma pesquisa pelo
preconceito em relação ao que a mulher veste a ponto de ser vítima de violência
sexual seria leviano. E acho que nem é esse o papel. O que vejo desta pesquisa
é o quanto que ele demostra um pedido de socorro social, no sentido de se criar
campanhas educativas sobre igualdade, tolerância e respeito, não só em relação às
mulheres, mas as diferenças de um modo geral.
Vivemos num país latino em que a
cultura machista ainda impera. O resultado desta pesquisa pode ser um reflexo
desta criação que vem de casa, do seio familiar, de uma mãe que repreende a
filha por ter amigos homens, mas que incentiva o filho mais velho a ter várias
namoradas. Por incrível que pareça, muitos pais ainda dividem a educação dos
filhos em “coisas de menino e coisas de menina”. E quando vamos criar filhos
para “coisas de cidadãos”?
Na individualidade de cada um, é
muito complicado estimular o desenvolvimento de uma pessoa baseado na divisão,
na segregação e na diferença. E olha que isso é feito muitas vezes de forma
subliminar e tão automática que para nós adultos pode soar como comportamento
normal, mas vem sim carregado de preconceito e discriminação.
E é por isso que, nas redes sociais,
mulheres e homens estão numa verdadeira campanha, seja em foto ou em posts,
sobre a importância de falar não ao preconceito, não a violência sexual, não ao
machismo e não a misoginia. A mulher tem que ser respeitada de shortinho, de calça,
de vestido ou de burca. É inviolável acreditar que a roupa pode ser um código
social para um estupro. É hora de colocar essa pesquisa em discussão familiar.
A sociedade pede socorro.
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Jornalista
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