Café Convidado – Rolezinhos ampliam a discussão sobre cidadania e inclusão social
janeiro 29, 2014![]() |
Foto: Site Gazzeta / Reprodução. |
Na seção Café Convidado desta semana, o advogado e membro da Comissão de
Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil de Minas Gerais (OAB-MG), Wagner
Dias Ferreira, vai falar sobre os rolezinhos.
No texto, ele faz uma contextualização dos direitos adquiridos pelo povo
brasileiro – desde a Constituição Federal, na metade da década de 1980, que
estabeleceu a democracia no Brasil, à polêmica dos rolezinhos – que culminou na proibição de jovens da periferia de
frequentar shoppings center de classe média alta sob o pretexto de evitar
tumultos e arrastões. Abaixo, confira o texto:
Revoluções, Constituição e Rolezinhos
*Por Wagner Dias Ferreira
O
povo brasileiro está, gradativamente, aprendendo a tomar posse do Brasil e a
cada passo, espontaneamente, vem construindo um sentimento de nação. Em 1986,
elegeu uma eclética Assembleia Nacional Constituinte. Sem abdicar da
participação na elaboração direta do texto Constitucional com propostas
populares, onde se colhiam assinaturas em praça pública.
Em
1992, sob a égide da novíssima Carta Magna, promoveram uma dramática expulsão
do então presidente Fernando Collor do posto mais importante da nação. Aqui, a
ênfase está na mobilização social que ocorreu no evento, com forte ocupação de
espaços públicos.
Com
o Plano Real, o país parou de descer economicamente e, mesmo vivendo a prisão
dos juros altíssimos, viu-se um certo grau de estabilização. E permitiu o
crescimento, com aumento no grau de liberdades individuais e fortalecimento no
exercício da cidadania pelos indivíduos.
Neste
contexto, foi criado o discurso na nova classe média. Pessoas que antes viviam
na linha da pobreza ou abaixo dela foram alçadas à condição de consumidores,
com acesso ao crédito, a benefícios governamentais e, portanto, com presença em
toda ambientação social.
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Foto: Jornal Correio Popular / Reprodução. |
A
emergência com força cidadã destes segmentos sociais, outrora excluídos, fez
emergir na sociedade brasileira uma presença perversa. Segmentos
preconceituosos e discriminatórios emergiram com suas práticas agora
confrontadas com aqueles que antes também passavam despercebidos, já que as
vítimas do preconceito e da discriminação eram segmentos enfraquecidos, sem
empoderamento que permitisse o exercício da cidadania.
Desta
forma, pode-se observar o aparecimento de pessoas expressando comportamentos
fascistas, de discriminação racial e homofóbica, sexista, de agressão a
mulheres em ambiente domiciliar, pelas múltiplas notícias que vão surgindo com
as denúncias e ações policiais e do Ministério Público contra estes
comportamentos.
O
Brasil está mudando, de um país miscigenado e sem racismo, porque os segmentos
vitimizados que eram suprimidos da cidadania mínima, para um país que é
obrigado a cada dia a admitir a presença do preconceito e da discriminação, já
que agora as vítimas falam, denunciam e encontram espaços para o enfrentamento
dessas práticas.
Neste
contexto, o “rolezinho” é só mais um breve fenômeno que mostra, por um lado,
uma sociedade que ainda não assimilou as mudanças que vão progredindo com a
ampliação do “abraço da cidadania inclusiva” que opera como “coração de mãe”
totalmente inclusivo e participativo e, portanto, mostra resistência à chegada
destes novos cidadãos e de outro lado um movimento sem volta de pessoas que
precisam e querem ocupar espaços de cidadania. Negar espaços a estas pessoas é
obrigá-las a uma revolução, como foi a revolução francesa que teve muitas
revoltas apenas por pão.
Quando
um shopping pede uma liminar a um juiz, que a concede, delimitando a presença
dentro daquele espaço, tudo isso é mera expressão de preconceito elitista do
shopping e seus lojistas e do juiz. No entanto, estes jovens que agora são
cidadãos, filhos de pais que experimentaram a vida abaixo da linha da pobreza,
mas que eles mesmos novos jovens cidadãos, bem conhecedores do Estatuto da Criança
e do Adolescente não irão abrir mão de seu direito à ocupação deste espaço.
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Foto: Luiz Claudio Barbosa / Futura Press / Reprodução. |
Veja
que a concessão de espaços públicos brasileiros para a realização de um evento
privado - a Copa das Confederações - gerou uma gama de violência que jamais se
havia imaginado no país. Cercear os “rolezinhos”, além de violar a
Constituição, que veta qualquer tipo de discriminação, impõe aos jovens que
desejam simplesmente o direito de ocupar espaços dos quais seus pais foram
excluídos, a realização de revolução, quiçá revolução violenta.
Por
isso, as teorias humanitárias inclusivas e de ampliação da cidadania e promoção
dos Direitos Humanos em toda sua magnitude, ou seja, civis, sociais, políticos,
econômicos, culturais e de lazer, sempre valorizando as liberdades, são as
únicas que podem resolver este novo evento social sem violência e grandes
conflitos.
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Jornalista
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