#CaféEntrevista: Flávya Pereira fala sobre a estreia do Repórter Agro
dezembro 09, 2013A jornalista Flávya Pereira lança blog jornalístico voltado para o agronegócios. Foto: Arquivo Pessoal. |
A partir desta segunda-feira (09/12), o internauta que quer saber tudo o que acontece no setor de agronegócios em Minas Gerais, no Brasil e no mundo
terá um mais novo veículo: trata-se da estreia do blog Repórter Agro, criado e
produzido pela jornalista mineira, Flávya Pereira. Clique aqui para ler mais sobre este projeto.
Depois de trabalhar em um programa de TV dedicado a este tema,
Flávya resolveu criar o seu próprio veículo na web, onde poderá não só noticiar
as principais notícias do dia sobre agronegócios, como também poderá fazer
análises, entrevistas e mostrar para o público o quanto que as coisas que
acontecem no campo interferem diretamente no bolso do consumidor. Acompanhe a entrevista:
1) Como surgiu a ideia de criar um
blog voltado para o agronegócios e como foi o processo de construção deste
projeto? Demorou muito para sair do papel?
Trabalhei como repórter e produtora em um programa de TV voltado
ao agronegócio por mais de dois anos. Pouco tempo depois de começar o trabalho,
pensei em criar um blog para contar os bastidores das matérias. Mas ficou só na
cabeça porque eu viajava muito, o volume de trabalho era grande e seria difícil
escrever com frequência.
No início deste ano, um amigo me incentivou a criar um blog
jornalístico sobre o assunto, mas de forma aprofundada e profissional. E a
ideia foi amadurecendo na cabeça, mas eu nunca tinha tempo para sentar e
formatar o blog, pensar nas pautas, em como dar início.
Alimentei a vontade também em função do número expressivo de
acessos que tenho no canal do YouTube com todas as reportagens que fiz para o
programa. Daí, este amigo me presenteou com a arte do blog, aí não teve como
adiar mais. Mesmo assim, levou quatro meses para sair do papel. Aproveitei que
saí do programa e fui colocar o blog no ar.
Agora me dedico a ele e as oportunidades que aparecerão em torno dele.
2) O tema agronegócios é muito amplo.
Como você pensa em trabalhar as pautas e estruturar o blog?
Pois é. Dentro do tema, há vários subtemas e preciso trabalhá-los
com o seguinte foco: Minas Gerais. Até porque sempre cobri o agronegócio
mineiro. Então fica mais fácil pautar, analisar, informar, saber o público e
quais são os assuntos do momento.
Dentro disso, quero focar também os períodos de plantio e colheita
dos principais produtos agrícolas em Minas. O produtor precisa saber sobre a
safra e o leitor que não é produtor, mas é consumidor, saber de que forma os períodos
(estiagem, colheita, preparação da lavoura) interferem nos preços dos produtos
já nos supermercados.
Outro ponto é avaliar as notícias do agronegócio brasileiro e
trazê-las para Minas. Por exemplo: uma praga está atacando as lavouras de soja
no Mato Grosso. É notícia para os produtores de Minas porque esta praga pode
surgir nas lavouras daqui também.
E o meu outro foco é o agronegócio na América Latina. O Brasil
está muito ligado aos países do continente. Compramos muitos produtos da
Argentina, exportamos para países vizinhos, o café cultivado na Colômbia é
concorrente do brasileiro e somos referência no assunto para as demais nações.
Quero levar informação a este público também.
Foto: Arquivo Pessoal. |
3) Minas Gerais é um estado com uma
vocação muito latente para o agronegócios, porém a mídia tradicional dá pouco
espaço ao tema. Porque isso acontece?
Bem, um dos pontos é Belo Horizonte. Os jornais impressos da
capital dão pouca importância ao assunto. Dois tratam com frequência e outros
dois falam de vez em quando, mas dentro da economia, de forma geral, eu diria.
As revistas locais praticamente não falam do assunto. Rádios não
dão uma nota. Só quando tem evento sobre o tema na capital. E as TVs também não
fazem matéria sobre o assunto. Isso é péssimo. Porque os jornais, revistas,
rádios e TVs locais falam do assunto nas cidades agrícolas. E quem mora na
capital fica sem saber como é o agronegócio no estado.
Vale lembrar que a maioria dos alimentos que chegam à nossa mesa vêm
do campo. O que acontece no campo interfere diretamente na quantidade e no
preço do produto no mercado. Interesse da parte do consumidor tem. Não tem é
das mídias tradicionais em trazer o assunto para Belo Horizonte. Fica retido
nas cidades dos polos agrícolas como Uberaba, Varginha, Juiz de Fora, por exemplo.
4) Trabalhar com uma editoria tão
específica exige que o jornalista se qualifique. Na sua avaliação, está
faltando mais segmentação no jornalismo?
Está sim. Para falar de agronegócio é importante acompanhar,
pesquisar e entender economia e assuntos como bolsa de valores, cotação do
dólar, taxa de câmbio e outros até mais complexos. Daí, partimos para os
assuntos do agro. Estudar conceitos, entender questões técnicas e interpretar
alguns cenários são fundamentais para cobrir o tema.
E falta sim segmentação. Não concordo com aquela frase:
“jornalista tem que saber tudo”. Não é por aí. Somos jornalistas e acabamos
trabalhando em setores diferentes, veículos diferentes e naturalmente, tomamos
conhecimento de assuntos diversos. Ótimo! Mas prezo pela especialização.
Quando você é especializado em algum assunto você fala, analisa e
escreve sobre ele com conhecimento e segurança. Hoje temos muitos jornalistas
que falam sobre assuntos específicos sem ao menos pesquisar e muito menos
entender sobre. Vejo que acontece muito isso no futebol. É mais achismo do que
certeza, do que análise.
Acompanhar partidas de futebol e anotar números é diferente de
aprofundar, pesquisar sobre o tema e a história. Por isso concordo que o
jornalista precisa definir a área que mais tem afinidade, experiência e, de
preferência, se especializar nela. Até academicamente, inclusive.
5) A sua formação como jornalista é
basicamente de TV. Como você pensa que vai ser este processo de transição
profissional para a internet?
Está sendo um desafio, mas muito gostoso. Ser usuária de internet,
usar bastante as redes sociais é muito diferente de ser um profissional da
internet. Ser blogueiro não é apenas criar uma conta num blog, escolher o nome
e postar textos. Vai muito além.
A primeira transição é textual. O texto de TV é um. O da internet
é outro. O público também é diferente. Ainda é preciso pensar na forma de
divulgação, as estratégias de marketing, forma e horário de postagem conforme o
tráfego na internet. O formato do conteúdo, que tipo de imagem usar, e por aí
vai. Até a parte comercial deve ser pensada. E tudo isso é novo para mim,
principalmente, o marketing e as estratégias.
Plantação de café na Fazenda de São Sebastião do Anta, em Minas Gerais. Foto: Ronan de Morais Araújo / Panoramio / Reprodução. |
6) Muitos jornalistas tem lançado
projetos empreendedores na web como uma alternativa de mercado. Na sua opinião,
é um caminho sem volta?
É sim e apoio muito esses profissionais que estão se tornando
empreendedores. No Brasil, infelizmente, o empreendedorismo não é incentivado
durante a nossa formação acadêmica. Tirando os estudantes de administração,
quase nenhum curso incentiva o aluno a ter o seu próprio negócio.
Na comunicação não é diferente. E o jornalismo tradicional está
definhando. A mídia tradicional não é mais a mesma há anos e os profissionais
precisaram [e estão precisando] se virar com as demissões em massa, com a falta
de oportunidade de trabalho formal, com a falta de vagas. Um caminho foi o
empreendedorismo na web.
Sabemos o alcance que a internet tem e que o investimento
financeiro é bem menor do que o que se investe em um jornal, em uma revista, em
uma TV, em uma assessoria de imprensa, por exemplo. Acredito que o número de
profissionais da comunicação empreendendo na web só tende a aumentar. E
acredito que sempre terá espaço para os bons profissionais.
7) O que o internauta pode esperar do
Repórter Agro? Há preocupação de traduzir o agronegócio para o dia-dia do
internauta?
Uma das propostas do Repórter Agro é trabalhar com
conteúdo autoral. Posso noticiar o mesmo assunto que qualquer outro veículo,
por exemplo. Mas será autoral. Darei a notícia com as minhas palavras e de
preferência, se eu souber, quero comentar sobre o assunto.
Vou correr de todas as formas de apenas reproduzir material.
Quanto mais conteúdo exclusivo eu produzir melhor para mim, para o leitor e
para o blog. O internauta pode esperar também por entrevistas de profissionais
e especialistas do setor. Estou apostando nelas porque quero tocar em pontos
que o internauta interessado no assunto deseja saber.
Traduzir o agro é outro entre os desafios. Eu não quero apenas
falar que o preço da saca de café está a R$ 250 e que o setor está em crise.
Quero humanizar isso. Como? Mostrando como o produtor rural está sendo
prejudicado com a saca neste preço. Como a economia de uma cidade vai de mal a
pior por causa desta crise. Como isso interfere na economia do estado.
É uma das minhas preocupações e farei de tudo para falar do
agronegócio de uma forma simples, e sempre explicando o que significa os
termos, as expressões. Isso ajuda muito na compreensão do assunto.
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Jornalista
3 comentários
Wander, querido amigo, só tenho a agradecer por toda força, apoio e paciência comigo e com o projeto. Adorei ser entrevista pelo "Café" e contar para os leitores e amigos um pouco do que é o "Repórter Agro". Obrigada por tudo de coração e viva o empreendedorismo na internet tão cultuado por você!!! :)))
ResponderExcluirOi Flávya! Eu que agradeço pela entrevista e por todos estes anos de apoio ao Café com Notícias. Amiga querida, torço muito pelo seu sucesso. Com toda certeza, você vai colher muitos bons frutos com o Repórter Agro. O projeto é pioneiro. Beijos
ResponderExcluirSegmentação e qualificação.
ResponderExcluirA mídia hoje está cheia de noticias genéricas, de massa.
Penso que o futuro da comunicação está voltado para o digital, para o seguimento, e para o especializado.
Acho que o papel da mídia deixa ser o de simplesmente reportar a noticia, e passa a ser o papel de investigar, debater e construir um dialogo entre os fatos apresentados e a vida de quem recebe esta noticia.
Parabéns à Flávya (e também ao Wander) que já perceberam isso!