Café Convidado – Aplicativo Lulu pode esconder uma baixa autoestima
dezembro 02, 2013
Na seção Café Convidado desta semana, a psicóloga Gisele Meter faz uma
reflexão sobre o aplicativo mais hype
do momento, o Lulu. De forma
anônima, o gadjet permite que mulheres deem nota e façam comentários sobre os
homens que possuam perfil no Facebook,
inclusive sobre aspectos pessoais como desempenho sexual, caráter e
relacionamento. Para a especialista, esta simples brincadeira pode estar
escondida uma baixa autoestima. Abaixo,
confira o texto:
Por que aplicativos como o “Lulu”
fazem tanto sucesso?
Gisele Meter*
Interagir
com o aplicativo mais baixado nos últimos dias, não é difícil. Com um design
intuitivo e feminino, chama a atenção logo de cara. Ao entrar no programa a
maior preocupação é deixar claro às usuárias que o anonimato é a prioridade
máxima, deixando assim as mais temerosas a vontade para “opinar”.
Logo
em seguida, o programinha induz as novatas a fazerem suas primeiras avaliações,
com frases do tipo: “Fulano ainda não foi avaliado. Faça um favor a ele e
comece com isso! (Fica tranquila, ele nunca vai saber que foi você)”.
Desta
forma, as mais recentes julgadoras da aparência alheia, têm a oportunidade de
avaliar qualquer pessoa do sexo oposto que esteja em sua rede social, tagueando
o pobre individuo com comentários dignos de programas apelativos que vemos por
aí, tudo envolto sob o véu do lúdico inofensivo.
O
fato é que o Lulu expõe mais do que
simples comentários, e agora não estou falando dos pobres avaliados, me refiro
à fragilidade psicológica das avaliadoras, algo que cresce a cada dia, à medida
que a opinião social torna-se baliza do comportamento.
O
que fica claro já no primeiro instante é a necessidade de anonimato, ou seja, “se ninguém descobrir quem sou, posso fazer
o que quiser”, e nisto o programa deu um tiro certeiro nas cabecinhas mais
vulneráveis, pois reforça várias vezes que a avaliadora jamais será descoberta.
Quando
nos escondemos sob o escudo do anonimato, podemos revelar o lado mais sombrio
de nossa personalidade deixando-se dominar por sentimentos de raiva, vingança e
até mesmo a cobiça, lembrando que homens comprometidos também podem ser avaliados.
O
anonimato traz consigo a falta de compromisso e responsabilidade, premissas
fundamentais para um comportamento ético e consciente.
A
segunda questão trata-se de uma indução ao julgamento através do reforço da
autoestima, que na verdade não passa de inflagem do ego. Mulheres com a
autoestima rebaixada sentem-se verdadeiras donas de si ao dar sua nota no Lulu.
A
explicação vem em seguida: entre fotos masculinas, frases do tipo “Porque quando você está querendo, não pode
ser mais ou menos!” ou “porque
figurinha repetida não completa álbum” ludibriam as mentes menos
favorecidas intelectualmente a uma falsa segurança de si, levando-as a
acreditar que têm realmente o direito ao julgamento.
Talvez
este, seja o ponto mais importante desta discussão. Arrisco a dizer que todo este
"frisson" acerca do
aplicativo está muito ligado à baixa autoestima das mulheres que para se
protegerem julgam, avaliam e opinam sobre o outro, na tentativa de ter uma
afirmação de si mesmas.
O
terceiro ponto refere-se a um comportamento observado de longa data, mas que
vem se destacando a cada dia devido a nossa interação tecnológica: o de fazer o
que os outros fazem para garantir aceitação. “Estar no Lulu é legal,
porque assim eu me sinto pertencente a um grupo de mulheres bem resolvidas que
vieram para se vingar dos anos de crivo masculino”.
Balela!
Além da baixa autoestima, do sentimento de frustração e do medo da exclusão
social, mulheres se submetem a julgar os outros e assim inconscientemente
subjugam a si próprias a uma coerção social descabida, docemente representada
por um pequeno ícone com tons de rosa choque.
Definitivamente,
não consigo prever onde tudo isso pode acabar, na melhor das hipóteses
visualizo pessoas com a autoestima ainda mais rebaixada e alguns
relacionamentos terminados.
Especula-se
que a versão masculina do aplicativo – o Tubby, será divulgada na próxima quarta-feira (04/12)
e causará novos agitos, arrebatando novamente uma multidão de anencéfalos,
travestidos de pessoas descoladas.
Acredito
que homens e mulheres podem e devem conviver harmoniosamente, perpetuar a
diferença de gênero não nos levará a lugar algum. Somente a partir da visão de
equidade é que construiremos uma sociedade justa, ética e digna para qualquer
ser humano.
_____________________________
*Perfil: Gisele Meter é psicóloga (CRP
08/18389), empresária, diretora executiva de Recursos Humanos, palestrante,
consultora estratégica em gestão de pessoas e gestão de mudança organizacional.
Colunista de portais e sites voltados ao público feminino e de Administração,
ela também é a idealizadora do método Life® - Liderança Feminina Estratégica
para o desenvolvimento de líderes nas empresas.
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Jornalista
1 comentários
Muito bom o post! E muito bom o blog!
ResponderExcluirAbraços :-)