Félix é expulso do armário em meio à trama pastelão de Amor à Vida
agosto 03, 2013
Esta semana, a novela das nove da
Rede Globo #AmoràVida bateu o seu próprio
recorde desde a estreia. Chegou a incrível marca de 39 pontos, segundo o Ibope.
O motivo: o personagem Félix, de Mateus Solano, foi “expulso do armário” pela esposa
Edith, de Bárbara Paz. #polêmico
A cena que tinha tudo para ser o arco dramático da história, onde o
vilão que reprime a sua sexualidade desde o primeiro capítulo tem a
oportunidade de mostrar os motivos que o levaram a ser assim, não passou de
uma cena pastelão com direito a muita gritaria e lágrimas de jacaré. Uma pena.
Veja também:
Quando Edith revelou que Félix era
gay na mesa com a família toda reunida, parecia que ser homossexual fosse algo
muito ruim, como um crime ou uma doença – coisa que não é, apesar do
preconceito que ainda insiste em permanecer na nossa sociedade.
Claro, o debate sobre aceitação da própria
sexualidade e da orientação sexual é sempre muito relevante. Ou melhor,
essencial nos dias atuais. Ajuda a colocar o tema no debate familiar e, quem
sabe, diminuir o preconceito. Até aí, ponto para a ousadia do autor.
Porém, já não é de hoje que em
algumas cenas da novela é notada uma escorregada no texto de Walcyr Carrasco. Tudo tem que ser
explicado, declamado e feito de um jeito bem pastelão. Se num passado não tão
distante, os jornalistas e blogueiros criticavam Tiago Santiago e Glória
Perez pelo excesso de didatismo, Carrasco tem ido pelo mesmo caminho e perdido
a mão totalmente na construção dos diálogos.
Autor experiente, chega ser curioso o
motivo que está levando Walcyr Carrasco a ser tão didático no texto da novela. Será
que é medo do grande público não entenda a história? O tom professoral
incomoda. Parece que a todo momento o autor quer passar um recado, e não contar
uma história.
A cena em que Paloma (Paola Oliveira)
explica para Jonathan (Thales Cabral) que homossexualidade não é doença – pode até
parecer necessária, mas poderia ter sido feita de uma maneira mais natural, e
não como uma aula.
Aliás, falta naturalidade em #AmoràVida. Até mesmo o alívio cômico
da novela – Tatá Werneck e Fabiana Carla, parecem fazer esquetes constantes do Zorra Total. As personagens estão
presas na mesma dinâmica: uma procura um rico para dar o golpe da barriga e a
outra quer perder a virgindade. Não evoluem. Elas são engraçadas, talentosas,
mas correm o risco de ficar no mais do mesmo.
Vamos parar para pensar: Félix sempre
deu pinta. Se esse casamento durou, foi graças a Edith que insistiu porque o
primogênito do doutor César Khoury nunca negou a sua preferência pelo Anjinho e
outros rapazes que passaram pela história, como o próprio Doutor Jacques (Júlio
Rocha).
A revelação que Félix é gay é mais
uma jornada de aceitação pessoal do que uma descoberta para o restante do
elenco. Até outros personagens já brincaram com isso. A impressão que ficou é que
o autor não conseguiu conduzir essa parte da história que leva à humanização de
Félix.
Fico pensando que, às vezes, o excesso
de didatismo em #AmoràVida pode
estar ligado ao grupo atual de colaboradores de Walcyr. Vendo as chamadas de O Cravo e a Rosa e assistindo as
reprises de Alma Gêmea e Chocolate com Pimenta – e porque não dizer
de Xica da Silva, na finada
Manchete, dá para sentir a diferença gritante no texto, na construção dos
diálogos.
Walcyr Carrasco está precisando de um
supervisor de texto. E isso não é
demérito para nenhum autor. Escrever novela é uma atividade estressante. O que
pode estar bem resolvido na cabeça dele, nem sempre pode ficar claro no papel,
no texto dos atores.
Para se ter uma ideia, até Iris
Abravanel optou por supervisão de texto em #Chiquititas, no SBT. E olha que ela é esposa do dono e podia muito bem
ter se recusado a ter esse tipo de ajuda. Foi um amadurecimento e tanto.
Desde que foi colocado a supervisão
de Rita Valente no remake da novela argentina escrita originalmente por Cris Morena, é possível ver o quanto texto final de Iris melhorou em
relação à #Carrossel.
Quanto mais
natural a história da novela, mais o público se identifica. E está faltando
supervisão no texto final de Walcyr Carrasco. O que salva em #AmoràVida é o fato de ter bons personagens e
elenco. Só falta acertar o prumo.
Fotos: Rede Globo / Divulgação.
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Jornalista
4 comentários
Tem dia que eu perco a paciência com o texto dessa novela...é muito tati bitati. Se fosse a Glória Perez o povo já tinha detonado...assisto de vez em quando só para rir mesmo...não levo a história a sério. é muita viagem...
ResponderExcluirEntendo o seu ponto de vista como crítico e jornalista. Mas prefiro elogiar o Walcyr Carrasco pela ousadia de levar um tema como esse em discussão no horário nobre. Certeza que depois disso, muita família vai poder falar sobre orientação sexual sem precisar dar voltas.
ResponderExcluirParabéns pelo excelente texto meu amigo, Wander! Concordo com cada palavra. Pra mim, Amor a vida soa mto falso. Não é uma história que te prende. E é uma pena ver bons atores sendo mal aproveitados...desisti de amor a vida, saramandaia e dona xepa. Sangue bom não assisto. A única que vejo e gosto mto, é a novela das seis. Parabéns mais uma vez! Um grande abraço, Angelo.
ResponderExcluirD=á vergonha assistir essa novela, mais ainda porque o autor escreve feito criança e se acha tanto que fica bravo quando os atores mudam alguma coisinha rs
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