#FechadoComOTinga: Tinga, futebol e um basta contra o preconceito racial

fevereiro 13, 2014

Foto: Washington Alves / VIPCOMM.


O volante Paulo César Tinga, de 36 anos, jogador do Cruzeiro, foi alvo de ações racistas por parte da torcida peruana do Real Garcilaso, na noite desta quarta-feira (12/02). A partida, que marcou a derrota do Cruzeiro por 2 a 1, pela Copa Libertadores, será lembrada também pelo fato dos torcedores da casa imitaram sons de macacos a cada vez que o atleta pegava na bola.

"Joguei alguns anos na Europa onde se fala muito disso e nunca aconteceu o racismo. De repente, em um país tão próximo, tão parecido com a gente pela mistura (de raças), acontece uma coisa dessas. (...) Eu trocaria todos os meus títulos pelo fim do preconceito. Trocaria por um mundo com igualdade entre todas as raças e classes", disse Tinga em entrevista coletiva à imprensa, logo após o final da partida.

Segundo o diretor de futebol, Alexandre Mattos, o Cruzeiro entrará com uma representação na Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol) não só pelo episódio do racismo, mas também pela falta de água e estrutura encontrada no Peru. Via Twitter, a Conmebol taxou o episódio de lamentável, mas ainda não se pronunciou oficialmente, nem aplicou uma medida punitiva ao Real Garcilaso.



Torcedores e amantes do futebol revoltados com a discriminação sofrida pelo Tinga em campo, transformaram o atleta em protagonista de uma campanha nas redes sociais contra o preconceito. Durante todo o dia, a hashtag #FechadoComOTinga ficou entre os assuntos mais comentados – uma alusão a outra tag, o #FechadoComOCruzeiro.

E o mais interessante é que times rivais, empresas, órgãos públicos e, principalmente, os internautas, abraçaram de forma espontânea uma campanha bastante criativa e incisiva na web de promoção à igualdade racial. Como poucas vezes se viu no futebol, a rivalidade entre as torcidas foi deixada para trás para dar voz ao grito pelo fim do racismo.






Dentre deste contexto, o site Super Esportes, ligado ao jornal Estado de Minas, trouxe uma matéria que mostra que o episódio de racismo no Peru não foi algo inédito. É um hábito não só dos torcedores, mas da própria imprensa esportiva do país adjetivar os atletas afrodescendentes de “monos”, macacos em espanhol, principalmente quando há um jogo do Peru contra o Equador, país em que a maioria dos atletas são negros.

Chega a ser deprimente ver que ainda existe racismo no futebol e de uma maneira tão vexatória e retrógrada como no Peru. Não sejamos hipócritas de achar que o preconceito no restante do mundo acabou. Infelizmente, ele ainda existe. Mas, como bem lembrou o Tinga, é chocante ver um país vizinho e com as mesmas características de mistura étnica como o Brasil, ainda discriminar as pessoas por conta de cor de pele.

Ao ver o episódio do Tinga, me lembrei da história do futebol no Brasil, tão poeticamente bem retratada na novela Lado a Lado, vencedora do Emmy Internacional 2013. O folhetim mostrava que no início o futebol era um esporte apenas de homens brancos de família de classe média alta e que houve bastante dificuldade de aceitar atletas negros. E pensar que os jogadores de maior sucesso na história do futebol são negros...

Mas, mesmo que fosse amarelo ou vermelho, o preconceito já deveria ter partido dessa para melhor há mais de cem anos. Não deveria nem ter deixado herança. Está fora de moda! E, ao que parece, este episódio com o Tinga serviu para mostrar que o mundo mudou e já não aceita mais esse tipo de coisa. Xô, preconceito!





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Jornalista

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4 comentários

  1. Wander, esta discussão precisa ser mais profunda a meu ver. Aqui no Brasil não vemos essa de racismo, mas o preconceito é muito forte contra a mulher e contra homossexuais. Que tal se a população aproveitasse o ensejo e lançasse a campanha #Forapreconceitono futebol?

    Grande abraço, querido!
    Zilda de Assis
    www.proquegenteeassim.blogspot.com.br

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    1. Oi Zilda! Seria muito bom uma campanha contra o preconceito de um modo geral, mas creio que neste momento o tema do racismo é mais latente. O Brasil tem muitas coisas para melhorar na questão da igualdade, mas é contagiante ver que de forma espontânea os internautas criaram uma campanha contra o racismo forte e que uniu torcedores de outros times. Foi um avanço. Um forte abraço

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  2. Oi, Wander! Você sabe o quanto esse assunto mexe comigo, né!? Bom, eu não tinha visto a agressão a Tinga antes, vi apenas ontem à noite no Sportscenter da ESPN, confesso que chorei. Eu sei que o preconceito dói profundamente em quem é vítima dele, é complicado você ser distratado por causa da cor da sua pele, por mais que se fale, por mais que defendamos o Tinga a dor vai continuar lá. Eu chorei ao ouvir aquele estádio inteiro fazendo aqueles sons de macaco... Pôxa vida, o que nós somos? No que nos transformamos? Não parecemos mais humanos, parece que perdemos de vez a sensatez, o sentido de outro. Você e eu sabemos bem o que o Tinga deve ter sentindo, notadamente pelo fato de ter vivido tudo isso diante dos olhos inocentes do filho. Como dizer a ele que todos são iguais? Pensei que tivéssemos avançado mais no pós escravidão, mas minhas lágrimas revelam que não. A nossa luta só começou.

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    1. Oi Sil! Muito emocionante isso que você escreveu. O Tinga teve uma postura muito firme em campo em não se deixar abalar e ainda deu declarações ótimas à imprensa. Tenho certeza que a luta só está começando, mas este episódio com o Tinga serviu para mostrar uma força de mobilização de enfrentamento ao preconceito racial que até então eu nunca tinha visto. Fiquei mais esperançoso. Um forte abraço.

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