Greve dos ônibus de BH é temporariamente suspensa. E o usuário, como é que fica?

fevereiro 26, 2014



Durou dois dias a greve de ônibus de Belo Horizonte e região metropolitana. No segundo dia, em alguns bairros, houve o tráfego de apenas 30% da frota. Mas, mesmo assim, muitos passageiros enfrentaram ônibus lotados e uma demora acima do normal para que os ônibus passassem nos pontos. A expectativa é que pelo menos 430 mil usuários foram afetados.

No segundo dia da greve, o Café com Notícias ouviu relatos de usuários e de trabalhadores para tentar entender os motivos que levaram a greve e como o movimento atinge diretamente a vida do cidadão. À noite, no centro de BH, o retrato era de pontos de ônibus lotados e muita gente revoltada com o descaso do transporte público da capital mineira.

Às 19h35, a recepcionista Valéria dos Santos, de 39 anos, disse que estava no ponto de ônibus desde às 17h. Ela disse que estava esperando qualquer ônibus que fosse para a região de Venda Nova. “Até passou um, mas estava muito lotado. Não consegui entrar. O jeito é ficar esperando sem saber que hora vou chegar em casa”.

Já o cobrador de ônibus Thiago, que não quis dar o sobrenome com medo de ser identificado pela empresa que trabalha, disse que as empresas estão rodando mesmo com os 30% da lei, mas que isso afeta o quadro de horários, fazendo com que muitas linhas andem cheias mesmo. Sem uniforme, ele e o motorista me fazem um desabafo.

“Fora as reivindicações da categoria, muitos trabalhadores estão com medo de serem demitidos com a entrada do MOVE, o BRT. Algumas linhas vão ser extintas, outras irão se transformar em circular. Tem muita gente que vai ficar desempregada com esse negócio que ninguém ainda sabe como vai funcionar”, afirma Thiago.

Na noite desta terça-feira (25/02), após uma rodada de negociações entre representantes da categoria e do sindicato patronal, mediada pela juíza do Tribunal Regional do Trabalho (TRT), Wilmeia da Costa Benevides, foi apresentado uma lista de proposta que determinou suspensão da greve para que as negociações continuassem. As partes têm até o dia 07 de março para ver se concordam ou não com o que foi proposto.

No documento, a Juíza colocou medidas como o reajuste salarial linear de 7,25% para motoristas, cobradores e demais empregados, jornadas de seis horas e 20 minutos com uma hora de descanso, totalizando sete horas e 20 minutos à disposição, e retirada da punição disciplinar das cláusulas dos contratos entre empresas e trabalhadores. Às 16h desta quarta-feira (26/02), os rodoviários vão fazer uma assembleia para ver se os trabalhadores concordam com a proposta.

Mas, no meio de toda essa discussão sobre a greve dos rodoviários de BH, um lado da corda precisa e deve ser lembrado: o usuário do transporte coletivo. Nada mais justo e constitucional que uma categoria profissional reivindique melhores condições de trabalho. Mas, no caso da greve dos ônibus, não são apenas os patrões [donos das empresas de ônibus] que saem no prejuízo, mas sim toda a cidade.

Uma das premissas da mobilidade urbana é oferecer aos cidadãos alternativas para se locomover pela cidade. E, com a greve dos rodoviários, ficou claro que em Belo Horizonte não há alternativas. Infelizmente, o grosso do transporte público é direcionado aos ônibus, uma vez que o metrô não atende a todos os bairros ou regiões da cidade.

Com a greve, o metrô – que já anda cheio, ficou ainda mais sobrecarregado. Além disso, por causa da falta de ônibus muita gente resolveu tirar o carro da garagem, deixando as principais vias da cidade ainda mais congestionadas. Quem conseguiu uma carona foi trabalhar no primeiro dia de greve, já quem não conseguiu teve que ficar em casa, correndo o risco da empresa descontar do salário do trabalhador o dia perdido.

E a greve também trouxe prejuízos para a economia local. De acordo com a Câmara de Dirigentes Logistas (CDL-BH), o comércio varejista de Belo Horizonte sofreu prejuízos de R$ 38 milhões com os dois dias de greve dos rodoviários na capital e na Grande BH. Com tantos prejuízos que uma greve desse tipo pode causar, a pergunta que fica é a seguinte: quem vai pagar a conta? Provavelmente, nós – os usuários do transporte coletivo.





Fotos: Blog Meu Transporte / Reprodução.






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Wander Veroni
Jornalista

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2 comentários

  1. Alguns dizem que esse é o preço de um movimento de mudança nas relações trabalhistas que, se não houver um choque coletivo, as pessoas não se mobilizam para ajudar. É como se quisessem provocar um efeito dominó, parar a cidade, criar impacto e assim forçar uma solução que seja no minimo aceitável. Infelizmente, assim como já aconteceu em ocasiões recentes, o caos criado não pode ser controlado e isso gera efeitos marcantes tanto no cidadão que sai prejudicado por conta disso como no movimento da revindicação.
    Abraço
    ótimo post

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    Respostas
    1. Oi, Marcus! Confesso que tenho dúvidas em relação ao ato de fazer greve nos dias de hoje....se isso realmente traz benefícios e gera mobilização. Não sei qual seria alternativa, mas acredito que precisamos mudar várias relações de trabalho e, principalmente, dar ao cidadão opções de transporte público. Obrigado pelo comentário e elogio. Um forte abraço.

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