Marcos Alvito revela detalhes do livro "Histórias do Samba"
março 02, 2014
O samba é um dos gêneros mais
populares do país e se transformou, ao longo dos anos, em identidade nacional.
Grandes músicos e compositores foram responsáveis por popularizar esse ritmo,
tais como Noel Rosa, João da Baiana, Cartola, Zeca Pagodinho e Arlindo Cruz. No
exterior, o samba é reconhecido e valorizado como símbolo brasileiro, assim
como o futebol e o carnaval.
Para contar tudo sobre a trajetória
desse estilo musical, a origem, as curiosidades e os personagens mais
marcantes, o escritor Marcos Alvito lançou o livro “Histórias do Samba – De João da Baiana a Zeca Pagodinho”, da
Matrix Editora. De maneira leve e bem-humorada, a obra tem como objetivo
traduzir para o papel o espírito do samba.
Segundo o autor, o livro é um
agradável passeio pelo universo do samba e contém boas surpresas. “O leitor vai conhecer um pouco da vida de
grandes nomes do gênero, por meio de histórias românticas, tristes e
engraçadas. Além disso, entre uma narrativa e outra, descobrirá como foram
compostas algumas letras consagradas e qual a origem dos instrumentos
utilizados pelos sambistas”, explica.
Para falar mais sobre as histórias do
samba e o processo de construção do livro, o Café com Notícias conversou com o doutor em antropologia pela Universidade
de São Paulo (USP) e professor do Departamento de História da Universidade
Federal Fluminense (UFF), Marcos Alvito, autor do livro "Histórias do Samba". Acompanhe:
1) Como surgiu a ideia de escrever o livro "Histórias
do Samba" e como foi o trabalho de pesquisa?
Sou professor e há muitos anos
trabalho com sambas em sala de aula, utilizados como fontes para a nossa
História. Mas o impulso de transformar as histórias em livro surgiu por causa
da paixão por uma cabrocha, que é também professora de Literatura. Eu fui
enviando uma história por dia, a gente ia conversando e acabamos namorando
(risos). Além de pesquisar músicas e livros, fiz breves trabalhos etnográficos
em rodas de samba, na Velha Guarda da Portela, fui à Bahia conhecer o samba de
roda, enfim, me diverti bastante e aprendi muito. Tento compartilhar isso com
os leitores de forma prazerosa.
2) No livro, você conta, entre outras coisas, sobre
curiosidades de alguns sambistas e das suas letras. Por que você escolheu este
caminho e, na sua avaliação, como isso ajuda o leitor a entender o contexto do
nascimento do samba?
Eu queria escrever um livro com o
espírito do samba, ao mesmo tempo leve mas sempre com algum ensinamento. Os
casos concretos, cheios de humor e picardia, também propiciam reflexões e
servem de janela para a história do samba. Fugi do debate acadêmico feito o
diabo da cruz (risos).
3) Das muitas histórias apresentadas no livro, qual mais
lhe marcou? Porque? Você tem algum samba e/ou compositor preferido?
Gosto de todas as histórias, recolhi
muitas mais e as que estão no livro é porque me agradam muito. Acho, todavia,
que a primeira história, sobre a morte de Noel Rosa, uma história breve e uma
das poucas tristes do livro, é muito especial. Porque nos momentos derradeiros
da sua vida Noel ainda procura um tampo de mesa para batucar um último samba,
que nós jamais saberemos qual era. É bonito demais.
O autor Marcos Alvito, autor do livro "Histórias do Samba". Foto: Arquivo Pessoal. |
4) E por falar em nascimento do samba, você acredita que o
brasileiro conhece pouco da história do samba? Se sim, como reverter este
quadro?
Às vezes, o estereótipo de sermos a
terra do samba e do futebol desobriga muita gente de ler um pouco. É uma
história muito bonita, de certa forma é uma história central na cultura
brasileira e merece ser conhecida. Esta e outras histórias só serão mais
conhecidas com uma necessária, urgente e profunda reforma do nosso sistema
educacional.
5) De que maneira o samba influenciou o Carnaval como
temos hoje? O fortalecimento dos blocos caricatos atualmente pode ser visto
como um resgaste da história do samba?
De início o mundo do samba e o mundo
das escolas de samba eram o mesmo. Os compositores do Estácio, que fundaram a
mítica Deixa Falar, também eram compositores gravados por Francisco Alves e
outros. Hoje em dia, com a profissionalização e hiper-comercialização do
carnaval, o mundo das escolas é totalmente diferente. Tem gente que não faz um
samba, nunca fez um samba na vida, mas entra numa parceria de 6 ou 7 para
gravar um samba enredo. Já o renascimento dos blocos é uma boa notícia e de
certa maneira um reflexo do cansaço com o carnaval oficial. Carnaval sem bom
humor, sem sátira, sem espontaneidade, é o anti-carnaval.
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Jornalista
1 comentários
Tive o prazer de ser aluno de Alvito na UFF e fazer a disciplina sobre a historia do Samba, sou fã desse cara ele conseguiu resgatar a historia como nenhum outro autor. Como um historiador de fato.
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