Amor à Vida chega ao fim com beijo gay masculino e mosaico de assuntos batidos

fevereiro 01, 2014

Foto: TV Globo / Divulgação.


A novela das 9, Amor à Vida, chegou ao fim nesta sexta-feira (31/01). Com 44 pontos de audiência e pico de 48 no último capítulo, o folhetim escrito por Walcyr Carrasco chamou a atenção mais pelo mosaico de assuntos batidos e carisma de seus atores, do que pelo conjunto da obra.

Amor à Vida teve de tudo. Um mexidão de assuntos que foi desde a homofobia, inveja entre irmãos, pais controladores, traição, autismo, lúpus, Aids, alcoolismo, obesidade, câncer de mama, etc. Foi uma novela ousada no sentido de colocar o preconceito para fora, mesmo que o debate desses assuntos soasse raso.

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Acredito que Amor à Vida não foi uma novela. Foram várias novelas dentro de uma. De tempo em tempo, Walcyr Carrasco mudava o rumo da história, privilegiava alguns núcleos e alterava o perfil de alguns personagens. No caso do Félix, a mudança mais significativa, permitiu algo inédito na teledramaturgia: a redenção do vilão e o primeiro beijo gay masculino.

Félix foi desmascarado no meio da novela. Foi expulso de casa, enxotado do seu núcleo familiar e, graças a Márcia – de Elizabeth Savalla, conseguiu entender o que é amor, além de ter uma nova chance de recomeçar a vida. Foi um reinicio importante que culminou até em final feliz com direito a um companheiro amoroso e uma nova família.
Foto: TV Globo / Divulgação.

Aliás, o último capítulo de Amor à Vida valeu pela emocionante cena de César (Antônio Fagundes) e Félix na praia, um perdoando o outro e se aceitando. César teve um final triste: entrevado numa cadeira de rodas, desiludido com o amor da mulher que ele mais amou na vida e vítima de uma vingança ardilosa.

No final das contas, Félix sempre amou o pai. E fez o que fez – mesmo que o caminho seja horrível e vil, em nome desse reconhecimento do pai, do amor que ele sempre quis ter. Creio que Walcyr Carrasco quis falar da importância do amor no núcleo familiar e o quanto isso interfere na vida das pessoas.

No futuro, quando nos lembrarmos de Amor à Vida, não conseguiremos traçar de imediato qual é fio condutor da história, mas lembraremos da naturalidade que o folhetim tratou a causa gay, em especial do vilão-mocinho Félix. Uma personagem que, sem dúvida, foi um divisor de águas na carreira de Mateus Solano.

Pela primeira vez na história da TV brasileira, a Rede Globo exibiu um beijo entre dois personagens masculinos, numa novela com um imenso alcance quanto é uma trama deste horário. Félix e Niko protagonizaram este beijo que foi uma síntese do amor entre os dois – algo que desencadeou uma torcida inédita do público por esse beijo.
Foto: TV Globo / Reprodução.

Foi um momento histórico. Uma virada de página importante. É o novo dia de um novo tempo que começou. Outros autores globais tentaram, mas não conseguiram emplacar o beijo entre iguais nas suas novelas. Ponto para o Walcyr Carrasco que escreveu de acordo com o termômetro do público.

Na reta final, o telespectador torcia pelo beijo gay, e não pelo casal protagonista água de salsicha, Paloma e Bruno, que renovaram os votos de casamento (sem necessidade, diga-se de passagem) e ganharam um novo filho.

O verdadeiro casal protagonista de Amor à Vida foram Félix e Niko que, aliás, roubaram a novela para si. O beijo entre os dois despertou torcida e promoveu debates nas famílias ou nos círculos de amigos que até então eram visto como preconceito ou tabu. Os gays querem (e podem) constituir uma família e tem D.R. como qualquer outro casal. É um passo importante de quebra de paradigma.

Destaques

Mesmo devendo em muitos pontos, Amor à Vida foi uma novela de grandes interpretações. Atores, como Fagundes, Vanessa Giácomo, Bruna Linzmeyer, Danielle Winits e Tatá Werneck tiveram bons momentos e também vão ser lembrados com carinho pelo público.

Quando provocado, Walcyr construiu bons momentos na novela, mesmo utilizando todos os recursos de um bom dramalhão mexicano. Em muitos momentos, o texto não ajudava na questão de passar verossimilhança. Era uma viagem.
Fotos: TV Globo / Divulgação.

O texto da novela também não ajudou em boa parte da trama. O didatismo exagerado ou o excesso de lirismo em algumas abordagens dentro de uma história realista incomodou os críticos, mas deixou a novela na liderança.

Prova disso é que ela foi esticada por conta do sucesso de seus personagens e da capacidade de Walcyr Carrasco de se reinventar durante o tempo que ficou no ar. No mais, Amor à Vida foi uma novela que passou a mensagem do amor, do perdão, de aceitar o diferente e as diferenças. Algo essencial para a vida.





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Jornalista

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2 comentários

  1. Wander concordo em tudo. Mas foi muito nítido para mim que sou homossexual e exigente, esse beijo deixou a desejar em dois aspectos. Primeiro, porque foi fora do tempo. Primeiro a emissora teve que ouvir a decepção do público sob re a falta do beijo no momento em que eles se declaram. Ali sim, deveria ser o primeiro beijo. Segundo, porque duas pessoas que se amam, gays ou não, não trocam beijos apaixonados com a boca fechada, né? Mesmo assim, concordo que foi um marco para a TV brasileira. Nossa sociedade ainda é extremamente machista e preconceituosa. Valeu, pela construção do momento.

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    1. Oi Zilda! Obrigado pelo comentário. É o que você disse mesmo: valeu pela construção do momento (do que pelo conjunto da obra...rs). Creio que foi uma quebra de paradigma importante na nossa teledramaturgia - em especial da Globo. Isso também mostra um amadurecimento do público em relação a homoafetividade. Vi no Twitter uma frase interessante: "ainda vamos chegar no dia que beijo gay na TV vai ser apenas beijo". E ontem, pelo menos, a primeira página para que isso aconteça foi escrita. Um forte abraço.

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