O poder educativo da prisão dos condenados do Mensalão

novembro 16, 2013

Em agosto de 2012, o vigilante Uziel dos Santos, 36 anos, protesta do lado de fora
do STF por justiça no julgamento do mensalão. Foto: Antônio Cruz /ABr.

Não poderia ter uma data mais significativa. Dia 15 de novembro, Dia da Proclamação da República. E foi neste feriado que o brasileiro comemorou não só a independência do seu país, mais um fato histórico: 12 mandatos de prisão foram expedidos para os envolvidos no Mensalão, um ano depois da condenação do Supremo Tribunal Federal (STF).

Em São Paulo, se apresentaram à Polícia Federal (PF), na noite desta sexta-feira (15/11), José Genoíno (ex-deputado federal e ex-presidente do PT) e José Dirceu (ex-ministro da Casa Civil do Governo Lula). Já em Belo Horizonte se entregaram Marcos Valério, Ramon Hollerbach, Simone Vasconcelos, Cristiano Paz, Romeu Queiroz, Kátia Rabello e José Roberto Salgado.

O único que não se apresentou foi o ex-diretor do Banco do Brasil, Henrique Pizzolato, que fugiu do Brasil para a Itália e anunciou, neste sábado (16/11), que pedirá novo julgamento, agora por um tribunal italiano. Segundo a PF, Pizzolato viajou de forma clandestina, uma vez que o passaporte dele estava confiscado devido o processo do Mensalão.

Mais do que prender ou condenar, o presidente do STF, Joaquim Barbosa, mostrou que tem culhões ao expedir as ordens de prisão e, acima de tudo, que possui sensibilidade jurídica suficiente para entender que as pessoas nas ruas queriam que os mensaleiros pagassem pelos crimes que cometeram. Algo mais do que justo, diga-se de passagem, para um processo em si se arrastou por sete anos.

Ver os envolvidos com o mensalão se apresentando a polícia tem também um teor educativo e inédito em se tratando de Justiça brasileira. Talvez, o maior ganho social do brasileiro seja este mesmo: político envolvido com corrupção indo preso durante um feriado. Particularmente, nunca vi isso na minha vida. É algo histórico nesse sentido. É preciso comemorar. Vamos soltar fogos de artifício também?
José Dirceu, José Genoíno, Joaquim Barbosa e Lula.
Será mesmo que o ex-presidente não sabia de nada? Fotos: Divulgação.

Deboches à parte, na realidade, mais do que prender os mensaleiros, é preciso devolver esse dinheiro aos cofres públicos. Isto sim seria a Justiça na sua forma mais plena e honrosa. 

Pessoas ou grupo políticos que usam o dinheiro público como moedas de troca para promover tráfico de influências, permanência no poder e, consequentemente, aumento financeiro do patrimônio particular, praticam crime hediondo. Isto é repugnante e antiético.

Imagina quantas pessoas morreram ou não tiveram acesso aos bens públicos por conta deste tipo de ação? Não sejamos ingênuos. A prisão dos mensaleiros não põe fim a corrupção, mas intimida. 

Infelizmente, o mensalão nas suas mais variadas formas, continua existindo no nosso modelo político onde agências de publicidade, empreiteiras, empresas de transportes, fundações, ONGs, etc., ganham licitações por baixo dos panos por terem financiado campanhas de políticos.

Claro que neste caso específico de mensalão do Partido dos Trabalhadores tenho as minhas dúvidas se todos os envolvidos foram indiciados e/ou presos. Mas já foi um começo. Pode ser que eles nem fiquem tanto tempo na cadeia, mas já é um início para o enfrentamento da corrupção no nosso país.







Ah, e não podemos nos esquecer que este caso específico do mensalão aconteceu no Governo Lula, do PT. Um partido que somado os dois mandatos de Lula e o atual de Dilma Rousseff que está ainda vigor, tem quase 12 anos de gestão pública. Por isso, chega ser incoerente a tentativa do próprio partido tratar as prisões do mensalão como uma questão de retaliação política, quando na verdade não é.

Para o PT, uma postura mais ética e condizente com a sua própria história, seria a de banimento dos envolvidos e de repúdio a esse tipo de atitude. Com petistas de raiz, é até capaz de se extrair este tipo de declaração em off, numa prova de que o partido está mais do que rachado e que existe um grupo que defende um governo mais transparente e outro que topa o vale tudo no poder. Tudo mesmo.

E não se engane que o PT é a única laranja podre do cesto. Quem aí se esqueceu do mensalão tucano ou dos partidos de aluguel que fazem de um tudo por migalhas na gestão pública? O nosso modelo político está podre. Damos muito poder aos políticos. Precisamos participar mais da vida pública e acredito que um pouco do coro das manifestações de junho tem esse viés.

Mas isso ainda é muito distante, porque o povo ainda não se envolve como deveria ou como gostaria. Por isso enfatizo o quanto estamos vivendo em um momento de revolução, de transformação. É capaz de só vermos de fato uma mudança significativa na nossa política daqui a 50 anos ou mais. 

A prisão dos mensaleiros neste final de semana foi só um início do muito que ainda temos que lutar para de fato termos uma democracia plena e participativa. O Gigante voltou a ter esperança. Se acordou ou não, só o tempo dirá.





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Jornalista

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